Novos Voos - Take Two

sexta-feira, abril 29, 2005
Estio

Esperam-se as tardes longas, preguiçosas
em que se aguarda ansioso o sol poente
espreita-se a lua que assoma envergonhada
que é ela que traz consigo o manto negro
que nos cobre e nos desnuda irreverente
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E anuncia-se assim, perfeito o estio,
e dias de calor incendiário
em que os sentidos se tornam pasto fácil
de paixões sufocantes e intensas
e o desejo se impõe tirano, autoritário



Foto de Victor Melo

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/29/2005 12:57:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, abril 28, 2005
Dos pássaros e do coração

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Como pássaro
que não aceita o cativeiro
deveria voar livre,
o coração
sem grilhetas, sem barreiras,
sem prisão
sem limites de corpo, nem fronteiras
rebelde sem pousar
só num lugar
e até sucumbir por exaustão
deveria ser livre
para voar
Poderia o coração
ser andorinha,
rouxinol, pintassilgo
ou cardeal
gaivota, cotovia
até pardal,
mas nunca se deixar aprisionar

E assim, solto, anarquista
sem gaiola
amaria aqui e ali qual beija-flor
que nunca colhe o mel
de uma só rosa
evitando assim de todo qualquer dor
(Yardbird)
*****
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam
movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao
reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
(Ruy Belo – Algumas proposições sobre pássaros)

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/28/2005 09:11:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, abril 27, 2005
Adolescência - III

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A noite fora mal dormida. A perspectiva do encontro eminente com a Marília deixara-me acelerado demais e estranhara a cama. Estava desejoso que despontasse o dia, e logo que os primeiros e tímidos raios de sol me surgiram à janela, levantei-me num salto, tomei um duche rápido e saí.
Na rua senti um arrepio, apesar da época, o tempo estava fresco, aconcheguei a gola do blusão, atravessei a Madeleine, onde as flores reinavam já, abafando o ar com a sua mescla de odores, e atravessei a ponte de Alma. Depois, desci a pé pela beira do Sena, sempre com o rio, eterna fonte do romantismo parisiense, sempre à vista. Como de costume, aquela estrada líquida está enxameada de bateaux-mouches e corre lenta e escura, barrenta. O Sena é um rio sujo, mas continua a ser irresistível. Assemelha-se ao fidalgo que apesar de arruinado, não perde o seu charme.Tinha combinado com ela encontrar-me numa pequena pastelaria ao pé da Librairie Shakespeare, mesmo ao lado do marco que assinala o quilómetro Zero da nação francesa. Quilómetro zero porque é a partir dali que todas as medições se fazem. Dizia-me um amigo francês mais chauvinista que seria a partir dali, que todas as medições referentes à civilização deveriam ser efectuadas, como que a significar que afinal a História começa ali e não na Suméria.
Era a primeira vez que vinha a Paris, mas já lá estava há 3 dias e com as indicações que a Marília me tinha dado, não foi difícil encontrar a pastelaria. Mas antes de entrar, e mesmo ao lado, despertou-me a atenção a montra de uma pequena loja que vendia soldadinhos de chumbo. Estava repleta deles, bem alinhados e separados por épocas em pequenas prateleiras, todos minuciosamente acabados, respeitando o mais ínfimo pormenor. Num plano mesmo à altura dos olhos, um batalhão de soldados napoleónicos. Sempre guardei um pouco o espírito de menino, as sagas heróicas empolgavam-me e aquilo fascinou-me.
E assim fiquei por momentos, alheio a tudo, até que senti um abraço por trás, e enquanto umas mãos pequenas me percorriam o peito, sentia nas minhas costas uma ligeira pressão, provocada por um encostar de cabeça que me chegava ao pescoço. Agarrei as mãos e virei-me.
A Marília estava quase na mesma desde a última vez que a vira. Vinha com um casaco de veludo negro, com um cinto do mesmo tecido atado com um nó descuidado que não lhe retirava aquela elegância inata. Por baixo, uma camisola cinza mesclada, de lã e uma saia que mal se via, de tecido escocês também em tons de cinzento. Caminhava sobre umas botas negras, de salto alto, e parecia leve como uma pena. Ou assim a via. Continuava sem dúvidas sobre a paixão que me alimentava os sonhos e que ali estava à minha frente, com a boca irresistivelmente húmida, aveludada e carmim, onde bailava o sorriso que lhe subia da comissura dos lábios até lhe tomar conta dos olhos escuros e tão abertos que pareciam eternamente espantados com tudo o que viam. Por baixo da roupa, adivinhava-lhe o corpo morno, de curvas suaves e cheirosas. Como sempre, tinha as faces afogueadas, outro dos sinais que eu imaginava ela nunca perderia.
Levou-me de escantilhão até ao Metro, enquanto cantarolava "Tous les enfants et les filles de mon age", saímos no infeliz Centre Pompidou, e fomos até à Praça Igor Stravinski, com o seu maravilhoso lago, e as suas figuras álacres, em constante movimento. Como a vida ao correr do sonho.

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Apesar da frescura que corria, não resistimos a sentarmo-nos na esplanada de uma crêperie do interior da qual se soltava um cheiro perfumado e doce inconfundível, e aí bebemos um escaldante chocolate. Quase tão escaldante como a tarde que passámos. E os dias seguintes. Parecia adivinhar que nunca mais estaríamos naquela intimidade, e parecia querermos gozar todos os pequenos momentos. Ela ria, com aquele riso solto que lhe atirava para trás a cabeça e a fazia ainda mais bonita. Um riso descuidado de quem estava em paz com a vida, de quem crescera sem tabus em comunhão perfeita com a natureza a cujos apelos nunca fizera questão de resistir. Marília continuava a ser o mesmo potro selvagem que eu conhecera anos antes, a rapariga que tomava banho no rio, nua tal qual os rapazes, sem pudores de qualquer espécie, por vezes, quase crua na sua simplicidade
Quando após o almoço me levou a conhecer o seu pequeno estúdio na Rue Clichy, sabíamos que não resistiríamos a desfazer a cama. Foi nela que me sentei cansado, quando chegámos ao 6º andar onde se empoleirava a estreita mansarda. Ela, de pé, chegou-se a mim e puxou-me a cabeça até à sua barriga lisa e enfiou-me os longos dedos mornos pelos cabelos. Depois, livrou-se das botas, deixou cair a saia e tirou a camisola. Usava um soutien-gorge (não necessitava, porque quando o tirou, os seus seios não se mexeram um milímetro) e as minúsculas e habituais cuecas de algodão fino. Puxou-me novamente a si, e foi quando lhe senti o calor da pele, as pequenas pérolas de suor na barriga, de volta do umbigo perfeito, mais provocadas pela excitação do momento do que pela temperatura ambiente. E aquele aroma suave que se desprendia dela e que era irresistível. A Marília não usava perfumes, mas cheirava sempre a alfazema, a acabada de lavar. Mas depois, nos momentos de grande excitação vinha aquele odor a fêmea que se lhe desprendia directamente das entranhas, que fazia parte de si, que ocupava todo o quarto e que tinha um poder quase mágico. Afrodisíaco.
Estendeu-se na cama e o seu corpo lançava-me um apelo mudo ao qual não conseguia nem queria resistir. As minhas mãos, como as dela, já não tinham poiso certo, tal como os nossos lábios, e a Marília era já um rio, uma corrente quase descontrolada. Sentia-lhe a humidade que cada vez mais se lhe acentuava entre as coxas morenas e foi aí que me perdi com um sorriso e uma sensação de realização plena, como se tivesse entrado no paraíso.

Lá fora, Paris. Uma das minhas cidades do coração.
Nunca mais fui lá voltei que não me percorresse um frémito violento na hora da aterragem. E nunca deixo de ir à Rue de Clichy. Há uma voz que, cá dentro, me chama lá. E eu conheço-lhe o timbre e não lhe consigo resistir.
E canto para mim, a velha canção de Jacques Dutronc:

"Je suis le dauphin de la place Dauphine
Et la place Blanche a mauvais' mine
Les camions sont pleins de lait
Les balayeurs sont pleins d'balais
Paris, s’éveille, Paris, s’éveille
"

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/27/2005 10:38:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, abril 24, 2005
25 de Abril, Sempre!

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E em madrugadas de Abril e de esperança
outros sonhos e futuros nascerão
em nenhuma caberá silêncio e sombra
e em todas, novos cravos florirão

*****

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

(Sophia de Mello Breyner Anderson)

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/24/2005 10:32:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, abril 22, 2005
Um violino no céu

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Desci as escadas do passagem subterrânea que também serve o metro, a duas e duas, como é meu costume, não que fosse com pressa, mas é um hábito que ganhei com o meu pai, este de andar sempre na rua depressa, subir e descer as escadas rapidamente. É quase uma mania, e por vezes um pouco irritante para quem caminha a meu lado.
Quando imergi no túnel, chegaram-me aos ouvidos uns acordes de violino. Pareceu-me o instrumento razoavelmente bem tocado, embora não sendo um expert sou um apaixonado pela música, sei alguma coisa, não sou duro de ouvido, e apercebo-me bem de notas dissonantes.
Fiquei com curiosidade em saber quem tocava assim o Air on a string, de Bach, uma ária que me emociona sempre. E e alarguei o passo.
Quando passei o pequeno cotovelo a meio do túnel, vi que o violonista era um homem de idade avançada, tratado como muitos na minha cidade. Mal. Tinha aquele aspecto sujo de quem não tem sítio certo onde dormir, a barba crescida, as unhas compridas e os dedos amarelados, indicio de que se tratava de um fumador. As roupas condiziam com o aspecto geral
De aspecto impecável, só o violino. Ao tocá-lo, via-se que lhe tinha amor, segurava nele com um cuidado quase exagerado, e ao lado, depositada em cima de um pano branco, a caixa que lhe servia de cofre.
Aquele homem amava o seu violino e à música que ele lhe oferecia, como a uma amante.
*****
Lembrei-me de ti, de como se perdiam as minhas pequenas mãos nas tuas, enormes na minha perspectiva de criança, e me puxavas nas manhãs frescas de domingo mal a Primavera se anunciava e levavas até ao coreto do Jardim da Estrela, a ver a banda da Guarda tocar.
Eu de calções pelo joelho e tu de fato de domingo, sempre impecavelmente vincado, como se fosses para uma recepção de gala, o lenço garrido, a condizer com a gravata contrastante com o branco imaculado da camisa, a sair do bolso de cima do casaco.
E o cheiro a loção, na pele acabada de escanhoar. Nunca me esqueci do cheiro da tua loção, por isso gosto tanto de violetas...
Chegados, estacavas, viravas-te para mim e com um dedo espetado junto aos lábios, pedias-me para permanecer em silêncio. Obedecia-te sempre. Tinha-te um respeito só comparado com o que tinha ao meu pai.
Nos primeiros tempos, de quando em quando, distraía-me, fugia-me o olhar para ti.
*****
Tinhas uma figura que exercia um fascínio extraordinário sobre mim. Talvez da neve intensamente branca que te cobria a cabeça. Talvez do bigode imponente, da mesma cor do cabelo, de guias apontadas para cima. Recordo-me sempre do ritual de domingo de manhã, quando após a barba feita, aquecias o pequeno alicate de pontas finas e obrigavas o bigode a tomar aquela forma. Quanto orgulho tinhas naquele bigode e como eu gostava dele. Nunca consegui apagar a tristeza que foi ver-te no hospital sem ele, poucos dias antes de partires para sempre. Senti-te no olhar, manso, quase já sem chama, que a tua mágoa era, justificadamente, maior que a minha.
*****
Com a mão, voltavas-me a cabeça em direcção à banda, obrigando-me a prestar atenção. E sussurravas que aqueles homens mereciam silêncio e respeito.
E eu obedecia, escutava os músicos, e comecei a gostar. E nunca nada mais me fez distrair.
*****
Foi assim que começou uma ligação apaixonada de muitos anos com a música.
Curiosamente, nunca me decidi a aprender a tocar qualquer instrumento, apesar dos apelos serem constantes. Mas a minha reconhecida falta de talento para trabalhos que requeressem perícia manual, obstaram sempre a que a tal me atrevesse.
Contudo, não consigo passar indiferente por alguém que dedica a sua vida a uma arte que me dá tantos momentos de indizível prazer. Muito menos, se esse alguém tem a música como amante e como meio de sobrevivência.

P.S.- Não sei o que há para além do que conhecemos. Mas tenho esperança que um dia possamos os dois, novamente, assistir a um concerto dado por uma banda qualquer.

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/22/2005 04:28:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, abril 21, 2005
Fonia

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Passo a passo
no restrito espaço
do laço
do abraço,
traço o ensejo
do beijo
e ergue-se o desejo
atroz, algoz
que nos devora
a nós
aqui no leito
e eu, suspeito
que me vou dissolver
por inteiro
no teu peito
quente e perfeito
mais o vulcão
da paixão
espalhada pelo chão
que se deseja
e em que não se tem mão

E somos só nós
simples, sem nós
corpos fundidos
perdidos
e achados
somos eiras
ao sol
somos braseiras
E somos nós,
livres,
misturados,
sem fronteiras.

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/21/2005 07:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, abril 20, 2005
No Feminino
Pequeno Intróito
Ainda me vou surpreendendo. Com o que me dizem aqui (e não só), com as reacções de quem me lê e nos comentários expõe as suas opiniões, os seus gostos.
Não sou imune a nada disso, não passo com indiferença sobre o que vocês me deixam todos os dias. Nunca o faria. Cada um/a que aqui deixa um pouco do seu tempo e da sua atenção não mereceriam nunca uma atitude altaneira da minha parte. A ser assim, deixaria de ter a caixa de comentários. Gosto de sentir a vossa presença, de vos ler e vou fazendo o possível por retribuir o carinho que me transmitem, aqui ou visitando-vos nas vossas "casas" sempre que possível (sim, nos últimos dias tenho sido pouco presente).
Este espaço está quase a perfazer um ano, e como há tempos vos disse, nunca recebi um mail desagradável, nem um comentário menos cordial. E isso deixa-me, não só satisfeito, como sereno com o que tenho feito. Porque acreditem, pode não ser muito, mas tenho feito o melhor que consigo.
Leiam no post "Tempo", o comentário da Penélope, e saberão porque há coisas que me continuam a fazer sorrir, a ficar feliz por aqui deixar todos os dias, um bocadinho da minha vida. Verão porque me vou sentindo gratificado.
Mas voltando ao princípio: desta vez, ultrapassando qualquer expectativa que pudesse ter, alguém que me é especialmente caro, a minha querida Partilhas, ao ver esta enxurrada de posts ilustrados com meninas em poses provocantes (mas sublinho: artísticas) que ultimamente aqui tenho deixado, “indignou-se” e lançou-me o repto de "vestir" a pele DA mulher e fazer um poema no feminino, com ilustração a condizer. Claro que a "provocação" foi evidente e foi aproveitada pelas minhas queridas e longínquas (na distância que não no sentimento) Amigas Riacho e Nina, para vincar a reivindicação. Ah! e a minha Fada não poderia faltar no coro, claro, que ela nestas coisas de "provocações" deste género é sempre presença assegurada. Pronto, e a seguir foi quase uma corrente...
Depois de pensar duas vezes, confesso que até achei a ideia muito divertida. E dispus-me a corresponder. Assim fiz. Ou tentei.
Deixo-vos um poema escrito por mim, tentando vestir uma pele feminina (tarefa difícil, acreditem). Em contraponto, deixo também um poema de Maria Teresa Horta, na minha opinião, autora de alguns dos melhores poemas eróticos, no feminino.
Ah! a foto em atitude provocante...Desculpem, mas não consigo encontrar beleza no corpo masculino. É uma questão de estética. Mas penso que a que vos deixo, até nem está mal. Pelo menos, acho-a muito artística.

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Da Mulher
Na insónia quente
a entrar pela madrugada
puxo-te a mim,
lenta, descarada
E apesar de te dar as costas
sei que sorris
e sinto-te despertar
em cada beijo-desejo
com que me molhas a nuca
Ofereço-te os quadris
e não hesitas
dás-te, segues o que quero
sem me dares sequer o tempo
de entrar em desespero.
Pensas que és o senhor
o macho dominador
Que engano o teu!
Sou eu quem te ensina
os caminhos,
quem desvenda mistérios
E tu és só a espada
febril, apaixonada
em busca desvairada
da bainha oferecida com amor
Sinto-te as mãos
irrequietas e perdidas
em reentrâncias que queres,
talvez porque secretas
a cada noite tuas, possuídas.
Depois, é o calor, a lassidão,
somos só fluidos
misturados, confundidos.
É o auge da paixão,
é a pele afogueada, arrepiada
E é por fim o sereno adormecer
no côncavo aconchegado do teu corpo
e a espera de uma outra madrugada
de insónia, de amor e de prazer
(Yardbird)

SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
(Maria Teresa Horta
)



Foto de Ivo Gonçalves

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/20/2005 12:32:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, abril 19, 2005
Sexo - III

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Na ponta dos meus dedos,
tatuado
o cetim da tua pele
lisa e brilhante
e nos lábios, na saliva,
misturados,
o sabor a mel e sal
da tessitura
do sexo e do suor
em que fundimos os corpos
pela noite
como se nada mais fosse real
...
E os beijos húmidos,
os lábios sequiosos
que me roçam de leve
e deixam marcas
que rasgam pele e carne
como adagas
que vibram pelo corpo
como vagas
e depois me deixam em torpor
quando se soltam,
e voam como pássaros livres, ociosos

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/19/2005 03:43:00 da tarde | Permalink | | ( 1)Comentários
segunda-feira, abril 18, 2005
Tempo

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No negro de veludo
e calafrio
em que se vai construindo
profunda, a noite
ergo paciente, fio a fio
uma parede estreita
de ilusão
e nela esboço em rubro
de paixão
o teu corpo num graffiti vibrante,
despojado, nu,
exuberante,
e fico-me assim,
p’la madrugada
de olhar distante de saudade,
como se não voltasses
nunca mais,
contando o passar
de cada instante,
a sentir cada segundo,
o quase nada,
em que se constitui o tempo
quando vais

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/18/2005 06:12:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, abril 17, 2005
Sexo - II

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Túrgidos e brancos,
de mármore,
os seios,
desafiadores e provocantes.
Esguio o pescoço
cheiroso,
os braços esguios, longos
como os ramos de uma árvore.
Porém, enleantes
irresistíveis no abraço
ansioso.
Das nádegas
o curvo traço
que prenuncia as coxas
macias
e a flor de lis
que se abre em convite
e me puxa os quadris
E as mãos esguias
que atraem,
que arrastam ao beijo
e a língua sôfrega que pelo corpo
deixa um rasto molhado,
a marca do desejo
(Yardbird)

[...]Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo

E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales
(Maria Teresa Horta
)

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/17/2005 12:44:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, abril 15, 2005
Sexo

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Os anjos não têm sexo.
Dizem!
Que disparate
Que coisa mais tão sem nexo.
Pois que nunca te menti,
e tu sabes em que penso
cada vez que penso em ti
(Yardbird)

Intervalo Amoroso

O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?
Onde estou, quando não estou
no teu gozo incluído?
Sou todo exílio?
Que imperfeita forma de ser é essa
quando de ti sou apartado?
Que neutra forma toco
quando não toco teus seios, coxas
e não recolho o sopro da vida de tua boca?
O que fazer entre um poema e outro
olhando a cama, a folha fria?
(Affonso Romano de Sant’Ana)



Foto de Jan Bengston

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/15/2005 06:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, abril 14, 2005
As palavras são sempre escassas

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Medes-me os sentimentos,
a latitude do amor
ou a longitude da paixão
por esta profusão
de palavras que alinho
e te deixo escritas?
Peço-te, não o faças.
Para ti, as palavras,
por muitas e belas que sejam,
serão sempre escassas.
Curto, insuficiente o adjectivo
mesmo quando elevado ao superlativo.
E a qualidade da poesia?
Mesmo que equivalesse á de Sophia
o que é uma miragem,
seria um quase nada
e nunca te daria
sequer uma pálida imagem
da tempestade de emoções,
deste rio que sai do coração em borbotões
e me corre o corpo à desfilada
Não faças contas às palavras,
não lhes ponderes a valência
não as contes, não as avalies,
porque o amor não é uma ciência
Já to disse, não o faças.
Por ti,
as palavras são sempre escassas

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/14/2005 12:04:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, abril 12, 2005
Cadeia de Literatura

Fui convidado para este desafio, saboroso, por duas amigas, quase em simultâneo, a Lique e a Mushu, e confesso que foram convites que muito me lisonjearam, ainda mais pelas razões apresentadas pelas duas.
Mas adiante. Vou responder ao questionário, e passá-lo a três pessoas:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
- Ser um livro não me seduz. Preferia ser um moleskine, apesar de não apreciar por aí além tatuagens, e um moleskine acaba por ser tatuado com as nossas palavras, acho eu

Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?
- Não é bem um personagem de ficção. É o próprio, Bill Bryson, um "turista acidental" porque é o protagonista dos seus próprios livros, e porque os seus livros são sobre viagens. Ora viajar, era o que estaria continuamente a fazer...se pudesse. Depois, ele tem um sentido de humor notável.
Pensando bem, o Phileas Fogg, do Júlio Verne também acaba por ser um viajante, não é? Gosto do Phileas Fogg.

Qual foi o último livro que compraste?
- Cá em casa não sou o único a comprar livros. O último a ser comprado, foi o Memória das minhas putas tristes do Gabriel Garcia Marquez.

Qual foi o último livro que leste?

- O último que acabei foi Mundo do Fim do Mundo, de Luís Sepúlveda

Que livros estás a ler?
Memória das minhas putas tristes, do Gabriel Garcia Marquez, e uma colectânea de poemas da Sophia de Mello Breyner

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
- O Principezinho, de St. Exupery
- O Velho que lia romances de amor, de Luís Sepúlveda
- Obra Poética, de Sophia de Mello Breyner Anderson
- Obras Completas, de Pablo Neruda
- Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Mais importante que tudo, são três amigas de quem gosto muito. Depois:
- À Jacky, porque sei que ela adora ler, e acho que vai acrescentar muito de bom, a este desafio.
- À MJM, porque tem uma cultura vasta, e sei que vai apontar caminhos de leitura alternativos.
- À Viajante, porque respira letras, tem uma escrita reflexo de múltiplas e ricas leituras e eu gostava de saber as suas leituras preferidas (embora já conheça algumas)

E os vencedores são?
- Todos nós. Os que lemos

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/12/2005 03:45:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, abril 09, 2005
Sugestões de fim de semana
A ver:

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"Tudo deve mudar, para que tudo se mantenha igual"
É a frase-chave de "O Leopardo", a obra-prima de Luchino Visconti, e decerto pensada por muitos políticos, presentes e passados, resumo de um ideário político sempre actual.
O filme, baseado numa obra de Tomasi di Lampedusa, é um fresco impressionante de à volta de 3 horas, e situa-se na Itália de meados do séc. XIX, na altura do "Risorgimento", movimento político que combatia os austríacos (Habsburg) e prentedia a unificação da Itália, o que veio a suceder com a coroação de Vittorio Emanuelle.
Figuras centrais, o Príncipe Fabrízio Salina(monumental interpretação de Burt Lancaster), representante máximo de uma aristocracia prepotente e em queda, à medida que as tropas de Garibaldi ganham terreno na Sicília, onde se desenrola o trama. Em oposição, assiste-se à ascenção de Don Calogero(Paolo Stopa), novo-rico à custa da especulação imobiliária e que é eleito novo Mayor da cidade.
O sobrinho de Salina, Tancredi (Alain Delon), oportunista falido que se alista nas tropas de Garibaldi(a frase mencionada no início é sua) regressa a casa como um herói e aspira à mão da bela filha de Calogero, Angélica (Cláudia Cardinali).
Salina despreza Calogero, mas entende que a união é a única forma do seu sobrinho se salvar da bancarrota.
O príncipe assiste amargurado à substituição da sua classe pela emergente burguesia, no poder, e acaba por declinar um lugar no Senado.
A última parte do filme, é passada no talvez mais fabuloso baile (do noivado) filmado até hoje. São 40 minutos incomparáveis. Nunca se terá filmado a dança com tanta volúpia.
A cena mais importante e significativa sobre o que se encerra no pensamento expresso por O Leopardo, é quando Salina se afasta do centro do baile e contempla um quadro de Greuze que trata da morte de um velho, rodeado de gerações mais novas. Salinas reflecte então sobre o fim inexorável do seu tempo, e da sua classe social.

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A beleza estética deste filme é espantosa, e a sua genialidade situa-se também no facto de o realizador conseguir atribuir uma contemporaneidade excepcional a um acontecimento tão longínquo, situado mais que um século atrás.

A ler:
Ainda conseguiu voltar à superfície e pôr outra vez a cabeça fora de água.
Então deram-lhe mais uma bordoada com a pá do remo, sólida e certeira, bem no alto da cabeça.
Ao mergulhar definitivamente, engolindo água e sentindo-se ir para o fundo, teve um último pensamento lúcido:
"Que felizes devem ser os anfíbios"
-Mário-Henriques Leiria, in Novos Contos do Gin-Tonic

A ouvir:
É só olhar ali para o lado e...ouvir

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/09/2005 10:20:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, abril 08, 2005
Da mulher

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Hoje queria falar da mulher.
Não de uma em particular.
Queria falar da mulher em abstracto
aquele mistério que nós homens
temos tanta dificuldade em desvendar
A mulher, que é mãe e é amante
que é sorriso e é olhar.
Que é anoiteceres de paixão
e amanheceres suados
como se a cama fosse mar,
e que tem sempre aquela espantosa apetência
para, sem darmos por nada
de em nós mandar
Hoje queria falar da mulher.
Da sinfonia etérea que é o seu corpo
desde as suaves colinas dos seus seios.
ao eterno segredo
guardado no seu ventre e entre as coxas
em que nos acolhemos sem receios
Hoje queria falar da mulher.
Mas como é habitual
quando o sujeito é tão belo, é fatal
faltam-me palavras para escrever

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/08/2005 02:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, abril 07, 2005
Afectos I - Do azul profundo

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Olhas-me e nesse olhar
há a placidez de um lago repousado
mas transpira a força do vulcão
que arde de mansinho e pronto
a entrar em intensa ebulição
Se um dia eu me obrigasse,
dificuldade suprema,
a associar-te uma cor,
logo a ti que és um arco-íris
de sentimentos e emoções à flor da pele,
decerto escolheria azul,
esse azul profundo que te marca o rosto
de modo iniludível
Um azul faíscante,
Buliçoso
quase audível
transparente de carinhos e afectos,
um azul tão intenso, luminoso,
que deita abaixo todas as teorias
que o azul é uma das cores frias.

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/07/2005 01:53:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, abril 06, 2005



Hoje



Papoilas.
Hoje só podiam ser elas
simples, crescendo selvagens,
sem precisarem de mão de homem para cuidar
E tinham que ser muitas, um campo cheio,
porque há dias em que seria rídiculo
só uma oferecer
ou mesmo um ramo
De rosas, de orquídeas. O que fosse.
Não! Tinha que ser um campo delas
Depois, hoje á este sol, esta Primavera
e este cheiro a mar...
...a mar...
Amar
E há esta música que me apetece cantar
"Me deixe sim
Mas só se for
Pra ir ali
E pra voltar
Me deixe sim
Meu grão de amor
Mas nunca deixe de me amar
"




P.S.- Hoje é para ti, tu sabes. Obrigado pela Vida
Escrito por: VdeAlmeida, em 4/06/2005 09:50:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, abril 05, 2005
Cá istou eu outra veiz às iscondidas

Járre comessaram azaulas e ainda beim pruque estas férias da Páscua não me curreram munto beim.
O meu pai cada veiz anda mais lichado cumigo e eu seim culpa ninhuma que não teinho culpa de aver coisas que correim mal cuando eu fasso tudo beim. Agora, aleim de me ter curtado os beibeleides, também não me deicha ver os digimons, e o dórrémi. Quésse dizer, cuaze não mêto o nariz na televizão. Inda prucima agora os digimons andam a dar as digivolussões e eu perco aquilo tudo e despois já não sei àscuantas ando.
Ele impelica purtudo e purnada. A gora até com a minha maneira de iscrever impelica, sismou que eu avia de istar mais adiantado. Veijam lá próque lhe avia de dar. Cômo se a um rapaz de 9 anos se pudeçe izegir mais! É mêsmo só prembirrar.
Beim, mas eu conto algumas coizas caconteceram.
Primeirus fui eu que pressizava de um elástico pruque a minha mãe como eu já contei me tirou a minha fisga que me tinha ficado cara cumócarassas, pruque tive que dar ao Alberto 20 dos meus munecos dos digimons mais difíceis em teroca, e ela tirouma só pruque eu matei o pombo de estimassão do istúpido do Leopoldo que mora aqui mêsmo emfrente e que me tinha largado uma enorme cagáda emcima, e tamém semcrer parti a montra do talho do Albino pruque me iscapou a mão pruque eu istava era a fazer pontaria era à cabessorra do Henrique que ia a entrar pra lá, e que me tinha roubado um livro do Cascão na iscola.
Beim, mazadiante, como não arranjava elásticus, pra fazer uma fisga, fui às cuecas da minha avó Ermelinda que peza 130 qilos e usa umas cuecas que paressem uma tenda de campismo. Ora eu comuito cuidado tirei um bocado dumas e outro doutras e acim me desenrrasquei. Depois, fiz um nó no elástico que çobrou nas cuecas e aquilo ficou tão prefeitinho que paressiam novas. Mas aicho que lhe devem ter ficado um bucado apertadas, pruque ela quando ia a decher as iscadas dizia que as cuecas a istavam a incumudar e cuando xigou à rua ficou com elas plus trunuzelos, trupessou e caiu emssima do canixe da dona Etelvina do rés do xão, pruque o nó se dezatou. Oilheim, foi uma grande vergoinha, maza a culpa foi da barrigona dela não foi minha. E a minha mãe cuando me viu a fisga nova descobriu donde tinham vindo os ilásticos, e lá fiquei outra vez çem fisga. E sem digimons na televizão.
Já é a sigunda vez que teinho probolemas com a minha avó Ermelinda. Da outra veiz foi cuando lhe teroquei os chanaxes pelos gutolaxes e ela paçou dois dias de calssas na mão a caminho da caza de beinho cuma caganeira que não avia maneira de paçar(a minha mãe diz que çe diz diarreia mas pró meu pai diz caganeira, prutanto deve çer açim que çe xama)
O canixe da dona Etelvina é que não subreviveu, tadinho. Olha a ademirassão. Ficou parecia que tinha ficado debaicho de um cilindro daqueles de alcatruar as istradas.
Despois, aconteceu outra que tamém não tive culpa. Pruçima de mim mora uma gaija que um gaijo que mora em frente anda seimpre a galar, e que por acazo é no computador dele que eu istou agora, que a minha mãe veim cá fazer limpezas. A gaija chama-se Eliza, vai prá janela cantar, e até lhe xamam a istoira vidros e deve de çer rica pruque o meu pai istá çempre a dizer que ela tem uma rica bilha e um rico par de érbégues, e prutanto tem a mania qué alguém. Ora noutro dia paçei numa rua onde istava um cartaz grande com uma gaija parecida, de boca aberta, uma grande peitassa quaze como a dela e era um anúnçio a um musique-ol que çe xamava Mama Mia.
É que pareçia mêsmo ela! Demaneira que quando a vi lhe preguntei se era ela a da Mama Mia e ela pegoume numa orelha e levoume ao meu pai e contoulhe que eu era um malcriadão e que lhe tinha xamada mamalhuda. O meu pai ficou todo vrumelho e prumeteulhe que mia castigar. E lá se foram mais duas çemanas de digimons. Logo ele é que mavia de castigar . Logo ele ca minha mãe amiaçou quessia embora se ele não tiraçe a foto grafia da Panela Anderçon toda descascada decima da meza de cabeceira!
E prontes, já vêem que ando em maré de azares.
Hora eu aixo que os ezemplus cômo diz a minha mãe deviam vir de çima e não vêem.
É açim: mora aqui um gaijo que é de cor, puracazo é preto mazu o meu pai diz que se diz de côr e eu ainda não preçebi pruqué que sele é preto não se háde dizer a cor dele, masenfim ção coisas de peçoas grandes. Bem, mazadiante, ele xamaçe Bunifáçio e é trolha mas çó trabalha no résdoxão pruque çe mete um bocado no trotil (cômo quase tôdos aqui na zona a cumessar por o meu pai, eheheh) e despois nus outros andares diz que tem vertiges. Ora ele cômo istá çempre a çer despedido nunca consegue pagar a conta na tasca du Adérito e ele curtoulhe us fiados. O Bunifáçio ficou lichado e agora cada vez que vinha das obras çempre já beim aviadito, metia lá a cabêssa na tasca e dizia:
- Ó Adérito o teu vinho é uma çurrapa. Eu çei bem as mistelas que fazes lá dentro na cuzinha. Eçe vinho não vale a ponta dum corno. Metio no oilho.
Ele fez aquilo umas poucas de çemanas e o Adérito já istava piurso pruque ás vezes istavam lá freguezes novos e çecalhar pençavam caquilo das mistelas era verdade e já não voltavam.
Ora beim, eu çei a istória toda porque o meu pai é cassador e foi a ele cu Adérito pediu 2 cartuxos. O meu pai cômo lá tem tamém uns fiados deulhos. O Adérito pegou nos xumbos dos cartuxos e meteuos no fundo dum copo e despois acabou de o inxer cu vinho. Noutro dia quando o Bunifáçio lá açomou, ele neim o deixou falar. Çó lhe diçe:
- Oije não dizes nada seim pruvares esta especialidade qué pra veres cé uma çurrapa.
O Bunifáçio cômo era de borla nem esitou e mamou aquilo de um golo só.
Mas nu outro dia apareceu lá com uma cara munto isquisita, entrou com umas ceroulas na mão e diçe:
- É pá, ó Adérito? Quem é quete furneçeu aquele vinho? Aixo que me çoube bem mas fiquei logo cu istôgamo pezado, não paçei munto beim a noite, mas o pior foi de manhã.
E foi aí que istendeu as çeroulas em çima do balcão de mrámore do Adérito e elas tinham um grande buraco todo xamuscado no çítio do rabo:
- Já vistes? Oije istava a fazer a barba no ispelho que tenho espendurado na janela da cuzinha, peidei-me e matei o gato à Olímpia (qué a mulher dele).
Beim, o Adérito negou tudo, e toda a gente faz çegrêdo pruque todos têem fiados no Adérito, mas o Bunifáçio continua munto desconfiado e a Olímpia anda inconçolável cua morte do Tição (quéra o gato dela).

Cômo vêm pur esta linda istória, despois nós os pucaninos é que çó fazemos asneiras! E çó a nós é que puribem de vêr os digimons e os beibeleides, çem isqueçer o dórrémi!

Carlinhos

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/05/2005 06:59:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, abril 04, 2005



…depois



...depois, houve aquele pôr-do-sol
estupidamente belo
pintando cor de malva céu e mar
daqueles que me faz interrogar
o porquê da natureza não condescender
com a imortalidade de seres como Vincent
que ás coisas belas fazia ainda mais belas,
Pedir-lhe-ia assim uma pintura
em que à beleza natural somasse a sua
Seria como assistir à vida
espreitando por janelas paralelas

...e houve aquele desejo de partilha
entre sorrisos e olhares de várias cores
aquele desejo de encher o meu caminho
com sentimentos com tanto de palpável,
tocados por emoções tão fortes
que parecem neles tudo possuir,
até braços de afecto e beijos de carinho

...e há nestes dias aquele escorrer da vida
Que vai fluindo serena, sem tumultos, preenchida




Nota - Ao jantar de aniversário da caixinha da nossa querida Pandora, já muita gente se referiu, e a mim, já nem me chegam as palavras para acrescentar alguma coisa de aproveitável.
Resta-me agradecer-lhe a ela, a oportunidade que me deu para estar com todos os que estiveram presentes.
Agradecer aos que estiveram o clima de amizade e carinho em que me senti envolvido.
Nestas coisas, sabe-se que o diálogo, com todos torna-se difícil, e ficamos quase sempre circunscritos àqueles que ficam mais perto de nós. Para os mais distantes, ficam os olhares, a interrogação de quem será, mas sobretudo o carinho estranho que se tem por quem nem sequer se conhece bem.
Para a próxima, ficará um estreitar, desejado, de relações.
E como dizia a Pandora, nunca mais me voltem a falar de virtualidades. Foi tudo muito real.
Um abraço para todos
Vic
Escrito por: VdeAlmeida, em 4/04/2005 02:45:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, abril 01, 2005
Diz-me que entendes


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Entendes-me quando te digo que a vida é um jardim
ao qual vamos colhendo as flores uma a uma
até só restar um campo nu, se não o semearmos de amor,
porque é ele, pintor supremo, que lhe dá eterna cor?
Entendes-me quando te digo que não há nada pior
que recusar uma paixão pelo eterno medo de sofrer
quando sabemos que sem paixão nem vale a pena a vida ser vivida?
Entendes porque te digo que só verás em todo seu esplendor
um por do sol, se o fizeres de coração aberto à vida
com tudo o que ela te dá, sem virares costas a nada
mesmo que seja áquela parte que não queres, a mais sofrida?

Queria, a cada novo amanhecer,
ver, à minha janela aberta ao mundo
este campo de violetas,
e sentir-lhes o aroma,
e sem uma única colher
deitar-me nelas, sentir na pele reflectida pelo sol a sua cor
e depois sair de peito aberto ao que vier.
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Escrito por: VdeAlmeida, em 4/01/2005 03:12:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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