Novos Voos - Take Two

segunda-feira, fevereiro 28, 2005



Pescador



Hoje eu quero ser só pescador.
Quero pescar do mar imenso
que é o teu corpo
Quando se revolve em ondas
de desejo e de paixão
Quero lançar nele a rede
ansiosa por colher
De cada poro teu,
todo e cada instante de prazer
Quero descobrir no som do búzio
qual é a verdadeira cor do teu amor
Hoje eu quero ser só pescador
Quero afogar-me em maresias
E em ecos de gaivotas a voar
Quero navegar sem tempo
e sem destino certo
Soltar amarras,
deixar-me levar ao acaso pelo vento
Vogar para onde ele me quiser levar.
De peito aberto
Perder-me por aí,
Para no fim me poder entregar
Ao colo que me acolhe,
sedoso e perfumado
E adormecer feliz na praia
ao amanhecer
Com um fundo de céu em chamas e de mar




Foto de Guido Fulgenzi
Escrito por: VdeAlmeida, em 2/28/2005 08:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, fevereiro 26, 2005
Recordações de Viagem - I

Ultimamente, não sei se pelo tempo, que nos invade de nostalgia, enchi-me de saudades de França e de alguns dos recantos que percorri naquela terra. Depois, as minhas idas diárias á Tabacaria da minha amiga Elvira, belo local onde eu, fumador arrependido, todos os dias paro para “ler” revistas e jornais, ver ou rever cartoons, rir-me com uma observação sempre certeira e carregada de ironia, até para colher uma nova receita culinária, e tudo com uma apresentação cheia de bom gosto, portanto apelativa ao retorno, tem contribuído para que a vontade de voltar àquele país se torne quase obsessão.
Malheureusement, não se prevê uma ida tão breve como seria de desejar.
Portanto, nada melhor que ir aos meus "arquivos", rever fotografias de uma viagem feita há uns tempos atrás, percorrendo a Dordogne, o Perigord e o Limousin, fabulosas regiões de França, em que, se a beleza da paisagem natural é um deleite constante para os olhos, a arquitectura faz-nos pensar que entrámos num conto de fadas.

Casa do Sino


Hoje, deixo-vos fotos de uma das vilas mais espectaculares por que passei, Collonges-la-Rouge, em cujo centro urbano vivem somente 93 habitantes (pouco mais de 300 na sua periferia).

Rua Principal


Como se pode ver, a vila, cuja fundação data do séc. VIII, está impecavelmente conservada, tem uma restauração fantástica – estamos na zona da noz e do foie-gras, pelo que são esses os seus pontos fortes (mesmo nas saladas, o azeite é substituído por um óleo de noz muito bom e pouco dado a azias), e acomodações também não faltam (aconselho os chambres d’hôtes, mais baratos, muito confortáveis e limpos, de donos simpáticos e atenciosos e onde se comem uns pequenos almoços caseiros daqueles de já quase não apetecer almoçar)

Castel de Massignac


Parece-me que a melhor altura para visitar a região, será mesmo a Primavera/Verão, uma vez que no Maciço Central neva abundantemente nestes dias. Além de que, naquela altura do ano, terão o privilégio de ver os campos de alfazema em flor, um regalo para os olhos.

Casa de La Ramade de Friac



P.S.- Jacky, c’est merveilleux, crois-moi

Escrito por: VdeAlmeida, em 2/26/2005 09:31:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Balanço

Por vezes pondero a vida
Vejo como ela balança
Umas vezes para o pecado
Outros para a temperança
Não o faço muitas vezes
Mas quando me dou ao trabalho
Vejo como ela balança
Confesso que não sou santo
Que muitas vezes descambo
Para o campo mais errado
Mas penso cá para comigo
Que estou bem acompanhado
E assim me vou desculpando
Mas quando de tudo duvido
Pego nela com cuidado
E com muita paciência
Aquela que nos é necessária
p’ra tratar de uma criança
Esmiúço-a a pouco e pouco
Como se fosse uma trança
Cabelo para aqui, outro para ali
E chego sempre à conclusão
Que não há excesso de pecados
Há só uma vontade imensa
De entender que a vida é breve
Que há que a viver dia a dia
sem exagerar os cuidados
E sempre de forma intensa
Porque ela é como um cavalo
Que se monta sempre em pêlo
E dispensa rédea apertada
Por isso quando decido
Novamente ponderar
Sei por antecipação
Que vai dali resultar
Mas mesmo assim eu insisto
Vejo como ela balança
E quero que seja sempre
Para mim como uma dança
Escrito por: VdeAlmeida, em 2/24/2005 02:50:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Espelho


Estendes-te depois do amor
em frente ao espelho
E miras-te de forma
solta e descuidada
Diria, quase um despudor.
Mas ele não te dará
por mais fiel que te pareça
A exacta noção do todo
que o meu olhar verá
Porque o que vejo
está para além do que se vê
Ou do que qualquer outro
jamais vislumbrará.
É uma geografia de corpo
em perfeita sintonia
Com as forças vitais da natureza
Tem a força colossal
do mar imenso
e a doçura leve da aragem
Mas consome os sentidos
como um fogo
Que alastra intenso em voragem
Pelo meu corpo que é pira voluntária
E faz do coração refém, a desejada presa

Montagem sobre foto de Hegre
Escrito por: VdeAlmeida, em 2/23/2005 04:41:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Solidão

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Hoje queria falar da solidão.
Não, não daquela
que vive acompanhada
Que essa é sempre
Dor suave e mitigada
É a concha onde nos fechamos
Quando nos queremos ilha,
só mar à nossa volta
Quando se quer tudo esquecer
até de por um tempo conjugar
O verbo que nos dá o sentido de viver
Amar.

Não, eu não falo dessa
Falo da outra, da espessa
Aquela que se impõe absoluta
Que corre solta, sem travão
A que corrompe corpo e alma
A que oprime e esmaga
Como se fosse uma enorme mão
Que rasga, que tudo torna chaga
A que existe em cada vão de escada
Embrulhada em roupa velha e em cartão
A que percorre a cidade e cada canto
A que tudo seca até o mais leve pranto
O entulho pelo qual passamos tanta vez
Sem notar que por baixo dele existe
Um coração que contra a morte ainda resiste.

Hoje queria falar de solidão
Daquela que sufoca e mata
mas falta-me a coragem
Chove muito lá fora, está frio
Depois...treme-me a mão

Escrito por: VdeAlmeida, em 2/21/2005 07:50:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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