Novos Voos - Take Two

segunda-feira, maio 31, 2004
Outros Verões


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Aquele Verão, aqueles Verões escapavam-se pelos dedos mais rápido que areia fina, pior, a areia não tinha qualquer importância e aquele nosso tempo sim, queríamos que permanecesse para sempre porque era um tempo mágico de calor, amores e sonhos que não mais seriam esquecidos. Nessa altura fechava muita vez os olhos com força, como se aquele gesto fosse o suficiente para reter aquele preciso segundo. Mas nada detia o correr do tempo, inexorável.
Naquela idade sonha-se. Sonha-se muito, ingenuamente o mais das vezes. Sonha-se que se é um cavaleiro da Távola Redonda ou um Peter Pan sempre na rota de Neverland. Sonha-se com o amor das princesas encantadas muito bem aconchegado em noites de prazer tórrido, extenuante e pouco etéreo.
O tempo era passado sob o sol abrasador, que nos escurecia a pele e clareava o cabelo, enroscados na areia húmida da beira-mar, envolvidos pelo cheiro suave da maresia, entretidos em mergulhos no azul líquido e infindável, bruto por vezes, que com aquele seu vai-vem sensual nos acicatava ainda mais os ímpetos juvenis. Ou nos braços lãnguidos da namorada jovem, nos quais suávamos ainda mais que sob as ardências solares.
Eram verões de banhos imensos e namoros, de fins de tarde de passseio de mão dada à beira-mar e de noites de dança. Quase sempre uma dança tão abraçada que parecíamos querer irromper por dentro do outro. Uma dança tão sensual, tão sexual, que fazia com que a carne quase saltasse para fora da escassa roupa leve que a cobria.
Foram verões de descobertas e ilusões. Também de algumas desilusões. Mas daquelas desilusões que mantém um rosto carinhoso e um sorriso quase inocente. Foram Verões escaldantes. De sol e paixões à flor da pele.

"Morning found us calmly unaware
Noon burn gold into our hair
At night, we swim the laughin' sea
When summer's gone
Where will we be

Summer's almost gone
Summer's almost gone
We had some good times
But they're gone
The winter's comin' on
Summer's almost gone"

The Doors


Escrito por: VdeAlmeida, em 5/31/2004 03:16:00 da tarde | Permalink | | ( 1)Comentários
Uma segunda visão


N'O Céu Sobre Berlim, o Frederico Hartley fala-nos hoje de um filme, antigo, de D.W. Grifith, "Broken Blossoms", que será de todo o interesse ver ou rever.
A CC, na sua Sôfrega, trouxe-nos, com o deslumbramento pelo que viu reflectido nos apontamentos que traça, o novo filme de Almodôvar, que espero ver em breve.
Parece então que por aqui, o cinema volta à ordem do dia e ocorre-me que há dias, num comentário a um post da MJM, no seu Baby Lonia, lhe dizia eu que o nosso "momento" tem muita influência na nossa leitura de determinado filme.
Lembro-me de alguns cuja primeira visão foi positiva, quiçá porque vistos em altura de maior euforia, de tal modo que me levaram a uma repetição que se revelou decepcionante.
O inverso igualmente, e é isso que vos quero hoje referir, pois que se trata, para mim, de um caso que entendo exemplar e de elementar justiça referir.

Há anos atrás vi "Morte em Veneza", de Visconti. Confesso que achei uma seca. Abri excepção para a notável interpretação de Dirk Bogard no principal papel.
Ora, há pouco tempo revi-o. E revista completamente foi a minha opinião sobre o filme. Trata-se, com efeito, de uma obra notável, um impressionante retrato feito pelo cineasta, baseado na obra de Thomas Mann. E é sobretudo impressionante porque os diálogos são raros, a cãmara torna-os quase supérfluos, ela própria "descreve" o que há a descrever. A palavra torna-se assim, e quase sem darmos conta, dispensável. A nossa vista, pela mão segura do realizador, leva-nos a todos os cantos, dá-nos todos os olhares e expressões, desvenda todos e cada pensamento.
Fica pois esta minha reflexão, e a questão de se, muitas vezes, um filme não será por nós injustamente depreciado, só porque, na altura em que o vimos não estamos "in tne mood"

P.S.- Quase na mesma altura vi "Os Danados", também de Visconti. Este, apesar de ser um bom filme, achei-o demasiado palavroso, precisamente o inverso da Morte em Veneza. A ver, no entanto.
Agora, aguardo com impaciência a saída em DVD do magnífico "O Leopardo", também do mestre italiano

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/31/2004 02:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, maio 30, 2004
Self-Portrait

CockRobin.jpg


Para acompanhar com a Overture do Flying Dutchman de Wagner e a poesia de Ruy Bello que segue:

As velas da memória

Há nos silvos que as manhãs me trazem
chaminés que se desmoronam:
são a infância e a praia os sonhos de partida

Abrir esse portão junto ao vento que a vida
aquém ou além desta me abre?
Em que outro mundo ouvi o rouxinol
tão leve que o voo lhe aumentava as asas?
Onde adiava ele a morte contra os dias
essa primeira morte?
Vinham núpcias sem conto na inconcebível voz
Que plenitude aquela: cantar
como quem não tivesse nenhum pensamento.

Quem me deixou de novo aqui sentado à sombra
deste mês de junho? Como te chamas tu
que me enfunas as velas da memória ventilando: «aquela vez...»?

Quando aonde foi em que país?
Que vento faz quebrar nas costas destes dias
as ondas de uma antiga música que ouvida
obriga a recuar a noite prometida
em círculos quebrados para além das dunas
fazendo regressar rebanhos de alegrias
abrindo em plena tarde um espaço ao amor?
Que morte vem matar a lábil curva da dor?
Que dor me faz doer de não ter mais que morrer?
E ouve-se o silêncio descer pelas vertentes da tarde
chegar à boca da noite e responder


(Eu sei que me fica mal esta presunção toda)

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/30/2004 07:57:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, maio 29, 2004
Give Peace a Chance


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Associo-me aqui à iniciativa do "Rock in Rio", e fica o meu contributo. Sei que para que o mundo tenha paz, será preciso muito mais que o acenar de lenços e cantar a imortal obra do "meu" John Lennon (chamo-o assim porque é meu companheiro de viagem há muito tempo, é quase como que um amigo íntimo).

Let's make a peaceful Revolution, Give Peace a chance, make the world a Strawberry Field Forever.
So
Let's take a chance and fly away somewhere
Starting over

and sing

Imagine

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today...
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace...
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world...
You may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/29/2004 12:08:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, maio 28, 2004
Soundtrack - take II


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Soundtrack for a quiet evening in the desert

1 - She - Elvis Costello
2 - These arms of mine - Otis Redding
3 - Why does it always rain on me? - Travis
4 - For no One - Anne Sofie Von Otter
5 - Somewhere in my heart - Aztec Camera
6 - Tarde em Itapuã - Vinicius e Toquinho
7 - Stairway to heaven - Led Zeppelin
8 - In our sleep - Laurie Anderson & Lou Reed
9 - Clocks - Coldplay
10 - Cocaine - J. J. Cale
11 - As I sat sadly by her side - Nick Cave
12 - Baker Street - Gery Rafferty
13 - Iris - Goo Goo Dolls
14 - Another night in - Tindersticks
15 - I'm your man - Leonard Cohen
16 - Pink Moon - Nick Drake
17 - Everybody hurts - R.E.M.
18 - Tom Taubert's Blues - Tom Waitts
19 - Bittersweet Symphony - Verve
20 - Lazy - David Byrne

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/28/2004 10:34:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Riscos, objectivas e telas

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Vem
senta-te aqui ao pé de mim
E observa,
a arte é muito mais
que só palavras
São riscos,
é objectiva,
são tintas misturadas
em telas
Já viste?
São as nossas vidas
esboçadas, retratadas e pintadas

Não gostas de nos ver?



Escrito por: VdeAlmeida, em 5/28/2004 03:08:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, maio 27, 2004
Soundtrack


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Soundtrack for a lonely friday on the beach:

1 - Always the sun - Stranglers
2 - Take California - Propellerheads
3 - The Mambo Craze - De Phazz
4 - Cantaloup - Us3
5 - Christmas Card from a Hooker in Minneapolis - Tom Waitts
6 - Hallelluyah - Jeff Buckley
7 - Dance me to the end of love - Leonard Cohen
8 - With arms wide open - Creed
9 - Have I told you lately that I love you? - Van Morrison
10 - Creep - Radiohead
11 - Cut's you up - Peter Murphy
12 - Porcelain - Moby
13 - After the gold rush - Neil Young
14 - Don't dream it's over - Crowded House
15 - Ain't no sunshine when she's gone - Bill Withers
16 - Mad world - Gary Jules
17 - Summertime - Ella Fritzgerald
18 - Oceano - Djavan
19 - Dancing Fool - Frank Zappa
20 - Learning to fly - Tom Petty

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/27/2004 07:45:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Um dia...


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Um dia adormecerei eu todo inteiro
Deixarei esta vigília permanente
Ficarão fora de mim aqueles sentidos
Que me enchem de vazios e silêncios
Mas me fazem correr o sangue quente.
Serei então eu tudo e serei nada
Como se de nada e tudo eu fosse feito
Abandonarei nesse dia a minha estrada
Voltarei à terra-mãe donde emergi
Tomarei formas voláteis e supremas
Serei arcanjo ou nuvem, tanto faz
Serei espuma e mar, areia e vento
E não escreverei mais prosas nem poemas

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/27/2004 06:47:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, maio 25, 2004
Gostar de ti


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Há muito que partiste. E no entanto, estás sempre presente.
A vida é feita de desencontros e o nosso foi só mais um. A vida é uma perda sucessiva, pelo que não faz sentido chorar a perda de uma parcela que faz parte de um todo. Não entendo assim, porque te choro todos os dias, todas as horas, todas as ínfimas fracções
Desencontrados, longínquos, mudos um para o outro, penso em ti e continuo a gostar de ti como se fosse ontem que tivesses sido minha pela última vez.
Porque gosto eu de ti? o que é este meu gostar de ti?
E respondo-me:
Gostar de ti é acordar de manhã, virar-me na cama à tua procura e ficar triste por não estares para te poder desejar com um beijo: "Tem um dia feliz,
querida
"
Gostar de ti é ligar-te à hora mais insólita e deixar-te uma mensagem a dizer-te da falta que me fazes.
Gostar de ti é sentir o coração pequeno de cada vez que do outro lado da
linha te sinto a tristeza na voz ou te ouço o chorar manso e dorido
Gostar de ti é desejar a todo o instante que estejas feliz, a ultrapassar barreiras, a vencer tudo o que a vida te põe no caminho
Gostar de ti é ficar feliz quando estás feliz.
Gostar de ti é sentir uma alegria incomensurável quando ouço o teu riso límpido, e te imagino o sorriso rasgado que te ultrapassa a comissura dos lábios, te marca a face com duas reentrâncias lindas e inigualáveis, e te ilumina os olhos de uma forma que nem mil sóis conseguiriam iluminar nada.
Gostar de ti é ainda sentir na minha boca a tua boca, a tua lingua procurando a minha, percorrendo-me, deixando em cada pedaço de mim, um rasto de volúpia inapagável
Gostar de ti é sentir ainda nas minhas mãos e espalhado pelo meu peito o teu cabelo sedoso
Gostar de ti é ainda sentir no meu corpo o calor húmido do teu sexo
Gostar de ti é ainda me lembrar da textura suave do teu corpo na ponta dos meus dedos, é ainda reconhecer cada reentrãncia, cada elevação que me deixaste percorrer
Gostar de ti é lembrar-me do teu cheiro, e a cada uma dessas lembranças o meu
corpo reagir como se estivesses aqui

"Corpo perfeito.
As minhas mãos percorrendo
a geografia da pele.
A topografia da carne.
A ponta dos dedos...
A palma das mãos,
em lenta progressão,
por caminhos indecifráveis.
Penugens...
dos braços...
das pernas...
das coxas...

Calor,
teu corpo esta quente.
Cheiro de fêmea...
fragrância...
Prazer.
Sabor.
Todos sentidos presentes
Delicias."
(
C Alex Fernandes)

Gostar de ti é olhar o mar e lembrar-me que àquele mar já o vimos os dois de mão na mão, coração em uníssono perante a beleza que só à tua se compara
Gostar de ti é saber que aos meus olhos, serás sempre uma mulher-menina de coração tão grande que chegas a ter dificuldade em o segurar
Gostar de ti é dizer que nunca conheci uma alma mais bela e generosa que a tua
Gostar de ti é amar-te sem querer saber de reciprocidades de sentimentos
Gostar de ti é todos os minutos meus serem teus
Gostar de ti é tentar conseguir ultrapassar a dor porque mo pedes

"Somente quem passa pelo gelo da dor chega à inocência do amor. (Chiara
Lubich)"


Gostar de ti é saber seres tu toda a minha melhor parte, aquele que só é capaz de sentimentos elevados
Gostar de ti é então estares-me no coração, na alma, na pele
Gostar de ti é recordar cada instante que passei contigo
Gostar de ti é, antes de adormecer, arquear o corpo de forma a acolher o teu na
concha que assim formo com o meu.
Gostar de ti é adormecer contigo nos meus braços a 1.000 km de distância, e
sussurrar-te cá de longe: "Noite feliz, querida"

Gostar de ti é tudo isso e muito mais, tudo o que, na minha inépcia não te
sou capaz de descrever

"A gente tem o costume de querer tirar da cabeça aquilo que está no coração."

Para ti, um Neruda

Debajo de tu piel vive la luna.

Con casto corazón,
con ojos puros, te celebro, belleza,
reteniendo la sangre
para que surja y siga la línea, tu contorno,
para que te acuestes a mi oda
como en tierra de bosques o de espuma,
en aroma terrestre o en música marina.
Bella desnuda,
igual tus pies arqueados
por un antiguo golpe de viento o del sonido
que tus orejas, caracolas mínimas
del espléndido mar americano.
Iguales son tus pechos de paralela plenitud,
colmados por la luz de la vida.
Iguales son volando tus párpados de trigo
que descubren o cierran
dos países profundos en tus ojos.
La línea que tu espalda ha dividido en pálidas regiones
se pierde y surge en dos tersas mitades de manzana,
y sigue separando tu hermosura en dos columnas
de oro quemado, de alabastro fino,
a perderse en tus pies como en dos uvas,
desde donde otra vez arde y se eleva
el árbol doble de tu simetría,
fuego florido, candelabro abierto,
turgente fruta erguida
sobre el pacto del mar y de la tierra.
Tu cuerpo, en qué materia,
ágata, cuarzo, trigo,
se plasmó, fue subiendo
como el pan se levanta
de la temperatura
y señaló colinas
plateadas,
valles de un solo pétalo, dulzuras
de profundo terciopelo,
hasta quedar cuajada
la fina y firme forma femenina?
No sólo es luz que cae sobre el mundo
lo que alarga en tu cuerpo
su nieve sofocada,
sino que se desprende
de ti la claridad como si fueras
encendida por dentro.

Debajo de tu piel vive la luna.

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/25/2004 08:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
A Musica de Lara


A Lara, que tem um blog, Música
Portuguesa
, que é muito bonito e que já aqui referi, deu-me o prazer imenso de musicar e cantar umas breves palavras minhas.
Há gestos que nos deixam sem palavras. O'Neil dizia que "Há palavras que nos beijam"

Como não sei nada de música, para a Lara deixo aqui a minha única forma possível de agradecimento, umas palavras pequenas para expressar a minha emoção

Trazes na voz
a magia das marés
E nas mãos
a amizade debraçada
Nos olhos-espelhos,
a esperança
Na alma imensa,
a dança dos sentidos
E a generosidade
Que só existe
Em quem preserva
Aquela chama acesa
E mantem vivos
Cheios de lua, de arco-iris
e de estrelas
Os sonhos inocentes
de criança



Escrito por: VdeAlmeida, em 5/25/2004 02:37:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, maio 24, 2004
Uma palavra: Mulher

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Transcendente, celeste,
harmoniosa,
Sublime, sedutora,
excitante
perfeita de formas,
espantosa
encantadora, admirável,
deslumbrante

Procuro nos dicionários
a palavra certa
Que te descreva
Com toda a exactidão
Falho mais uma vez
a tentativa
Todo o esforço é vão
Tu estás para lá
E estás acima
de toda, de qualquer
Definição

Mas para quê procurar?
Só MULHER
sem mais adornos
Chega na perfeição

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/24/2004 09:25:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Il Miracolo
Hoje, deixo pouco
quase nada
Um pensamento, uma prosa
Que nem é minha
A mente está estranha
Sem rumo, vaga
Não escrevo então
O que quer que seja
Sequer uma linha


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Corpo e Alma

Na Itália il miracolo é de pesca noturna. Mortalmente ferido pelo arpão, larga no mar sua tinta roxa. Quem o pesca desembarca antes de o sol nascer - sabendo com o rosto lívido e responsável que arrasta pelas areias o enorme peso da pesca milagrosa, amor. Milagre é lágrima na folha, treme, desliza, tomba: eis milhares de milágrimas brilhando no chão. The miracle tem duras pontas de estrelas e muita prata farpada. Para passar da palavra a seu sentido, destrói-se em estilhaços, assim como fogo de artifício é objeto opaco até ser fulgor no ar e a própria morte. (Na passagem de corpo a sentido, o zangão tem o mesmo atingimento supremo: ele morre.) Le miracle é um octógono de vidro que se pode girar lentamente na palma da mão. Ele está na mão, mas é de se olhar. Pode-se vê-lo de todos os lados, bem devagar, e de cada lado é o octógono de vidro. Até que de repente - arriscando o corpo, e já toda pálida de sentido - a pessoa entende: na própria mão aberta não está um octógono, mas um milagre. A partir desse instante não se vê mais nada. Tem-se.

Clarice Lispector, em "Para não esquecer"

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/24/2004 02:15:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, maio 23, 2004
O Filho


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Foto de "O Quarto do Filho", de Nanni Moretti


Conheci Q uns anos atrás.
O episódio que a seguir relato é real e fielmente traçado e foi determinante nas relações de que posteriormente tenho mantido com ele.
É um homem robusto, sereno,curtido pela vida que raramente o facilitou. Recatado, aos poucos foi-me dando conta de pequenos azulejos da sua vida e com eles fui compondo um puzzle, se não complicado, pelo menos forte de emoções.
Na infância guardou cabras nos pastos dos arredores de Lamego, e mesmo nos invernos rigorosos em que a neve cobria de branco o verde e os animais tinham que fuçar fundo para o encontrar, nunca Q soube o que era um par de sapatos. Protegia-se do frio cortante com uns socos grosseiros.
Depois veio para Lisboa, para melhorar a vida, diz-me. Trabalhou nas obras até ser chamado a cumprir o serviço militar, que então, em plena guerra colonial, o mandou para Moçambique. Por cá, ficava uma noiva, com a qual nunca casou, grávida de um filho.
Voltou depois do 25 de Abril, com um casamento (outra mulher) á beira da ruptura, que lhe deu mais duas filhas.
Por essa altura conheceu pessoalmente o filho que por cá tinha deixado e que breve verificou que iria ser para ele fonte de grandes preocupações. O rapaz tornou-se toxicodependente, arrastando-se para aquela pequena marginalidade inerente a quase todos os que caiem nesta situação: começam com as pequenas mentiras, os pequenos roubos, que de esporádicos rapidamente se transformam em recorrentes. Depois, o habitual rosário de delitos, a queda a pique, a completa degradação física e moral.
Q , como a maioria dos pais em semelhante situação, foi condescendendo, mas a sua flexibilidade não durou muito tempo, e acabou por cortar relações com o filho, proibindo-o o acesso a sua casa, sob pena de um dia a encontrar vazia. Foi um corte radical, próprio dele que sempre me pareceu algo inflexivel em questões de princípio, e parecia que para ele aquele filho deixara de existir. Quando lho referiam cortava a conversa de forma radical.
Foi assim durante muitos anos e foi nesse periodo que o conheci.
Um dia recebeu um telefonema no emprego. Falou com o seu responsável directo, a quem comunicou que a polícia o tinha convocado para ir à morgue, pelo que tinha que se lá apresentar.
Só voltou 6 dias depois. Explicou então em breves palavras, secas, que a sua comparência naquele local tinha tido como finalidade identificar o corpo do filho, morto de overdose e que permanecia sem identificação há três dias, estando prestes a ser atirado para uma vala comum como qualquer outro indigente. Como chegaram a Q, não o sei.

Em qualquer lado há sempre daquelas pessoas para as quais a sensibilidade é uma palavra co pouco significado. Eis o breve diálogo que se seguiu entre uma dessas pessoas e Q:
-Bem, até foi melhor assim. Para ele e para ti. Evita-te mais chatices, não é?
-Não, não é. Apesar de tudo o que possas pensar, foi o pior de tudo. É que ele era meu filho.
E voltou as costas com as lágrimas nos olhos.
Naquela altura, algo de superior a todos os desgostos que aquele ser lhe tinha causado se sobrepunha: o amor paternal.
Que cegueira a do outro, pretender que alguma vez a morte de um filho pudesse ser um alívio.

Q, segue a sua vida com uma placidez que conheço em poucas pessoas. Mas aquela sombra ficará para sempre a ensombrar-lhe o coração.

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/23/2004 02:00:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, maio 22, 2004
O Gato Esteves e o seu blog


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Não sabia que o Cat Stevens tinha um blog. Mas tem. E até lhe fez uma canção, como poderão verificar. Eu já a ouvi e é gira, pena eu aqui não a poder reproduzir porque os plug-ins para isso dão uma trabalheira do caraças. Mas a letra é esta:

"I love my blog as much as I love you
But you may fade, my blog will always come through.
All he asks from me is the food to give him strength
All he ever needs is love and that he knows he'll get
So, I love my blog as much as I love you
But you may fade, my blog will always come through.
All the pay I need comes shining through his eyes
I don't need no cold water to make me realize that
I love my blog as much as I love you
But you may fade, my blog will always come through.
Na, na, na, na, na, na, nana...
I love my blog as much as I love you
But you may fade, my blog will always come through.
Na, na, na, na, na, na, nana...
I love my blog, Baby, I love my blog. Na, na, na...
I love my blog, Baby, I love my blog. Na, na, na... "

Como vêm, é uma maravilha. O que um blog não inspira!

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/22/2004 06:40:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, maio 21, 2004
Notas de fim de semana
Hoje deixo aqui várias lembranças para o fim de semana:
- Os amores perfeitos são para as minhas amigas, uma que mora nesta Rádio e outra que está neste Jardim , e que gostam desta flor simples mas tão bonita e o disseram aqui, e para outras que eu sei que gostam, mas não se manfestaram. E tambem, para a mãe desta menina rosada, que nem me conhece, mas que eu sei que também os adora.
Amor perfeito.jpgAmor Perfeito2.jpgAmor Perfeito3.jpg

Os sapatinhos de ballet são para uma amiga muito especial que se costuma deslocar de vassoura

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E por fim fica a chamada de atenção a todos vós: visitem a "casa" desta menina. Vão ver que a música vai valer a pena

E para toda a gente, um fim de semana FELIZ

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/21/2004 06:56:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Uma Ilha no Espaço


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Pintura de Magritte


Queria uma ilha
no espaço
E nem precisava ser grande
Só queria tamanho
bastante que desse
Para enterrar o coração
Um sítio onde
ninguém mais
lhe chegasse
Substitui-lo depois
Por um qualquer mecanismo
igual ao de qualquer relógio
De preferência que não fosse
em metal nobre
Bastava o aço

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/21/2004 03:28:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Íntimo


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Quando aquela pequena mão se agarrou à minha senti como que um sobressalto. Olhei-o e ele sorriu, com aquele sorriso subtil, quase malandro, como que a dizer "não tens que ter medo, estou aqui eu".
Nunca foi criança de grandes expansividades, tal como eu. Para ser verdadeiro, eu era bem pior, quase um bicho-de-mato, como o meu pai me chamava. Dificilmente me apresentava por iniciativa própria a alguém. Era um tímido (sou um tímido) e um tímido não tem só medo das multidões, porque para um tímido, dois é uma multidão. Ele não é tímido, só introvertido, e mesmo nas emoções, nos sentimentos, parece algo contido, como que pensando que os não deve esbanjar. Por vezes parece-me que se tornou quase adulto numa qualquer dobra da vida e eu nem notei.
Seguimos lado a lado, quase como dois amigos, o que é qualquer coisa entre dois seres com idades tão desfasadas. Sinto aquela vontade que me vem dos tempos antigos, de lhe passar a mão pelos ombros tal como fazia com os meus camaradas de escola, e assim passear. Por vezes faço-o, apesar de ainda ser bem mais baixinho que eu.
Está com as fases afogueadas. Nota-se, mesmo através do tisnado com que o verão lhe doura a pele. Tem um bronzeado que todos admiram. Fica lustroso, bonito, e o cabelo louro ganha manchas de um dourado ainda mais acentuado que contrasta tom da pele, agora mais escura.
O sol está alto, e a colina que leva ao castelo é íngreme, cansativa para ambos e quando chegamos à porta onde Martim Moniz se sacrificou por uma causa (naquela altura ainda se dava a vida por causas), olhou pouco surpreendido pela novidade de se ver perante uma ponte levadiça, agora imobilizada, a engrenagem sem préstimo. Parece-me mesmo que pouca coisa o surpreenderá, talvez porque já tenha visto quase tudo na quantidade fora do vulgar de livros que absorve.
Passamos ao interior e admira os antigos canhões. Vê as bolas de ferro que lhes serviam de projéctil e naturalmente pergunta-me se as armas ainda funcionam. A função delas, connhece-a perfeitamente.
Sentamo-nos numa ameia e olhamos a cidade deitada a nossos pés, despida aos nossos olhos. Dali, parece parada, só vemos os telhados, uma sucessão de altos e baixos de cores variadas. Alguns edifícios mais novos parecem desproporcionados ao pé dos outros. Faço-lho notar, conto-lhe dos atentados que todos os dias cometem contra a cidade que é minha e que sei que um dia ele considerará como sua, e ele entende tudo o que lhe digo. É atento e interessado.
Mostro-lhe lá ao fundo o Tejo na altura em que um barco o sulca, parecendo um risco no rio.
Damos a volta completa ao recinto, onde os turistas fazem romaria e os velhos da zona descansam nas sombras. É agradável, fresco, e está tratado, ao contrário de muitos outros lugares por onde passamos nestas deambulações estivais. Gosto daqueles canteiros com amores-perfeitos e uns outros com flores que parecem violetas. E muitas papoilas entre o arrelvado rasteiro.
Quando nos vimos embora, olho para uma pequena pastelaria e pergunto-lhe se quer alguma coisa. Não quer. Raramente quer. Um gelado? Ainda se fosse um livro...
Fico à espera que um dia me faça um pedido assim do género:
- Compra-me um daqueles balões.
Sei que nunca o fará, mas espero sempre. Quem sabe a irmã, mais nova, não seja ela mais dada a essas frivolidades?



Escrito por: VdeAlmeida, em 5/21/2004 09:00:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, maio 20, 2004
Blake & Mortimer


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Hoje, numa romagem de saudade, e uma vez que há pouco tempo foi lançado mais um album deles, trago-vos os meus primeiros "heróis" da infância: Francis Blake e Philip Mortimer, da autoria de Edgar P. Jacobs
É verdade, conheci-os juntamente com o Tintin e o Príncipe Valente, numa velha revista de BD que se chamava Cavaleiro Andante, e que eu lia e relia avidamente.
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Alguns se recordarão que logo nos primórdios do meu velho Horizonte fiz uma charge que pretendi humorada, sobre a sexualidade de alguns dos mais conhecidos heróis deste universo, que me é muito querido. Obviamente, que não passava de um exercício de humor e que não põe em causa o meu grande afecto por estas figuras.
Foi numa das aventuras dos dois gentlemans que tive conhecimento das Furnas das Sete Cidades em "O Enigma da Atlântida", muito antes de estudar na Geografia que as Furnas se situam nos Açores. Aí, nas suas entranhas, presumia o autor, se teria situado a mítica civilização Atlântida.


Foi igualmente com Blake e Mortimer que conheci o Egipto e algumas das características da sua secular civilização em "O Segredo da Grande Pirâmide", ainda nem me tinha iniciado no estudo da História Universal. Foi ainda com eles que fiz a minha primeira incursão na Ficção Científica com "O Segredo do Espadão".
Mas a minha primeira e mais viva memória será sempre "A Marca Amarela", uma fantástica aventura em que a dupla de policiais britânicos enfrentava mais uma vez o seu inimigo de sempre, Olrik.
As fabulosas aventuras de Blake & Mortimer sobreviveram ao seu autor, e ainda agora são lançadas novas aventuras em que os novos autores respeitam rigorosamente os traços das imortais figuras criadas por Jacobs.
Pelo carácter didático e educacional da série, e numa altura em que cada vez mais se degrada o nível de cultura geral das nossas crianças, aconselho-vos a incentivar as vossas a ler as aventuras destes dois senhores.

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/20/2004 08:31:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, maio 19, 2004
Carta sem assunto a Mario Ruoppolo


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Hoje escrevo-te Mario. Apeteceu-me escrever-te. Sendo tu uma ficção, para mim nunca o foste. Desde o dia em que vi o "Il Postino, de Pablo Neruda" pela primeira vez, que te coloquei na lista dos meus mais profundos afectos, mesmo ao lado do meu amigo Alfredo, o velho projeccionista do "meu" Cinema Paraíso. Portanto, como afecto que és, acompanhas-me sempre.És assim, uma espécie de companheiro invisível, aquele amigo que muitos meninos como eu fui um dia, criam na sua imaginação. Morreste, mas como eles, és imortal enquanto eu viver, e contigo falo muita vez, mas isso tu sabes.
Contudo hoje apeteceu-me escrever, nem eu sei bem porquê. Talvez porque faças parte da história imaginada do Poeta, aquele que muitos amam, e nenhum iguala. Sobretudo porque te aproximaste da poesia da maneira mais bela, mais apaixonada, pelo amor às metáforas, às palavras. E é disso que te quero falar, das palavras, da poesia, da vida.

Mario Ruoppolo: Gostava de ser também poeta
Pablo Neruda: Não. É mais original ser carteiro. Anda-se mais e não se corre o risco de ficar gordo. Nós, os poetas, somos todos gordos
MR: Sim, mas com a poesia poderia conquistar as mulheres. Como me posso tornar um poeta?
PN: Tenta caminhar lentamente pela praia, até que a baía to permita.
MR: E as metáforas? virão ter comigo?
PN: Certamente.


Há muito que me apropriei do lema de Keating, "Carpe Diem" e tento segui-lo, mas nunca quis pertencer a qualquer Club do Poetas Mortos.Não há poetas mortos, só mais esquecidos. Revejo os teus diálogos com Pablo e emociono-me. Admiro-te a simplicidade, o amor puro, o desejo ardente de tudo aprender, e sobretudo a inocência que tu sempre mantiveste e eu há muito perdi
PN: (depois de recitar um poema sobre o mar) Que achas?
MR: É estranho
PN: Que queres dizer, estranho? És um crítico severo!
MR: Não, estranho não é o poema. Foi o que senti ao ouvi-lo
PN: Como assim?
MR: Não sei. As palavras iam e vinham
PN: Como o mar, então?
MR: Exactamente. Como o mar
PN: Aí está. Isso é ritmo.
MR: De facto, senti-me enjoado

´
E interrogo-me sobre que terá ganho mais com a vossa amizade, apesar da minha admiração incontrolada por Pablo: se tu com ele, ao absorver-lhe os ensinamentos, ao aspirar-lhe o génio como quem inala o fresco da manhã, ao conquistares, com as belas palavras que ele te induzia a escrever, a mulher amada...Se ele, que contigo se conseguiu baixar até aquelas coisas mais simples da vida que ele já tinha olvidado.


A inocênca, os cheiros, os murmurios da terra.
Lembro-me de como se emocionou quando recebeu a fita gravada que lhe mandaste, e em que registaste os sons da tua ilha, o vento, o mar, o filho ainda por nascer revolvendo-se na barriga da mãe, todas aquelas complexidades simples que compõem a vida.
Mas já te escrevi demais. Lembras-te do diálogo da tua mulher com a sua mãe?

Beatrice Russo: Não há nada de mal com as palavras.
A mãe: Palavras são a pior coisa que há!


Como vês, não disse nada de especial. Escrevi-te sem assunto. Um dia destes escrevo-te outra vez. Sobre poesia, se quiseres.


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Escrito por: VdeAlmeida, em 5/19/2004 04:35:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, maio 18, 2004
38º42' de Latitude Norte


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Estou sentado no ponto exacto onde a falésia, abatendo-se a pique, me deixa o vácuo no qual balanço os pés descalços. Sofro a vertigem, mas o perigo parece atrair, o sangue corre mais rápido, talvez seja aquela busca inconsciente da voragem, do abismo.
Estou pois aqui, onde poisa a gaivota que espia com olhos agudos o mar que lhe fornece a vida.
Mas sei que só nas asas do sonho se voa de forma consistente, contudo sem possibilidades de deixarmos o nosso espaço material. Portanto,sei também que não devo tentar voar agora.

Há muito que deixei as minhas asas de pássaro, que acredito um dia todos tivemos e perdemos porque não podemos viver livres todo o tempo. De anjo acho que nunca as tive, embora a essas, as de anjo, as tivesse sentido roçagar por mim algumas vezes, mas não eram minhas. Talvez as do meu anjo, aquele que acredito que todos temos, e que senta descansado mas alerta, bem perto da nossa alma.
Porque será que só falamos nele quando somos miudos, como se só as crianças na sua inocência mereçam ser protegidas? Nada de menos verdadeiro, uma vez que me parece que à medida que vamos avançando na idade, mais vulneráveis e indefesos vamos ficando. Por vezes não entendo as nossas dificuldades em nos apercebermos das nossas fragilidades.
Vem-me então à ideia uma parte da Canção da Infância, de Peter Handke, nas Asas do Desejo

"When the child was a child,
It was the time for these questions:
Why am I me, and why not you?
Why am I here, and why not there?
When did time begin, and where does space end?
Is life under the sun not just a dream?
Is what I see and hear and smell
not just an illusion of a world before the world?
Given the facts of evil and people.
does evil really exist?
How can it be that I, who I am,
didn’t exist before I came to be,
and that, someday, I, who I am,
will no longer be who I am?"

O meu, sinto-o, deve ser parecido com o Damiel, de Wenders, deve sentir interesse nas emoções, nos sentimentos humanos, imagino que um dia, como Damiel, se quererá tornar humano para poder senti-las todas na sua plenitude, para se poder apaixonar, para poder sofrer. Como pode alguém, mesmo divino, mesmo anjo, entender a paixão, a dor, sem a viver?
O dia está luminoso, faziam-me falta estes salpicos que saltam das rochas trazidos pela suave força do mar e pelo vento, fraco mas insistente. Ali, apesar do dia sereno, aquela mole líquida faz-nos recordar a cada instante a sua ameaça. E como é ténue a minha força, comparada à dela. Ali em baixo, o mar ruge monstruosamente, talvez por tal facto chamaram ao lugar, a entrada do Inferno. Sinto a humidade transpirada pela rocha irregular e levanto-me ligeiramente para olhar para o outro lado do mar, que nunca como hoje me pareceu tão vasto com aquela linha curva lá no fundo e o resto um imenso reflexo solar. Ao redor só se ouve o insistente protesto das gaivotas, e o seu bater de asas vigoroso, outra vez o voo a intrometer-se-me na prosa imaginada porque vai incipientemente tomando forma na minha cabeça. Da qual a envolvência, esmagadora, não me deixa tomar rédeas, não consigo abstrair-me de tudo aquilo e concentrar-me em alguma coisa que não seja a procura de mais pequenos pormenores, imateriais alguns, que me deixam com aquela vontade imensa de ali voltar, para sorver em sucessivos olhares tudo o que ali, magnificamente me envolve, parecendo fazer com que eu próprio faça parte da imagem retida. A verdade é que me quero ver a mim próprio pintado na paisagem, quero-me olhar como se estivesse fora de mim.
Lembro-me de Damiel novamente. Outro semelhante a ele estará ali agora por perto, vigiando-me. Gostava de fazer a viagem em reverso. Interrogo-me sobre como seria eu no papel de anjo, como veria eu o resto do mundo, como veria eu, como sentiria eu a humanidade na sua trágica vivência.


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Escrito por: VdeAlmeida, em 5/18/2004 08:24:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, maio 17, 2004
Para todas as crianças da Blogosfera...
...em especial para estas


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Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido, bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes, pobre coitado?


— Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!
(Vinicius de Moraes)

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/17/2004 04:12:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, maio 14, 2004
...
Simpatizo por instinto com as minorias, com os fracos, com os que têm culpa: são tantas as pessoas que têm razão.

-Pittigrilli-
Escrito por: VdeAlmeida, em 5/14/2004 11:23:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
À mulher que passa


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Saia rodada, leve, colorida
Sapatos vermelhos, rasos, saltitantes
Boca entreaberta, humida, garrida
Os olhos quase negros, faiscantes
Mariposa que passa e que cativa
E que me deixa sem fôlego por instantes

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/14/2004 09:19:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, maio 13, 2004
O ultimo herói Americano?


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"O Pére Lachaise, cemitério parisiense onde se encontram mortos famosos como Chopin, Moliére ou Edith Piaf, comemora, no dia 20, 200 anos. Feito o balanço, os seus funcionários chegaram à conclusão de que, por eles, apenas se veriam livres de um dos residentes, por sinal, o mais visitado, Jim Morrison. Além de ser preciso um guarda só para vigiar o túmulo do
ex-vocalista dos Doors, falecido em 1971, os seus fãs deixam no cemitério mais lixo e graffitis do que os funcionários desejariam. Mas bem escusam de pensar em transladações. Morrison tem uma sepultura a título perpétuo."
In Visão, de 13.05.2004


Eu acrescentaria que isto é que é ser incómodo até depois de morto. E já lá vão mais de 30 anos. Dou comigo a pensar na enormidade do mito de Jim, principalmente para a minha geração e mesmo alargando-se a outras bem mais recentes, e interrogo-me sobre se alguma das actuais estrelas pop conseguiria alcançar semelhante estatuto se agora morresse inusitadamente como morreu Morrison - ou nem tanto, afinal ele sempre disse que queria morrer novo para dar um cadáver bonito. Calculo que nem perto chegaria, se nem Kurt Cobain o conseguiu.

Terá sido Jim Morrison o último herói americano?

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end
Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I'll never look into your eyes...again
Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need...of some...stranger's hand
In a...desperate land
Lost in a Roman...wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain, yeah
There's danger on the edge of town
Ride the King's highway, baby
Weird scenes inside the gold mine
Ride the highway west, baby
Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold
The west is the best
The west is the best
Get here, and we'll do the rest
The blue bus is callin' us
The blue bus is callin' us
Driver, where you taken' us
The killer awoke before dawn, he put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he walked on down the hall
He went into the room where his sister lived, and...then he
Paid a visit to his brother, and then he
He walked on down the hall, and
And he came to a door...and he looked inside
Father, yes son, I want to kill you
Mother...I want to...fuck you
C'mon baby, take a chance with us
And meet me at the back of the blue bus
Doin' a blue rock
On a blue bus
Doin' a blue rock
C'mon, yeah

Kill, kill, kill, kill, kill, kill

This is the end
Beautiful friend
This is the end
My only friend, the end
It hurts to set you free
But you'll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die

This is the end

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/13/2004 07:01:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, maio 12, 2004
Poema em Si


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Poema em si
Que podia ser em mi
Porque me é
soprado pela brisa
Que vem de ti
Que estás aqui
Que estás ali,
Em toda a parte
Sempre presente
E Como o meu corpo
E o meu pensamento
Te sente, te pressente!
Só podia, então
Ser uma poesia
Com melodia
Com fá, ou com sol
Com mi, ou com lua
Só assim sentido
fazia
Esta poesia nua
Que é só tua


Arte Digital daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/12/2004 06:54:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, maio 11, 2004
Só um pouco de sexo inofensivo

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Éramos como penas
suaves, leves
Como a brisa
Mal nos tocávamos
Só as pontas dos dedos
Umas nas outras
Um toque fugidio
E os meus olhos
Fundo nos teus
Longe, na noite lisa,
todos os medos.
Verdadeiros
Só nós dois,
em amor abrasivo,
O coração pulsando
O sangue ardente,
fundidos num só.
Um pouco de sexo,
Inofensivo
Lá fora o mundo.
Inexistente.



Escrito por: VdeAlmeida, em 5/11/2004 08:19:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, maio 10, 2004
O porquê de um nick


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Perguntarão muitos dos que me leem porque terei eu adoptado o nick de Yardbird. Claro, já vos contei que sempre sonhei "voar" nas asas de um pássaro. Podia ter adoptado um nome português, pardal, estorninho, melro ou outro qualquer. Ou podia ser em inglês (como é), sparrow, mockingbird. Mas não, é Yardbird.
É que o nome conjuga a essência do pássaro de pátio, um pequeno e vulgar vadio como eu sempre me considerei, e a música que amo desde sempre.
Os Yardbirds

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foram uma das bandas seminais de Rythm'n'blues de Inglaterra, movimento introduzido na velha Albion por Alexis Korner, mas principalmente por John Mayall, e que foi beber às raízes dos blues negros do delta do Mississipi.
Da lista de grupos da altura faziam parte nomes ilustres: Rolling Stones,

que até à morte de Brian Jones (aqui ao lado) pouco se desviaram do rumo escolhido, os Animals de Eric Burdon, os Spencer Davis Group, de Stevie Winwood, os Them, de Van Morrison ou os Pretty Things.
Dos Yardbirds sairam três dos maiores guitarristas de todos os tempos: Eric "slowhand" Clapton (vejam na foto que encabeça o post se o reconhecem, é o do meio), que fez parte do grupo original, Jeff Beck e Jimmy Page.
Dos Yardbirds, seria a autoria da que é reconhecida com a primeira música psicadélica de sempre, "For your love", onde pela primeira vez na música popular era utilizada uma harpsichord, um instrumento quase em desuso, e só usado em música antiga.


Foram também o grupo escolhido pelo enorme bluesman Sonny Boy Williamson para o acompanharem numa digressão como banda de apoio, tendo mesmo gravado um álbum com o músico de Chicago.
Seria com Jimmy Page, que depois de muitas alterações na formação original, os Yardbirds se transformaram em Led Zeppellin, a primeira grande banda de heavy.
No ano passado, reuniram-se alguns dos antigos Yardbirds e gravaram o cd Birdland, com a original capa que ao lado se reproduz, obra do artista alemão Moorkunst.
Já agora, e titulo de informação, eis a formação original: Eric Clapton, Chris Dreja, Keith Relf, Paul Samwell-Smith e Jim McCarthy.
Para mais, é só seguirem os links.

Esclarecidos?

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/10/2004 09:43:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Mar meu


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O mar está como eu, translúcido, quase opaco. Escuro. Nem o sol fugidio, quando surge, o consegue penetrar e tornar plácido. Agita-se como se uma descomunal colher o mexesse sem cessar.
Passeio-lhe pela orla, por aquele rendilhado que vai deixando na areia. Sinto-lhe o cheiro forte, abro as narinas e encho o peito como se quisesse aquela maresia só para mim. Sigo as pequenas pegadas das gaivotas e dos albatrozes. Nem a minha aproximação os faz levantar voo. Parecem reconhecer-me, sabem-me amigo. Acho que é o instinto daquelas aves. Sentem que para mim aquele recanto não seria o mesmo sem a sua companhia.
Decido atrever-me a tirar os sapatos e deixar a água abraçar-me os tornozelos. Os ossos quase estalam com aquele gélido enlace. A dor penetra e eleva-se, desperta-me, tem um poder maior que uma injecção de cafeína despejada directamente na veia.
Sento-me numa rocha e deixo-me ficar. Imóvel, como se fosse parte do mineral que me serve de apoio. Olho o horizonte que quase não se divisa porque a cor do céu se confunde com a do oceano, um cinzento quase negro, ameaçador.
Começam a cair os primeiros pingos de chuva, eram esperados. Nem eles me fazem levantar dali. Queria ficar para sempre, parecia que me queria o destino da mulher de Lot, transformar-me, não em sal, mas em pedra, não sair mais dali, morrer abraçado àquele mar-mulher, um mar-amante em que nunca confiarei, mas que também não me engana porque já sei que é aquela a sua índole.
Não posso ficar mais tempo. Afinal, o tempo urge. Os meus minutos são contados.
Voltarei amanhã. Talvez então decida não resistir àquele apelo tão forte e ficar com ele para sempre.

"As ondas quebraram uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim
"
-Sophia de Mello Breyner Andersen-

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/10/2004 01:45:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, maio 09, 2004
Profundidade


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O teu olhar quase irreal de tão profundo
Denuncia um amor muito maior que o mundo

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/09/2004 01:41:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, maio 08, 2004
Ditadura


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Hoje olhei
o espelho
e ali, estavas tu!
Maldito coração
Órgão rebelde
Implacável
Que tudo comanda
mesmo a visão
Trai-nos,
Descobre-nos,
deixa-nos a alma a nu
Um ditador no qual
não se tem mão

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/08/2004 08:08:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, maio 07, 2004
A música maravilhosa dos Traveling Wilburys


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Hoje, neste arranque de blog, falo-vos de música, uma das minhas paixões de sempre. Por minha vontade falava-vos nela todos os dias, mas há por aí muito mais entendidos que eu, melómano amador.
O que vos trago é a memória de um projecto que me é muito querido mas que por cá nunca teve grande divulgação, os Traveling Wilburys. Conhecem? Pois...
Em 1987 George Harrison, o ex-Beatle falecido há quase 3 anos decidiu gravar um disco, para cuja produção chamou Jeff Lynne, ex-lider dos Move e da Electric Light Orchestra. Lembraram-se então de convidar uns amigos, também músicos, que os ajudassem na tarefa. E os "rapazinhos" eram Roy Orbison, o velho e solitário rockabilly, Tom Petty,o clássico rocker, e Bob Dylan, talvez o maior storyteller singer do século passado
É claro que duma mistura destas 5 personalidades só poderia dar origem a algo de original. Desistiram do álbum do George, formaram um grupo a que deram o nome mencionado, e como grupo decidiram editar um álbum, saído em 1988.
E o resultado foi um fabuloso conjunto de canções, a que chamaram "Traveling Wilburys Vol.I".
Orbison pouco festejou o sucesso, uma vez que faleceu poucas semanas depois do cd ser editado.
Os restantes reuniram-se dois anos depois e gravaram novo cd, também excelente embora um pouco abaixo do primeiro, que curiosamente foi baptizado "Traveling Wilburys Vol 3".
De momento ambos os discos estão descatalogados e só se encontram, a preços elevados, no mercado dos discos em 2ª mão.
Aconselho portanto quem os tiver, a pô-los a bom recato
Aos outros, que deviam tentar consegui-los. Acreditem, vale mesmo a pena

Escrito por: VdeAlmeida, em 5/07/2004 09:12:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Para começar a viagem...
Bugatti.jpg
...que eu também tenho as minhas extravagâncias.
Escrito por: VdeAlmeida, em 5/07/2004 07:13:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, maio 06, 2004
Uma introdução
Esta explicação que a seguir vou dar, devia-a a vocês, os meus amigos virtuais (outros muito reais) que desde o princípio me apaparicaram na minha antiga casa, o "Horizonte".
Esta mudança, um tanto inesperada, brusca, e que muitos pensaram um definitivo abandono, teve na sua génese várias razões. Não as exporei todas por demasiado pessoais, mas aí vão algumas.
Desde o meu "descobrir" da net como interveniente e não como simples "surfista" (num fórum entretanto desaparecido), que adoptei um nick Yardbird, e essa pele (bem, é mais penas),acompanhou-me até ao fim do ano passado. O bird trouxe-me alguns dissabores causados naturalmente pelas causas que se defendem num fórum (raramente há causas consensuais) e que muitas vezes são defendidas com demasiada seriedade, até porque o referido fórum versava uma mnatéria demasiado leve para ser levada a peito.
Mas também me trouxe muitas alegrias, muito mais que tristezas.
Só que andava cansado, com vontade de mudar. Porquê? Não sei. Nunca o descobri. Sei sim que me decidi a fazê-lo quando abri o "Horizonte". Mas a verdade é que o Yardbird nunca me deixou. Aquelas penas eram demasiado a minha pele. A minha segunda pele.
O Phileas tinha muito de mim. Mas eu sempre fui o Yardbird. Gosto de me deixar voar, muitas vezes nas asas do sonho, e aí, não se chega de combóio ou de balão. Só nas asas de um pássaro de que sempre me senti ter alma.
E fui-lhe sentindo cada vez mais a falta até que há tempos atrás não consegui resistir a recuperá-lo. E fazê-lo implicava mudar muita coisa. Inclusive de blog. Foi o que fiz.
Espero agora que o Yard não vos desiluda.
Afinal, o Yardbird sou eu.
Escrito por: VdeAlmeida, em 5/06/2004 07:06:00 da tarde | Permalink | |
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