Novos Voos - Take Two

segunda-feira, janeiro 31, 2005
Que fazer então com as palavras?

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Que fazer então com as palavras
Que me percorrem o corpo à desfilada
Que fluem pelas artérias, indomáveis
Tomando delas conta, absolutas
Infiltrando-se em recantos insondáveis
E me saltam dos dedos, em golfadas
Que se soltam cá de dentro como vagas
Intensas, fogosas, incontroladas?
Que pena não poder amordaçá-las
Guardá-las numa caixa bem fechada,
Como tanta vez faço aos sentimentos
Que reprimo mesmo que me mate a alma
Insensivelmente surdo ao coração
Que explode e se estilhaça em mil fragmentos
(deixá-lo estilhaçar que não é meu,
já quase não lhe dou pelos lamentos
E nem conta mais para a minha história)
Ou varrê-las com um golpe vigoroso
Para um interstício esquecido da memória.

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/31/2005 08:40:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
sexta-feira, janeiro 28, 2005
Guarda-Costas

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Eu quero guardar
só para mim
A beleza que irradias
quando passas
Quero guardar nos olhos
o teu corpo
E nas pontas dos dedos
tua pele
Quero sorrir de prazer
Com as tuas graças
Quero guardar-te a alma
Aconchegada
Cá no fundo de mim
Bem resguardada
Quero-te sempre em paz
posta em sossego
Só com a luz da lua
Como manta
Quero-te guardar à vista
Desfrutando
A tua boca vermelha
Que me encanta

Quero-te só minha, amor
Nunca te esqueças
Quero-te minha
Antes que adormeças

Foto de Itzhak Ben-Arieh

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/28/2005 10:31:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, janeiro 27, 2005
Eu estive aqui e ninguém contará a minha história

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"Visitei há alguns anos o campo de concentração de Bergen Belsen, na Alemanha. Percorri no meio do silêncio atroz as valas comuns onde jazem milhares de vítimas do horror, perguntando a mim mesmo em qual delas estariam os restos de uma certa menina que nos legou o mais comovedor testemunho acerca da barbárie nazi e a certeza de que a palavra escrita é o maior e o mais invulnerável dos refúgios, porque as suas pedras são ligadas pela argamassa da memória. Caminhei, procurei, mas não encontrei qualquer indício que me levasse à sepultura de Anne Frank.
À morte física, os verdugos juntaram uma segunda morte, a do esquecimento e do anonimato. Um morto é um escândalo, mil mortos são uma estatística, afirmou Goebbels, e o mesmo repetiram e repetem os militares chilenos ou argentinos e os seus cúmplices disfarçados de democratas [...]
[...]Bergen Belsen não é certamente um lugar para passear, porque o peso da infâmia oprime, e à angústia do "e que posso eu fazer para que isto não volte a repetir-se?" segue-se o desejo de conhecer e contar a história de cada uma da vítimas, de nos agarrarmos à palavra como único esconjuro contra o esquecimento, de contar, de nomear factos gloriosos ou insignificantes dos nossos pais, amores, filhos, vizinhos, amigos, de fazer da vida um método de resistência contra o olvido, porque, como notou Guimarães Rosa, narrar é resistir.
Numa extremidade do campo e muito próximo do lugar onde se erguiam os infames fornos crematórios, na superfície áspera de uma pedra, alguém (quem?) gravou, talvez com o auxílio de uma faca ou de um prego, o mais dramático dos apelos:
"Eu estive aqui e ninguém contará a minha história
"...."

Isto escreveu Luís Sepúlveda em "As Rosas de Atacama". É sobre Bergen Belsen, podia ser sobre outro qualquer campo de extermínio, nomeadamente Auschwitz, de cuja libertação se comemoram hoje sessenta anos.
Como ele diz, narrar é o único esconjuro contra o esquecimento.
Por vezes, a humanidade parece mergulhar na letargia, distrai-se, adormece. Há coisas que parecem já estar demasiado longe. Tão longe que até parece que nunca existiram
As gerações mais novas devem saber o que se passou, devem ser alertadas para que um dia pode aparecer um homúnculo de bigode ridículo a tentar impingir-lhes que há homens e mulheres de 1ª e outros de 2ª. Tal como aconteceu há 70 anos, num lugar não muito longe daqui.
Um anónimo escreveu a frase lancinante com que intitulei o post. Se não podemos contar a sua história particular, podemos ao menos recordar aos mais novos o opróbrio colectivo.

Para que lembrem sempre que Auschwitz não é uma lenda

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/27/2005 10:20:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Dildo Faq
Uma minha amiga (e da onça), mandou-me este desafio e não me larga a labita se eu não o preencher e fizer seguir.
Bem, confesso que não é muito o meu género, pelo menos aqui no meio da multidão, e como ela não me disse que não podia usar procurador, pedi ao meu amigo Aníbal para responder às perguntas. E nem quero ver as respostas.

1-Have you ever used toys or other things during sex?
R: Sim. Já usei uma espátula que a minha sócia diz que se chama Salazar, uma batedeira eléctrica, uma máquina de cortar relva e um telemóvel em modo vibratório

2-Would you consider using dildos or other sexual toys in the future?
R: Sim. Os anteriores e uma boneca insuflável, porque a minha sócia pirou-se com o guarda-nocturno

3-What is your kinkiest fantasy you have yet to realize
R: Ter a minha sócia de volta, e ela trazer o guarda-nocturno amarrado.

4-Who gave you this dildo?
R: Esta minha amiga que me mandou esta fotografia dela, tirada num dia que foi ao estádio da Luz

5-Who are the ones to receive this dildo from you?
R: Como não conheço ninguém destas pessoas que este meu vizinho que tem o inquérito está para aqui a dizer, eu ofereço esta geringonça a um político com o nome começado por P (este senhor não me deixa dizer o nome). É como se ele fosse para a forma!

E pronto. Tas satisfeita, oh! Lampiona?
Escrito por: VdeAlmeida, em 1/27/2005 10:10:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, janeiro 26, 2005
Segredo

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Senta-te a meu lado e vê:
O que eu procuro é esta solidão.
Mas contigo.
Aqui, neste jardim de bruma
Coberto pelo manto do Inverno
Onde o calor do teu corpo junto ao meu
E o toque leve e carinhoso da tua mão
Me aquecerá a alma e a manhã
E me deixará leve como espuma.
Estende a mão, mexe os dedos,
Sente bem
Esta paz que só existe para nós
Este silêncio que fala, que tem voz
Que nos sussurra que a vida tem sabor
Que devemos vivê-la sempre intensamente
E nunca esquecer numa gaveta
O pequeno pormenor que é o amor

Foto de Antonio Henriques

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/26/2005 08:22:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, janeiro 25, 2005
Seda

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Sentir o teu cabelo, fino como areia seca
Escorregar sedoso entre os meus dedos
Faz-me ter uma vontade firme, intensa
De correr para o mar e entrar por ele
E sem medo, desvendar-lhe os meus segredos
Espalha-o selvagem pelos lençóis
Para que o aroma indefinível que ele solta
Se espalhe sem pudor por toda a parte
Que invada, soberano todo o quarto
E em reflexos de luar solte lampejos
Que se espalharão pelo meu peito como beijos


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Que sejam teus cabelos a coberta
Que me cobrirá, suave, todo o sono
E que o primeiro raio de sol pela manhã
Me venha aos olhos trazido pelos traços
Das mil cores que eles soltam em cascata
E me envolvem no mais terno dos abraços


Escrito por: VdeAlmeida, em 1/25/2005 06:50:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, janeiro 24, 2005
Tempo

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Este tempo nebuloso temperado pela brisa leve que traz a névoa salgada de sul até à minha janela, e a ameaça a pairar de dias ainda mais gélidos de influência polar, deixam-me quase imóvel. É o tempo adequado ao remexer de braseiras que nos aqueçam as mãos e lhes permitam movimento. Parece tempo de memória, de revolver passados, de relembrar passeios. Passos que se deram sós ou com outros passos a acompanhar.
Sinto-me convidado à nostalgia. E aceito o convite mesmo que tantas vezes as recordações sejam povoadas de fantasmas, muitas vezes alados, acompanhando os meus passos.
Os passos que me levam apressados Rua do Alecrim abaixo, com as pontas dos dedos que se enfiam nos bolsos das calças leves, a recontarem as moedas necessárias para o bilhete do comboio que me há-de levar até ao paredão da marginal junto a São Pedro, onde me sento e deixo entrar – me nos pulmões aquele ar espesso de Agosto, que é mais mar que ar. Sinto ainda as pequenas gotas de suor resvalando do cabelo para as frontes, escorregando até aos olhos, incomodando-me a visão.
Os passos que me arrastam, saltitando, perigosamente ansioso a dois e dois, os degraus irregulares da Calçada do Duque, olhando com deslumbrados olhos de menino o casario da Baixa onde sei que me vou perder por ruelas sempre iguais e sempre diferentes, e onde me deixarei envolver pelos sons, os cheiros. O som do recado dado da janela do 2º andar da Rua do Arco Bandeira, do silvo agudo que chama com urgência o táxi, o sobrevivente pregão, ou o murmúrio dos namorados num vão de escada da Rua de Santa Justa. O cheiro da graxa num Largo de S. Domingos dominado pela Igreja e pela Ginjinha, dos fritos das tabernas da calçada do Carmo, da humidade que sobe do rio. Ou o das castanhas assadas nos prenúncios do Inverno.
Os passos que me arrastam avenida acima, até perto do Tivoli, onde me sento à sombra das asas largas de uma árvore, virado para o pequeno lago por onde passeiam os cisnes orgulhosos da sua prole que os segue, obediente, e para um Parque Mayer, ainda local de encontro de artistas, de nomeada ou coristas á procura de lugar de primazia, de nomes grados das letras e de uma pequena marginalidade ligada à prostituição.
Os passos que me fazem atravessar o Jardim da Estrela que, em começo de mais um Primavera solta de si, aquele cheiro adocicado a pólen, que me faz espirrar alegremente, graças ao que anuncia, e me leva a descer a Álvares Cabral, a meio da qual estaco a olhar para a fachada do velho Jardim Cinema, onde tantas tardes foram consumidas, ora no meio de um fumo quase insuportável, à volta de uma mesa de bilhar ou de matraquilhos, em disputa com outros gazeteiros do Liceu, ora na ampla e escaldante sala de cinema, sentado nas desconfortáveis cadeiras de palha a ver pela enésima vez a Ponte do Rio Kwai, com o William Holden e o Alec Guinness, ou o Rio Bravo, com o John Wayne e o Dean Martin.
Os passos detêm-se definitivamente debaixo de um dos arcos que sobrevoam o Jardim das Amoreiras e sento-me num banco de pedra junto da Mãe-d’Água. Por ali, corri de calções e joguei ao berlinde e à bola.
E olho para trás da vida.
Este, é um tempo que passando, me traz a memória. Um tempo roubado à vida sem remorso
"Quem me roubou o tempo que era um
Quem me roubou o tempo que era meu
O tempo todo inteiro que sorria
Onde o meu Eu foi mais limpo e verdadeiro
E onde por si mesmo o poema se escrevia
"
(Sophia de Mello Breyner)

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/24/2005 06:05:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, janeiro 23, 2005
Ladrão

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Insidiosamente, como um vulgar ladrão
Tomando conta aos poucos do meu corpo
Este desejo, espantosamente violento
De te absorver aos poucos pela pele
E te manter escrava em minha mão

Pintura de Magritte

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/23/2005 07:33:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, janeiro 21, 2005
À mulher

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O corpo da mulher, suprema obra da Criação, tem sido cantado e louvado por poetas, por todos os poetas, diria eu, porque será sempre o mote e o mais inspirador mistério da alma masculina.
Dou só o exemplo de Affonso de Sant’Anna que escreveu:
Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.


Ou, realçando o mistério, mesmo que muito conciso:

O mistério começa do joelho para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina.

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Para que não fiquem só as palavras do poeta, ficam também algumas minhas
O teu corpo,
Quase íman do meu
Perfeição de deusa
Isso vejo eu
Basta olhá-lo, e quase invejá-lo
Para o querer nos braços
Senti-lo só meu.
Teu corpo perfeito
Vejo-o à contraluz,
De pé à janela
Ou ao meu lado no leito
Langoroso, deitado
E sinto-o na pele
Febril, transpirado
E é sempre assim
Uma tentação
Um desejo imenso
Que se apossa de mim
Por isso eu sonho
Com intensidade
Que a nossa noite
Não tenha mais fim

(fotos de Joris Van Daele)

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/21/2005 06:01:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Vem

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Vem,
Cavalga nua o dorso do alazão
Como se fosses tu Lady Godiva
Selvagem, beleza extrema e lasciva
Fêmea, cabelo solto à ventania
Indómita na conquista da paixão
Vem
Suspensa da mão de um deus qualquer
Levitar com a leveza de uma pena
Sem, mesmo suavemente, o chão tocar
Dançar sobre o tablado do meu palco
A dança com que me irás arrebatar
Vem
Já se faz noite e eu não resisto mais
Ao apelo da tua pele ou ao teu cheiro
Nem ao teu sorriso solto que me acalma
Vem, que a flor que procuro e tu escondes
Troco-a sem hesitar pela minha alma

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/19/2005 08:41:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, janeiro 18, 2005
Nu Carnaval vou de Zorro

Oije voltei cá todo sastefeito porcagora já teinho um amigo meu, o Ojevaldo que me currije os testos prutanto já escuzam de me andar a mandar meiles a dizer que eu só dou errus e que não precebem nada do que eu vus conto. Mas não çademirem que passe algum pruque ele vê mal e nestas coisas sempre passa qualquer coisa.
O Ojevaldo primo do meu pai que tem uma drugaria e tinha um cágado xamado Cágado e era a mascote da loija e tem bicus de papagaio e anda um bocado curvado lá pela loija mas foi prucausa deles que ele se casou à pouco tempo com a Jaquina que agora é minha prima. É que a Jaquina tem um quintal que dá para as trazeiras onde pelanta couves, alfasses e tumates mas os páçaros, como os tumates dela cumeçam logo a tomar cor e são sempre munto vermeilhos, comemlhus todos. Mas a vizinha dela também os pelanta e estão sempre bunitos cumócaraças. Então a Jaquina preguntoulhe como é que ela fazia e ela contoulhe que tinha comprado umas bolas de chumbo na drogaria e depois as tinha pintado de encarnado que pareçiam mesmo tumates e os tinha posto nus canteiros e então os páçaros tinham lá ido picar e maguaram o bico e nunca mais voltaram. E então a Jaquina tambeim quis ver se conseguia ter uns tumates de jeito e foi à drugaria e perguntou ao Ojevaldo que estava todo dubrado atrás do balcão se ele tinha tumates de chumbo e ele respondeu que não, que eram bicos de papagaio.
Mas á coincidências, como diz a Margarida Rebelo Curreia, e aquilo foi o cumeço do namoro e depois do cazamento e paresse que são munto felizes o que eu axo esquizito pruque ele tem 78 anos e ela 29, a ele já lhe caiu o cabelo quase todo e a ela ainda lhe continua a creçer o bigode. E nem preçebo como ela o consegue indireitar na cama. Agora o que eu axo mesmo estranho é que desde que se cazaram no mês paçado todos os dias têm purblemas de iletriçidade pruque o Jarónimo que é iletricista vai lá todas as tardes logo que o Ojevaldo vai para a loja depois du almoço.
A minha mãe é que diz que aquilo é um cazo de amor munto bonito mas já dizia a mesma coisa de quando o Guedes andava cua Etelvina e depois viusse quando ela fugiu com o gaijo dos Correios.
Eu emcima diçe que o Ojevaldo tinha um cágado pruque já não tem. Era munta grande e munta feio, como andava sempre a arrastarçe pelo xão andava çempre munto sujo e o Ojevaldo não o lavava. E eu há dias tive pena do bixo peguei nele e meti-o numa baçia cheia de água com lichivia para ver se ele ficava branquinho e comecei a esfregar com palha dasso e o cágado começou a deitar bolhas pela boca e fexou ozolhos e nunca maizozabriu. Aicho que o cágado era alérgico à água, mas pelo sim pelo não que já é costume culparem-me de tudo, amandei-u pela pia senão ainda diziam que tinha çido eu o culpado por ele ter batido a bota. Agora o Ojevaldo anda çempre de cu para o ar à procura do cágado. Só espero que a pia não intupa, senão lá fico eu umas poucas de semanas sem ver os beibeleides pruque çó eu é que lá entro e eles não vão acreditar quando eu lhes diçer que secalhar o Cágado tinha tido vontade de çe çervir da pia. Beim, mas vem aí o Carnaval e eu já disse que me quero mascarar de Zorro para usar uma ispada (que já cá teinho) e uma máscara preta, que eu já ando de olho no Black que é o cão do Silva da padaria, para me servir de cavalo e o Beto para fazer de Tonto e o Barnardo, que é um puto gordo que mora aqui ao lado, para fazer de çargento, mas ele não quer, mas eu não tenho mais ninguém para fazer de çargento prutantos ele vai ter que çaguentar á bronca e levar umas espadeiradas senão nunca mais o deicho ficar çózinho com a minha prima Amélia a brincar aos médicus e às donas de casa
O meu pai é que não anda munto convençido. Mas ele é munto esquizito e faz um bixo de sete cabeças de tudo. Vejam lá que ele não uza roupa interior e noutro dia ele estava a vestir as calças de ganga da Leves quando eu peguei no ferro ilétrico com que a minha avó friza o cabelo que fica sempre que parece a madame Pompadur que eu não sei quem é mas é o que o meu pai diz e estava ligado, e ia-u meter no aquário porque vi que a água estava fria demais para os peiches que andavam todos de olhos arregalados e ele viu e curreu para mim não sei pruquê mas ao mesmo tempo puchou o fecho éclér das calças com forsa e intalouçe. Não çei o que é que ele intalou mas amandou um berro e disse um grande palavrão que até acurdou o vizinho do treceiro andar que é polícia e trabalha pur turnos e que curreu pelas escadas em cuecas de caçetete na mão mas que se esqueceu de pôr o capaxinho e agora toda a gente sabe que aquela cabeleira farta que até parecia a minha tia Guilhermina que até tem pelos nas orelhas e eu não gosto nada que ela me beije pruque fico todo lambusado e com a pele da cara toda xeia de impinges, afinal não era dele e agora já ninguém lhe tem respeito nu prédio e ele não fala com o meu pai que anda há duas semanas de perna aberta que até parece que se sentou numa cadeira de pregos. A minha mãe até lhe comprou uma almofada em forma de “O” que ele trás çempre com ele. E eu nunca mais vi os beibeleides. Como se eu tivesse tido culpa de ele se ter intalado. Só se foi os peiches terem ficado esturricados, mas foi sem querer que eu só queria aquecer a água, axo que o ferro de frizar é que istava avariado.

Mas está deçidido: vou mesmo de Zorro. Até já tenho espada. Ando ançioso por esperimentar o novo atissador da lareira que o meu pai comprou na peida do Barnardo

Carlinhos

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/18/2005 11:56:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, janeiro 17, 2005
Feliz fora de mim

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Quero perder-me em teu corpo
Num dia assim
De sol e lua cheia e estrelas
Num céu sem fim
E os teus olhos brilhando
Como adagas
E o teu perfume de mulher
Espalhado pela cama
E as tuas pernas à minha volta,
Contornando
Insaciável, as ancas
E puxando-me a ti
Deixando a paixão solta

Eu quero acabar um dia assim
Solto no teu corpo
Exausto, perdido nos teus braços
Alheio ao mundo e a todos
Nas asas de um anjo e feliz fora de mim

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/17/2005 10:12:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, janeiro 11, 2005
Um ano de voos

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Faz amanhã, dia 12 de Janeiro um ano, que me aventurei a iniciar um blog. Não este, mas o Horizonte Quase Perdido, em que o Phileas Fogg era o meu alter-ego, espaço do qual guardo as mais gratas recordações.
Mas como expliquei quando me mudei, e podem ler aqui,há muito que as saudades de voar como Yardbird se faziam sentir (o Phileas também voava, mas era de balão) e decidi nessa altura a mudança, que não no rumo (ou não rumo) que o blog desde o princípio tinha definido.
Umas vezes mais poético, outras mais leve em tentativas de ser divertido, outras ainda saudoso, sempre fui voando conforme o mood do momento, sempre acompanhado da música que me preenche o dia e a vida.
Houve alturas de desânimo, em que estive prestes a desistir. Acho que acontece a todos, alguma vez. O que me fez ir em frente, além do apoio da família, esta e esta, e também a que vive comigo, foi o carinho dos inúmeros amigos, uns que já vinham comigo há muito e me incentivaram, a minha querida Tati, a minha inigualável Fada Rainha e a minha incomparável Robina, outras/os que fui conhecendo por aqui e que fazem já parte dos meus afectos mais queridos. Não menciono ninguém em particular, os seus ninhos estão aí no lado direito, nos meus preferidos, e os seus donos/as bem aconchegados no meu coração e os/as próprios/as sabem quem são.
Nunca, até hoje, alguém me deixou uma mensagem menos afável. Nunca, até hoje, recebi um mail malicioso ou menos correcto. E isso é algo que me deixa feliz e faz com que esteja agradecido a todos vós, os que se dão ao incómodo de me lerem, mais ainda, de se darem à maçada de me comentar.
E esse é outro ponto importante. Apesar de ter um contador, nunca fiz questão de contabilizar visitas. Mas gostava de ter uma contabilidade de comentários. Sei que foram muitos e que cada um deles me deu um prazer muito especial,porque me fez saber que aquela pessoa naquele preciso momento, me tinha “visitado”, tinha tido uns minutos para perder comigo e dar-me a sua opinião sobre o que eu havia escrito. Isso, faz com que tudo isto faça sentido, dá sentido a este meu voo. Por isso os tenho contabilizados, um a um, no meu coração.
Sim, eu sei que muitos me visitam e muitas das vezes não deixam pegadas à minha porta. Também a esses eu agradeço, porque entendo a opção silenciosa. E o meu carinho por eles não é menor por isso.
A este meu canto devo portanto o prazer imenso de me ter dado a conhecer seres humanos de dimensão invulgar, pessoas que não raro me deixaram comovido, de lágrima ao canto do olho. Logo a mim, que até sou um bocado insensível e de lágrima rara.
O meu voo vai continuar. Não posso precisar até quando. Possivelmente enquanto vocês todos me levarem nas asas do vosso amizade.
Fica pois expressa a minha gratidão pela vossa companhia, pelo vosso afecto, pelo vosso coração sempre aberto à candura.
Obrigado a todos e um bocadinho do meu coração para cada um

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Para ti, amigo, amiga
Que me dás tua atenção
Me deixas aqui carinho
Palavras amigas, calor
Sorrisos em forma de frase
E me enches a vida de cor
Fica a minha gratidão
Desenho em forma de nuvem
Nuvem que é coração
Que bate aqui deste lado
Cada vez que tu me abraças
Com o afecto das palavras
E me abres à emoção

Vic

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/11/2005 10:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, janeiro 10, 2005
Ao Luar

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Naquela noite ao luar
Suave, puxei-te a mim
De uma maneira diferente
Ainda mais ternamente
Como se a tua pele de marfim
Se te pudesse rasgar
A um movimento mais brusco
De tanto te querer amar,
Como se pudesses fugir
Àquele desejado amplexo
Em que te queria cingir.
Não sei porquê o cuidado
Ainda mais acentuado
Se também nas outras noites
Tanto me tinha esmerado
Talvez medo de perder
O que tanto quis manter
Com a força da ternura
De te fazer perdurar
No sorriso, essa candura
Esse brilho no olhar
Ou talvez, tão simplesmente
Nessa noite eu só quisesse
Ficar deitado a teu lado
E olhar-te assim ao luar


Escrito por: VdeAlmeida, em 1/10/2005 10:58:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, janeiro 09, 2005
Porto

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Escorre na ampulheta a vida,
Que é um porto de chegada
e um ponto de partida
Que se espraia indefinido,
quase sofrido, indolente,
A meus pés, aos meus olhos
lentamente
Passado, futuro, presente
E mesmo nos dias tristonhos
é ponto exacto de saída
para tudo aquilo que a vida
escolhe, com rigor, precisa
o que quer da minha vida

Dele me solto para as mil cores
Que o sonho pode ter
Porque sem sonho uma vida
Nem merece ser vivida
Que assim nem chega a ser vida

E por aqui já se entende
que mantenha abertos os braços
aos braços que a vida me estende

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/09/2005 08:36:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, janeiro 07, 2005
Azul

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Aqui, nesta pontinha do hemisfério
Onde a terra rasga o mar como uma faca
Sento-me na rocha agreste e fria
E olho a linha do horizonte indefinida
Como se nela procurasse, insistente
Resposta pronta e certeira para o mistério
Que me traz impaciente noite e dia
Para a pergunta irrespondível que será
Dizer-me qual o sentido desta vida

Deixo assim perder o olhar na imensidão
Deste azul que me envolve com brandura
E quase adormeço em doce embalo
Que as ondas são tão mansas com a mão
Da velha mãe que nos beija e nos afaga
E nos mostra que na terra ainda há ternura

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/07/2005 11:02:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, janeiro 06, 2005
Ponte

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Estendemo-nos assim sobre os lençóis
E a fagulha da paixão chega veloz
Como se o tempo indecoroso nos fugisse
Ficamos pele com pele, desta maneira,
Fundindo-nos em osmose tão perfeita
Que só rio e mar quando se encontram
Se misturam assim sem ter fronteira

Os meus olhos olham a tua perfeição
E a transparente gotícula que te escorre,
Desliza, entre os seios frementes de desejo,
Chama até ti irresistível uma boca,a minha
Urgente, ardente,nunca de ti saciada
E que te a sorve, ávida e sôfrega,num beijo

O teu corpo é uma ponte sobre o meu
E o meu um rio sem leito e sem margem
Vivemos assim fora de formas ou de espaços
Porque o amor não cabe numa imagem
E eu só o reconheço nos teus traços

Escrito por: VdeAlmeida, em 1/06/2005 03:25:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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