Novos Voos - Take Two

sábado, julho 30, 2005
Do país profundo - II

Pastor


Solidão


Penha Garcia14


Afogadas na rocha


Penha Garcia10Penha Garcia13


Pela rudeza dos caminhos


Penha Garcia15


Sinais de passado


Penha Garcia16


Esperanças líquidas


Sortelha13Lilás2


Luz


Sortelha14


Defesas


Sortelha12
Sortelha10
Sortelha15


Urbe


Lilás


La vie en rose


Esta gente cujo rosto
às vezes luminoso e outras vezes tosco
Ora me lembra escravos, ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto de luta e de combate
Contra o abutre e a cobra, o porco e o milhafre.

Pois a gente que tem
o rosto desenhado
por paciência e fome
é a gente em quem
Um país ocupado
escreve o seu nome

Em frente desta gente ignorada e pisada
como a pedra do chão
é mais do que a pedra humilhada e calcada
- Sophia de Mello Breyner Anderson-

Segunda etapa de um périplo feito sob um tempo de bonança, em que o sol queimava menos as fustigadas terras, abrasadas e abandonadas, raianas, pobres de recursos, mas ricas de usos e gentes, generosas na sua rudeza.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/30/2005 11:15:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, julho 29, 2005
Já quis ser como o Steve McQueen

Houve um tempo, longínquo, em que eu quis ser como o Steve McQueen.
Nessa altura, convivia muito com o L, um colega e amigo que tinha várias particularidades que eu apreciava particularmente, o que fazia com que procurasse a sua companhia com assiduidade. Nenhuma dessas peculiaridades tinha a ver com a qualidade escolar, aí, equivalíamo-nos e éramos ambos sofríveis, talvez porque tínhamos demasiadas coisas a desviar-nos as atenções cá para fora, as tardes de cinema ou de bilhar no Jardim Cinema, a música, os desatinos que eram muitos porque a imaginação dele fervilhava sempre de ideias, nem sempre as melhores.
Tinha uma mãe sempre muito presente, uma espanhola muito bonita, com um tipo invulgar, nórdico, que tinha casado muito nova. Andava sempre muito bem vestida e maquilhada, especialmente os lábios grossos vincados a carmim, parecia uma estrela de cinema, o que fazia com que cada vez que aparecia no liceu, houvesse burburinho entre a rapaziada, nessa altura já éramos espigadotes e a atracção pelo sexo oposto já era acentuada. Uma vez o V disse-lhe que ele tinha uma mãe “muita boa” e sugeriu uma situação incestuosa, caso ela fosse mãe dele. Toda a gente riu, mas o L não gostou muito. A verdade é que nós em certas idades não somos um modelo de sensibilidade.
Admirava-lhe a aptidão para surripiar discos, especialmente Lp’s, das discotecas, e caía-me o queixo quando o via sair da loja sem os pagar, mesmo à frente dos empregados, que só faltava desejarem-lhe um “Até à próxima”. Se ele ficasse tão atrapalhado como eu ficava sempre, seria, de certeza, apanhado à primeira.
A descontracção dele era tanta neste género de coisas, que andou praticamente um ano a comer sem pagar no 1500, mesmo ao lado do Pedro Nunes. Como vivia longe de casa, havia aulas de de manhã e à tarde e não havia cantina, os pais davam-lhe dinheiro para almoçar fora. O 1500 era o sítio mais próximo. Tinha um balcão grande e vários empregados, mas aquilo era um bocado desorganizado, os empregados não tinham zonas específicas distribuídas, pelo que o mesmo cliente acabava por ser atendido por 2 ou 3 diferentes e a conta era feita no guardanapo e dita ao cliente. O L reparou nisso e quando acabava a refeição, levanta-se e saía normalmente. Os empregados pensavam sempre que ele tinha pago a outro colega. E no outro dia, lá voltava ele, com o ar mais descontraído possível para comer à borla.
Era assim que acumulava somas muito razoáveis, e como gostava de cinema como eu, nunca faltava às estreias no S.Jorge, à custa de uma tarde de gazeta. E uma vez convidou-me para ver uma coboiada. “É com o Yul Brynner, já me disseram que é um espectáculo”. E como o bilhete era de borla, fui.
O filme era “Os Sete Magníficos”, e foi nessa tarde que travei conhecimento com o Steve

Steve - Os 7 magníficos


A fita era efectivamente muito boa e integrava uma constelação de actores. Nunca tinha visto nenhum filme com o James Coburn e achei espectacular o seu desempenho, conheci o Charles Bronson (acho que foi o único filme decente que vi dele), e claro, havia o Yul. Mas quem me chamou a atenção foi aquele homem de olhar profundo, que respirava tranquilidade.
A partir de então segui-lhe a carreira. A seguir, acho que vi “A Grande Evasão”, e nunca mais me esqueci daquele, ploc, ploc, da bola de beisebol que ele atirava contra a parede, nem o salto por cima do arame farpado dos nazis, montado na sua moto. E o "Bullit", onde assisti à, até então, mais louca e espectacular perseguição em automóvel, pelas ruas de S. Francisco. Por causa disso, durante alguns anos, o meu sonho de carro foi aquele Mustang.

Stevemcqueen Moto


Admirava-lhe aquela a sua calma, aquele ar imperturbável de quem parece ter sempre tudo sob controlo, o seu sorriso fugaz, quase imperceptível. Até aquele cigarro sempre ao canto da boca, companheiro inseparável que acabou por lhe abreviar a vida, que lhe dava um aspecto de Lucky Luke da vida real, e que nos dias de hoje lhe daria uma imagem muito politicamente incorrecta, mas na altura, lhe compunha a imagem do homem macho que então Hollywood exigia. Admirava-lhe a postura, e achei sempre que nada daquilo era pose, não demonstrava a mínima afectação.
Foi, provavelmente, se não o meu herói, acho que o único que alguma vez tive foi o Peter Pan (há uns dias li uma entrevista com o Alice Cooper onde ele afirmava que sempre preferira o Capitão Gancho, e percebi então porque nunca apreciei a sua música), mas um modelo de personalidade, muito cool.
Que, confesso, nunca consegui assumir.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/29/2005 03:00:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
quarta-feira, julho 27, 2005
Janelas fechadas

janelas fechadas


Sempre transpareceu serenidade.
É inteligente sem ser sobredotado, e sabe que o é. Nota-se que, sem ser vaidoso – nunca faz alarde do que sabe – tem orgulho no que sabe. É diligente, atento, pelo que aprende com facilidade. Porque quer aprender. Lê tudo, absorve o que lhe chega, e encrespa-se um pouco, embora quase sempre de forma mansa, se lhe tentam desviar a atenção, quando se concentra em algo que lhe interessa.
Mesmo o senso de humor, que antes me parecia faltar-lhe um pouco, se foi refinando, e não raro, conta uma ou outra anedota, por vezes até, com um humor arguto pouco habitual em alguém da sua idade.
Passeia-se comigo paciente e alegremente. É bem disposto e parece sempre feliz. Estende-me o dedo mindinho, e eu retribuo o gesto, e assim vamos, com os dois dedos enrolados um no outro, como que para não perdermos contacto, ou então estende-me a mão pequena, que se perde na minha, quando há muita gente e pensa que há o perigo de se perder. De vez em quando tem uma tirada que me faz rir. De outras, faz reparos que me surpreende pela agudeza de espírito, e pelo interesse que demonstra pelo que o rodeia. Já reparei que, mesmo quando parece ausente, nada lhe escapa.
Gosta da presença e das brincadeiras dos miúdos da sua idade, mas não lhes exige a presença, pelo que estes dias de férias são passados quase sempre sem companhias da mesma idade, mas não se queixa. Convive portanto bem com os adultos e consigo próprio e quase se basta a si mesmo para preencher o seu dia.
Que como disse, decorre serenamente. Sem exigências de espécie alguma, sem birras, reparte-se entre os passeios, as idas à praia, onde a areia e o mar lhe fornecem suficiente matéria-prima para lhe preencher o tempo, a leitura (tem andado a ler o D. Quixote, mas todos os dias lê os quadradinhos da Mónica e do Cebolinha), e o canal Disney.
E no entanto, a noite chega trazendo consigo a ansiedade. Deita-se e adormece, mas o sono raramente é sossegado. Por vezes fala angustiantemente, sinal de que tem pesadelos. Quando o ouvimos, acorremos. Se não damos por nada, é certo que pouco depois se levanta e vem lá, pedindo baixinho a companhia de um de nós. Já me aconteceu chegar ao pé dele para o sossegar, e dar com aqueles olhos grandes e escuros, muito abertos na penumbra, na procura ansiosa da presença de quem ele sabe que o ama e o defenderá sempre daquelas sombras nocturnas. Estende-me a mão, e segura a minha, e adormece novamente, mais sossegado. Mas raramente durante muito tempo. As noites são sempre uma sucessão de pequenos e perturbados sonos
E no entanto, apesar da sua agudeza de espírito, não consegue dar conta do que o inquieta. Parece que a sua mente mantém, voluntariamente, janelas fechadas que se recusa abrir a si próprio e aos outros.
E isso provoca alguma inquietação em nós, que com ele convivemos. Talvez até mais do que aquela que ele sente.
Porque não conseguimos determinar que angustias estranhas poderão assim envolver de desassossego as noites de uma criança aparentemente tão serena.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/27/2005 04:20:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, julho 25, 2005
Espera

praia2


Aguardo sempre ansioso pelo estio
do sol ardente e desta brisa breve
que me lambe a pele, suave e varre o frio
do corpo espalhado em leito quente
do desejo que corre à solta como um rio

Da modorra, da preguiça, da indolência
do sonho que não lembro pela manhã
da ansiedade, dos espasmos, da dormência
do explodir incontrolável do vulcão
que é o corpo em noites quentes de verão



Foto de Manuela Morgado

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/25/2005 03:03:00 da tarde | Permalink | | ( 5)Comentários
quinta-feira, julho 21, 2005
Geometria descritiva

cama


A tua boca húmida entreaberta,
latente tentação chama-me muda
e eu, que só espero o teu olhar
para, obediente escravo, sucumbir
cedo, não resisto e sem pensar
ávido me suspendo, e paralelos
entranhados na paixão, vemo-nos ir
na solícita escuridão do madrugar
Quase não te reconheço os traços
só adivinho formas, sigo cheiros
e acolho-me suado e devagar
no triângulo isósceles orvalhado
E adormeço, depois feliz, cansado
no geometria perfeita do teu peito,
no ângulo exacto dos teus braços

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/21/2005 05:00:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, julho 19, 2005
No teu colo

Dorso1No teu colo

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/19/2005 03:25:00 da tarde | Permalink | | ( 5)Comentários
domingo, julho 17, 2005
Perfeição
Barco

Foi neste fim de tarde azul e lento
de mar sereno e sol na minha mão
que peço á gaivota alva e breve
que me conte do mundo, a perfeição
E à ave, de bailado tímido e arisco
entendo-lhe o gesto e a intenção
quando obediente e muda aos pés me poisa,
e de olhos parados fixos no horizonte,
me diz que a perfeição está naquele mar
no céu, no sol, e na lunar amante
no sorriso, no olhar, na mais pequena coisa



A perfeição
O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fracção de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exactidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exactidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

(Clarice Lispector)


Foto de Paulo Bizarro
Escrito por: VdeAlmeida, em 7/17/2005 11:13:00 da tarde | Permalink | | ( 6)Comentários
sexta-feira, julho 15, 2005
Pelo interior profundo I - Monsanto

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Desde a aurora
Como um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,

entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:

vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:

é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago:vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.

Sou eu,desde a aurora,
eu-a terra-que te procuro.


(Eugénio de Andrade)

Resquícios de dias passado em terras ardentes e sedentas, antigas. Mistura de pedras com história, com a poesia telúrica de Eugénio. Terra que nunca cansa percorrer, apesar da rudeza do granito, e caminhos sinuosos e empinados nas faldas agrestes, apesar da inclemência do sol que curte as peles, impiedoso nestes dias de brasa.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/15/2005 08:12:00 da tarde | Permalink | | ( 3)Comentários
quinta-feira, julho 14, 2005
Notas soltas
Notas soltas dos últimos dias:
1 - O Eugénio foi assistir a umas provas de surf na Ericeira e veio de lá com vontade de comprar uns calções de banho da Billabong. Falou nisso no café mas disse que andava um bocado teso e os calções custavam 60€, verba que estava fora do seu orçamento. O Aníbal disse que tinha uns daquela marca, novinhos em folha, que queria vender porque não lhe serviam, eram M e ele usa XL, e que lhos vendia por 25€. O Eugénio aceitou logo e o Aníbal foi buscar os calções a casa e fizeram a transacção. Em casa o Eugénio pôs os óculos e verificou que a marca dos calções era Pillaboing. Pela qualidade, aquilo foi comprada por 5€ na feira de Carcavelos
Eu já o tinha avisado que em negócios com o Aníbal devia ter-se muita atenção, e conferir muito bem a mercadoria antes de concluir o negócio.
E sobretudo nunca esquecer os óculos.


2 – O Vidal no mês passado decidiu pedir à NetCabo que lhe instalasse um canal erótico porque, disse ele no café, queria abrir novos horizontes às suas relações com a mulher, uma vez que os saltos de cima do guarda-fatos o enchiam de equimoses e fracturas. Acrescentou ele, que precisava de estímulos, porque a relação se estava a tornar monótona.
Foi pior a emenda que o soneto. A mulher, no dia seguinte a assistir a uma sessão de Sexy&Hot começou a fazer comparações desprimorosas entre o Vidal e os tipos que entravam nos filmes a que ela assistiu. E mais grave foi que fez os remoques em público, na tasca do Adérito. O desgraçado do Vidal já nem tem lata para aparecer, mas soube que anda nuns tratamentos quaisquer. E inscreveu-se num ginásio para fazer alongamentos.

3 – Conversa do meu tio Osvaldo com o seu médico de geriatria, durante uma consulta à qual o acompanhei:
Depois de lhe ver a garganta, de o auscultar e de lhe fazer a apalpação do abdómen, o médico diz-lhe:
- Sr. Osvaldo, o senhor sofre de aerofagia.
- De quê, Sr. Doutor? – o meu tio Osvaldo já ouve muito mal
- De aerofagia. Sofre de gases.
- Sofro, sr. Doutor? Mas se já é o único prazer que me resta!
Fiquei um bocado envergonhado e aquilo não era nada comigo

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/14/2005 10:17:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, julho 12, 2005
It's a wonderful world

Elefante - Gregory Colbert

Foi essa a primeira vez que vi o homem sorridente, vestido com bombachas e turbante, que se apresentava como uma personagem tirade de um romance de Salgari:
- Bom dia. Chamo-me Simpah e sei fazer tudo.
Faltava-nos um electricista a bordo, e quando o capitão o informou de que todos os tripulantes eram voluntários, de tal modo que não era muito o que se lhe podia pagar para dar uma vista de olhos às máquinas, respondeu que o dinheiro não lhe interessava. Dava-se por satisfeito se o deixássemos no próximo porto de destino.
- Assim me aproximarei mais do paraíso – disse ele.
- Como é o paraíso? – perguntou alguém.
- Bastante triste. Mas eu sou feliz por lá – respondeu.
[...]


Animal na cabeça - Gregory Colbert

Num dos meus sonhos de infância, Sandokan ficou seriamente ferido depois de enfrentar uns negreiros holandeses e o muy leal Yañez não estava com ele. Mas estava eu, aflito ao pé do herói caído, e, lutando contra as lágrimas, perguntei ao Tigre da Malásia, que é que devia fazer.
- Procurar Yañez. Põe a embarcação a todo o pano rumo a Madagáscar – respondeu-me ele.
Muito tempo mais tarde, em 1984, encontrava-me eu em Moçambique, e tornei a ter o mesmo sonho num quarto do Hotel Sevilha, em Maputo.

[...]Uma noite, numa taberna de Tamarave, comecei a preocupar-me porque não tinha encontrado a mínima pista de Yañez, de tal modo que, para pensar melhor, emborquei uns copos do bom rum da ilha e fumei um desses charutos a que as mulheres dão forma fazendo-os rolar pelas coxas generosas. De repente, sem dar por isso, as minhas mãos uniram-se ao rítmico tamborilar dos dedos nas mesas, e deixei-me levar pelos contadores de histórias que falam de dias muito distantes, de uma liberdade arrebatada por negreiros franceses e holandeses, de uma Polinésia a que os malgaxes regressam todas as noites, na alucinada barca do tabaco e do rum, na mesma barca infinita dos sonhos onde por fim encontrei Yañez, e soube por ele que Sandokan estava bem, muito bem, recuperado e pronto para os novos combates, porque as feridas dos heróis da literatura são rapidamente curadas com o bálsamo da leitura.

As fotos são de Gregory Colbert, e os excertos são de As Rosas de Atacama, de Luís Sepúlveda, leitura a que regresso sempre que quero sentir a poesia de outras vidas. Sempre que quero sentir a solidariedade a correr solta pelas linhas. Sempre que quero ler sonho e liberdade

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/12/2005 09:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, julho 11, 2005
Gardénia


Hoje queria recordar
uma flor, uma gardénia, aquela
que um dia, com amor
me puseste na lapela
e eu te levei a dançar
ritmos quentes
em noite morna de luar
queria descrever
as ondas de desejo
que nos envolviam os corpos
indolentes
como te pegava na mão
e te puxava a mim
envolvendo-te a cintura,
fina, de cetim
enquanto os nossos pés
seguiam a cadência
e os meus lábios, ao de leve
sentiam a tua pele
sedosa e pura
e como sem qualquer prudência
chegámos àquela madrugada
profundos um no outro
unidos num só, pelo aroma
daquela gardénia imaculada

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/11/2005 10:27:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, julho 09, 2005
A tanga de ramagens

Tanga de ramagens


Pronto! Para não me escreverem mais mails a pedir uma fotografia minha com a tanga das ramagens, aí fica uma foto da tanga. Mas só da tanga! O resto não é meu! Que eu não me depilo!
Logo vos conto a trágica história do "Tripé".

Até lá, e boa praia. Quem sabe não nos cruzamos!

P.S.- Entretanto, consegui uma foto que vos dá uma perspectiva da minha tanga vista de trás. Acho que nesta dá para ver bem melhor as espectaculares ramagens.

Fato de banho - Vista de trás

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/09/2005 09:32:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, julho 07, 2005
Novidades aqui do sítio
O Adérito anda muito arisco comigo. Já nem me limpa o balcão antes de me servir a bica (depois do episódio da pinça, decidi que era melhor não voltar a consumir no Mohandas). Agora, ando na dúvida do que terá sido. Das duas uma, ou foi a poesia que ele recebeu do Aníbal aqui há dias, ou é inveja da minha toalha com a Pamela Anderson.
Eu conto. Quanto à poesia, o Adérito correu com o Aníbal do rol dos fiados, e como o Mohandas também acabou com os fiados para toda a gente, o Aníbal, que como sabem é calceteiro marítimo, agora anda à rasca e não sabe onde é que há-de beber à conta. E veio ter comigo a pedir-me para eu lhe fazer uns versos assim para o dramático para ver se comovia o Adérito. Eu pensei, pensei, e achei que o melhor era fazer-lhe a vontade, se não todos os dias me crava a mim. E então fiz-lhe estes versos:

Nunca mais vais voltar
a comigo cruzar um olhar
Não! não mais me voltarás a ver
á tua porta, assomar
com o meu sorriso e este meu ar
e a minha vontade de comer
seja o que for,
uma bifana, um coirato
um carapau de escabeche no prato
Ou mesmo que seja só
para uma imperial aqui beber
Não! não mais me voltarás a ver!
Jamais os teus olhos desconfiados
verão sequer a minha sombra
a tua porta imunda voltar a transpor,
a partir de hoje não contes mais comigo
já que te recusaste voltar-me a pôr
na tua extensa lista dos fiados.


Ora o Adérito, acha que o Aníbal, apesar de ter o curso de Testemunha de Jeová, e também ter sido Elder durante uns dias (enquanto a Idalina padeira lá andou), não era capaz de fazer os versos. E depois, começou a avaliar em voz alta as pessoas que se dão com o Aníbal, somou 2+2 e começou a perguntar-me se teria sido eu. Claro que neguei, e até cheguei a jurar pela voz da Elisa, mas acho que ele não acreditou. E então disse-me que se ia “esquecer” de tudo se eu lhe vendesse a toalha da Pamela Anderson, que por acaso causou uma grande sensação por aqui, e todos me a cobiçam. Deixo uma foto que lhe tirei, para verificarem da sua grande beleza estética, e da pouca surpresa que causará a cobiça que desperta.


O problema é que de cada vez que vou até à praia, a desenrolo e me deito em cima dela de barriga para baixo, depois é um sarilho para me virar de costas, não sei se me entendem...
Mas até agora tenho resistido aos apelos do Adérito, até porque já voltei ao Continente e eles já lá não têm nenhuma igual. Entretanto aproveitei foi para comprar lá umas havaianas bestiais que me custaram 4,5€, mas valem bem o dinheiro.
Ora vejam:


São muito sóbrias, e condizem com as ramagens da tanga de banho que comprei há umas semanas. O pior é que a Elisa anda a dizer que para a tanga me ficar bem, vou ter que me depilar. A rapariga anda-se a passar! Como se eu alinhasse em perder o meu rico pelame! Nem me imagino todo pelado! Mas do fato de banho, não deixo fotografia, já chega de partilhar com vocês as minhas intimidades, até porque acho que é um bocado ousado para estar aqui a expor, que isto é um blog sério.
*****
Há uns tempos contei-vos que a Etelvina tinha apanhado o marido, o Machado, na cama com o Artur, que é trolha e é mais conhecido como o “Tripé”, e que depois os dois apaixonados, como a Etelvina recusou a proposta do Machado de viverem a três, foram viver para a pensão da Adozinda.
Ora o Artur, apareceu-me muito desgostoso, porque o Machado tinha fugido com um rapaz novo, que é ucraniano e faz strip num club para senhoras, ali para Cascais. Ele apanhou-me no Jardim da Estrela sentado num banco a ler A Bola, e sentou-se a meu lado, e desatou a chorar, agarrado ao meu braço, e eu não tive hipótese de escapar, e lá tive que gramar com o pobre do cabo-verdiano a contar-me a história da sua vida. Mas ao menos já fiquei a saber porque lhe chamam “Tripé” (embora cá para mim, não me parecendo mal o petit-nom, acharia mais adequado por exemplo, “O Demolidor”). Além de mais uns quantos episódios escabrosos...
Mas isso é outra história, e conto-a amanhã.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/07/2005 02:39:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, julho 05, 2005
Praia

Praia do Carvalho 4


Recomeço a partir de muito pouco,
nesta praia onde a areia, húmida e
sombria, erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos[...]
(José Agostinho Baptista)


Praia do Carvalho 2


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
(Sophia de Mello Breyner)


Outros tempos


E há sonhos que me habitam as memórias
e há cheiros, há sabores e céus imensos
e há reminiscências, há histórias
e há o mar de azuis profundos, tão intensos
que me entra pelos olhos sem pudor
e me deixa quase inerte sobre a areia
como amante na ressaca do amor

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/05/2005 03:35:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, julho 04, 2005
Actrizes de corpo inteiro

Tirei uma parte deste fim-de-semana, ou do que restou dele, depois de uma curta e rápida viagem, consequente reinstalação e habituação aos velhos hábitos, para pôr em dia alguns dos filmes que tinha por ver (é o resultado da tal pipoco-fobia)
Se tinha perspectivas animadoras de um deles, Million Dollar Baby (não me defraudou, quer o argumento, quer os desempenhos de uma fabulosa Hillary Swank, de um cada vez mais apurado Clint Eastwood, ou do sempiterno Morgan Freeman, são do melhor que tenho visto), do outro,The Aviator, tinha dúvidas sobre se seria do meu agrado, uma vez que, se Martin Scorcese é uma garantia de qualidade, já o Leonardo nunca foi santo da minha devoção.

The Aviator


Até agora. Porque tenho que dar a mão à palmatória e admitir que o rapaz tem um desempenho a todos os títulos notável, muito bem secundado pela Cate Blanchett, que nos dá uma impressiva Katherine Hepburn, de tal forma que alturas houve no filme que pensei estar a ouvir a original.
Mas o que me deixou surpreendido foi a “Ava Gardner” de uma Kate Beckinsale sóbria, mas cada vez mais a dar uma dimensão maior aos seus desempenhos. Na verdade, da sua geração será, não só das mais sedutoras faces, como também uma das melhores actrizes. E dei comigo a reflectir sobre as exigências que cada vez são maiores para as mulheres que se dedicam ao cinema, o que, na sua luta pela emancipação e igualdade (que há muito deviam ser realidade), acaba por ser de certo modo gratificante.
Onde quero chegar? Sou um amante do cinema desde sempre, e conheço uma parte muito significativa da filmografia desde o cinema mudo. E se nos primórdios e até certa altura o principal, muitas vezes até, só o necessário, era ter um corpo de forte apelo sexual e um palminho de cara, agora isso só não basta. No tempo da Ava Gardner

ava-gardner-003

agora protagonizada pela Kate, contavam-se pelos dedos as boas actrizes: Bette Davis, Katherine Hepburn, Ingrid Bergman, Gloria Swanson, em Hollywood. Pela Europa, Anna Magnani. E pouco mais. Curiosamente, nenhuma delas, excepção feita à Bergman, primava pela beleza. Talvez também Kim Novak ou a minha preferida, Lee Remick, fossem nomes a considerar, e aí, já as duas vertentes se conjugariam e bem.
Nos anos 40 a 70, as grandes divas, de Lauren Bacall a Ava, de Rita Hayworth a Marilyn, de Brigitte a Loren, nenhuma atingia níveis de excelência na representação. De Ava, elogiava-se a beleza exótica, a Rita as curvas estonteantes. A Marylin e a Brigitte, a sexualidade de cada pose, a Lauren, os olhos fascinantes. Loren e Jane Russel, apresentavam bustos exuberantes. E estes eram os argumentos esgrimidos pelas candidatas ao estrelato. A poucas se elogiava o talento.
Ontem eram deusas do écran. Hoje, estariam certamente condenadas a carreiras medíocres, equivalentes à de uma Pamela Anderson.
Hoje os padrões são outros, e é assim que actrizes como Hillary Swank, Kate Beckinsale ou a homófona Cate Blanchet, Audrey Tatou ou Ludivine Seigner, Angelina Jolie ou Scarlett Johansen, têm muito mais para oferecer que só um rosto ou um corpo. Apesar de também eles não serem despiciendos.

Está ultrapassado enfim o tempo, em que as mulheres só gozavam o estatuto de actrizes completas depois de ultrapassarem a meia idade.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/04/2005 07:59:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, julho 03, 2005
Aromas

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Ao aroma da magnólia e das limas
que absoluto me impõe a sua presença
junta-se a suave brisa da maré
que me beija a pele tão ao de leve
que parece ser miragem de tão breve


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(foto de Sílvia Antunes)


E há este perfume de verão e de romã
que me deixa rendido em braços de preguiça
e me faz desejar que chegue a noite
para que me estenda e sonhe nos seus braços
de estrelas, de mar e de sargaços

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/03/2005 06:25:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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