Novos Voos - Take Two

sexta-feira, junho 30, 2006
Tonight, we fly

…e amanhã estou aqui…
Praia Odeceixe


Como tem sido evidente nos últimos tempos, a minha veia poética anda um bocado esmorecida – ou preguiçosa – isto na melhor das hipóteses, que na pior, terá mesmo soçobrado por inacção.
Mas não vos queria deixar nestes dias em que estarei ausente, sem uma poesia, e a que segue até está de acordo com estes dias, para além de serem de uma poeta de eleição:
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela prai extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e á lua
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exaltação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro
(Sophia de Mello Breyner)

Praia1

Quem me dera ainda como tu
ingénuo, puro e tão menino
correr pela praia em desatino
abrindo à onda mansa o peito nú
e sorrir feliz ao sol e ao destino
(Yardbird)

Pois, esta é para não se dizer que é só copy/paste.
Façam o favor de serem felizes, que eu vou para sul, e já volto.
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/30/2006 10:25:00 da tarde | Permalink | | ( 3)Comentários
terça-feira, junho 27, 2006
Gosto muito de você, Leãozinho
Leãozinho2


A tua professora não podia ter escolhido outro animal que melhor personificasse a bravura e o denodo com que enfrentas a vida e as maldades que ela te vai fazendo.
O primeiro obstáculo, e apesar das dificuldades acrescidas, ultrapassaste-o agora com a facilidade que todos os que te conhecem esperavam. Outros se seguirão, mas nós todos temos a certeza, que no que depender de ti, todos eles serão ultrapassados com a mesma firmeza com que este foi.
Parabéns, meu querido neto! Tenho muito orgulho em ti.


Gosto muito de te ver leãozinho
caminhando sob o sol
gosto muito de você leãozinho
para desentristecer leãozinho
o meu coração tão só
basta eu encontrar você no caminho
um filhote de leão raio da manhã
arrastando o meu olhar como um ímã
o meu coração é o sol pai de toda cor
quando ele lhe doura a pele ao léu
gosto de te ver ao sol leãozinho
de te ver entrar no mar
tua pele tua luz tua juba
gosto de ficar ao sol leãozinho
de molhar minha juba
de estar perto de você e entrar numa

(Leãozinho - Caetano Veloso)
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/27/2006 05:19:00 da tarde | Permalink | | ( 4)Comentários
quarta-feira, junho 21, 2006
Terras do fim do Mundo

Creio não errar muito ao afirmar que, pondo de lado os estados emocionais que nos ligam ao amor e aos seres que nos são queridos, uma das aspirações maiores de alguém minimamente curioso e interessado, será correr mundo, conhecer outras gentes e culturas, contribuindo assim para a plena realização pessoal.
Começa-se timidamente em criança, através dos quadradinhos de Hergé, que pelas mãos encantadas de Tintin nos leva do Congo ao país dos Aztecas, passando pelos Himalaias e até pela Lua. Ou pelas palavras de Salgari, que, nos torna bravos como Sandokan, e com ele se desbravam os tumultuosos mares do Índico, e as florestas selvagens do sub-continente indiana mais a miríade de ilhas que lhes ficam próximas.
Mais tarde, com aquele pragmatismo do adolescente que já sabe distinguir perfeitamente a fantasia da realidade, juntando a isso uma noção exacta de saber perfeitamente o que se quer fazer, embarca-se para o mundo todo na pele de Corto Maltese. Vai-se a Samarcanda e passa-se o estreito de Magalhães. Conhece-se o mundo e as mulheres exóticas que Pratt serve em incomparáveis aguarelas ou severos traços negros.
E em adulto, tenta-se cumprir o sonho, indo a lugares que até então se acolhem somente na imaginação.
Tendo-o feito na medida do possível, nos últimos tempos tem sido grande o apelo que vem de longe, dos confins da América do Sul, da Patagónia, da Terra do Fogo

TerraDoFogo_800

muito graças aos livros de Luis Sepúlveda, escritor apaixonante e apaixonado pela sua terra, trota mundos e eterno defensor de todas as utopias.
É com ele que tenho ido a essa terra distante, nos confins do mundo, a última fronteira do hemisfério sul, um território dividido pelo seu Chile natal e pela Argentina, quase intocado, defendido pelas suas barreiras naturais e pelas suas temperaturas quase insuportáveis.
Mas a viagem imaginária não chega, e o apelo de Ushuaia, terra agreste perto da qual a maior das colónias de pinguins nidificam, é cada vez maior e vai-se tornando irresistível.
Veremos se o sonho se cumpre.
**********

000000 Ushuaia

A norte de Manantiales, povoado petrolífero da Terra do Fogo, levantam-se as doze ou quinze casas de uma Calheta de pescadores chamada Angostura. As casas são habitadas apenas durante o curto Verão austral. Depois, durante o fugaz Outono e o longo Inverno, não são mais do que uma referência na paisagem.
Angostura não tem cemitério, mas tem uma pequena sepultura pintada de branco e virada para o mar. Nela descansa Panchito Barria, um menino falecido aos 11 anos. Em todo o lado se vive e se morre – como diz o tango “morir es una costumbre” -, mas o caso de Panchito é tragicamente especial, porque o menino morreu de tristeza.
Antes de fazer três anos Panchito teve uma poliomielite que o deixou inválido. Os pais, pescadores de San Gregório, na Patagónia, atravessavam todos os verões o estreito de Magalhães para se instalarem em Angostura. O menino viajava com eles, como um vulto amoroso que permanecia colocado nuns cobertores a olhar para o mar.
Até aos cinco anos Panchito Barria foi um menino triste, insociável, e quase não sabia falar. Mas um bom dia ocorreu um desses milagres habituais no sul do mundo: uma formação de vinte ou mais golfinhos austrais apareceu diante de Angostura, deslocando-se do Atlântico para o Pacífico.
Os naturais do lugar que me contaram a história de Panchito afirmaram que mal os viu, o menino soltou um grito dilacerante e que à medida que os golfinhos se afastavam, os seus gritos aumentavam em volume e desconsolo. Finalmente, quando os golfinhos desapareceram, da garganta do menino saiu um guincho agudo, uma nota altíssima que assustou os pescadores e espantou os comorões, mas que fez regressar um dos golfinhos.
O golfinho aproximou-se da costa e começou a dar saltos na água. Panchito animava-o com as notas agudas que saíam da sua garganta. Todos perceberam que entre o menino e o cetáceo se estabelecera uma ponte de comunicação que não requeria qualquer explicação. Acontecera porque a vida é assim. E ponto final.
O golfinho permaneceu diante de Angostura durante todo aquele verão. E quando a proximidade do Inverno ordenou que abandonasse aquele lugar, os pais de Panchito e os outros pescadores comprovaram com assombro que o menino não manifestou o menor indício de pena. Com uma seriedade inaudita para os seus cinco anos, declarou que o seu amigo golfinho tinha de partir, pois de outra forma seria apanhado pelos gelos, mas que no ano seguinte regressaria.
E o golfinho regressou.
Panchito mudou, tornou-se um rapaz loquaz, alegre, chegou a brincar com a sua condição de inválido. Mudou radicalmente. As suas brincadeiras com o golfinho repetiram-se durante seis verões. Panchito aprendeu a ler e a escrever, a desenhar o seu amigo golfinho. Colaborava, como os outros meninos, na reparação das redes, preparava lastras, secava mariscos, sempre com o seu amigo golfinho a saltar da água, realizando proezas só para ele.
Certa manhã do Verão de 1990 o golfinho faltou ao encontro diário. Alarmados, os pescadores procuraram-no, rastrearam o estreito de ponta a ponta. Não o encontraram, mas tropeçaram num barco-fábrica russo, um dos assassinos do mar, navegando muito perto da segunda angustura do estreito.
Dois meses depois Panchito Barria morreu de tristeza. Extinguiu-se sem chorar, sem balbuciar uma queixa.
Eu visitei o seu túmulo, e dali olhei para o mar, para o mar cinzento e agitado do Inverno incipiente. O mar onde até há pouco retouçavam os golfinhos.

-(Luís Sepúveda, in Patagónia Expresso)
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/21/2006 12:43:00 da tarde | Permalink | | ( 5)Comentários
quarta-feira, junho 14, 2006
Um gozo pessoal com um ano
Os Dias da Musica

Faz hoje um ano que o iniciei.
E apesar de ultimamente ser menos assíduo a actualizá-lo do que era costume, o gozo que me dá fazê-lo continua a ser o mesmo que no início, uma vez que dele transpira uma das minhas paixões de sempre.
Agora, espero que o tempo seja complacente, e me permita actualizá-lo mais ou menos diariamente, como era primitivamente o meu intuito.
Agradeço a todos os que o visitaram, a atenção que tiveram para com aquele meu canto especial.
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/14/2006 10:19:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, junho 12, 2006
Palavras líquidas e cores
tríptico Jean Charles Folliet

Verto-me no papel liso
em palavras líquidas e esparsas
como pingos de chuva rara
em tarde quente de verão.
E dissolvem-se, dóceis na areia
sem sombra de tristeza, saudade ou solidão.
Há um rumo certo, pendular
que as acerta, paralelas quase sempre
como corpos lascivos
a que algum pudor quisesse separar.
Algumas repetem-se.
Com insistência.
Desejo, amor, paixão
porque mais desejadas
por colorirem só por si
uma existência
Sempre com cores certas,
pendulares, líquidas e esparsas
como pingos de chuva rara
em tarde quente de verão


Foto de Jean Charles Folliet
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/12/2006 10:57:00 da manhã | Permalink | | ( 1)Comentários
segunda-feira, junho 05, 2006
O Codigo mais fragil
logo2

O Código da Vinci, o ultra-publicitado (e lido) escrito de Dan Brown, é um livro interessante, especialmente pelas polémicas que despertou, as quais, na minha opinião, foram de certa forma absurdas, uma vez que quem o lê deveria ter sempre presente que se trata de uma obra de ficção. Lê-lo de forma diferente da que se lê a “Morte entre as ruinas” da Agatha Christie é da responsabilidade de cada um, e consequentemente, as conclusões da leitura enviesada.
Claro que o autor sabia que muita gente iria extrapolar, e que de tal iria tirar dividendos, e isso nem abona em seu desfavor.
Li o livro de forma ligeira, e apesar disso, não me eximi a, por várias vezes me interrogar sobre algumas questões que o escrito levanta, mas nunca nada que me causasse sobressaltos. Considerei que, como livro policial tinha todos os condimentos para prender o leitor descontraído.
Agora, e dada a forma como o filme a que deu origem foi recebido pelos críticos, foi da mesma maneira que me dispus a ir vê-lo. Tinha por si a participação de Audrey Tatou, uma Amelie inesquecível, Jean Reno, que para mim será sempre Leon, o Profissional, um Tom Hanks, que embora não seja dos actores que mais gosto de ver actuar, tem a seu crédito Forrest Gump, um dos meus filmes de sempre, e Alfredo Molina, cujo talento, diziam, excedia o papel. O resultado é que nem sei como classificar. Audrey é banalizada pelo filme, Tom tem uma performance sem chama, aqui e ali mesmo desastrada, engolindo palavras ou até frases, e de Reno e Molina vê-se pouco. Salva-se do naufrágio IanMcKellen, com uma performance assinalável.
Quanto ao filme propriamente dito…bom, só acrescentarei que é aconselhável ler o livro antecipadamente, sob pena de muita da intriga passar completamente ao lado. E quando um filme que pretende causar suspense não tem um único momento que possa causar alguma tensão no espectador, então penso que está tudo dito
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/05/2006 11:05:00 da manhã | Permalink | | ( 1)Comentários
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