Ainda me vou surpreendendo. Com o que me dizem aqui (e não só), com as reacções de quem me lê e nos comentários expõe as suas opiniões, os seus gostos.
Não sou imune a nada disso, não passo com indiferença sobre o que vocês me deixam todos os dias. Nunca o faria. Cada um/a que aqui deixa um pouco do seu tempo e da sua atenção não mereceriam nunca uma atitude altaneira da minha parte. A ser assim, deixaria de ter a caixa de comentários. Gosto de sentir a vossa presença, de vos ler e vou fazendo o possível por retribuir o carinho que me transmitem, aqui ou visitando-vos nas vossas "casas" sempre que possível (sim, nos últimos dias tenho sido pouco presente).
Este espaço está quase a perfazer um ano, e como há tempos vos disse, nunca recebi um mail desagradável, nem um comentário menos cordial. E isso deixa-me, não só satisfeito, como sereno com o que tenho feito. Porque acreditem, pode não ser muito, mas tenho feito o melhor que consigo.
Leiam no post "Tempo", o comentário da Penélope, e saberão porque há coisas que me continuam a fazer sorrir, a ficar feliz por aqui deixar todos os dias, um bocadinho da minha vida. Verão porque me vou sentindo gratificado.
Mas voltando ao princípio: desta vez, ultrapassando qualquer expectativa que pudesse ter, alguém que me é especialmente caro, a minha querida Partilhas, ao ver esta enxurrada de posts ilustrados com meninas em poses provocantes (mas sublinho: artísticas) que ultimamente aqui tenho deixado, “indignou-se” e lançou-me o repto de "vestir" a pele DA mulher e fazer um poema no feminino, com ilustração a condizer. Claro que a "provocação" foi evidente e foi aproveitada pelas minhas queridas e longínquas (na distância que não no sentimento) Amigas Riacho e Nina, para vincar a reivindicação. Ah! e a minha Fada não poderia faltar no coro, claro, que ela nestas coisas de "provocações" deste género é sempre presença assegurada. Pronto, e a seguir foi quase uma corrente...
Depois de pensar duas vezes, confesso que até achei a ideia muito divertida. E dispus-me a corresponder. Assim fiz. Ou tentei.
Deixo-vos um poema escrito por mim, tentando vestir uma pele feminina (tarefa difícil, acreditem). Em contraponto, deixo também um poema de Maria Teresa Horta, na minha opinião, autora de alguns dos melhores poemas eróticos, no feminino.
Ah! a foto em atitude provocante...Desculpem, mas não consigo encontrar beleza no corpo masculino. É uma questão de estética. Mas penso que a que vos deixo, até nem está mal. Pelo menos, acho-a muito artística.
Da Mulher
Na insónia quente
a entrar pela madrugada
puxo-te a mim,
lenta, descarada
E apesar de te dar as costas
sei que sorris
e sinto-te despertar
em cada beijo-desejo
com que me molhas a nuca
Ofereço-te os quadris
e não hesitas
dás-te, segues o que quero
sem me dares sequer o tempo
de entrar em desespero.
Pensas que és o senhor
o macho dominador
Que engano o teu!
Sou eu quem te ensina
os caminhos,
quem desvenda mistérios
E tu és só a espada
febril, apaixonada
em busca desvairada
da bainha oferecida com amor
Sinto-te as mãos
irrequietas e perdidas
em reentrâncias que queres,
talvez porque secretas
a cada noite tuas, possuídas.
Depois, é o calor, a lassidão,
somos só fluidos
misturados, confundidos.
É o auge da paixão,
é a pele afogueada, arrepiada
E é por fim o sereno adormecer
no côncavo aconchegado do teu corpo
e a espera de uma outra madrugada
de insónia, de amor e de prazer
(Yardbird)
SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
(Maria Teresa Horta)
Foto de Ivo Gonçalves