Novos Voos - Take Two

sábado, abril 09, 2005
Sugestões de fim de semana
A ver:

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"Tudo deve mudar, para que tudo se mantenha igual"
É a frase-chave de "O Leopardo", a obra-prima de Luchino Visconti, e decerto pensada por muitos políticos, presentes e passados, resumo de um ideário político sempre actual.
O filme, baseado numa obra de Tomasi di Lampedusa, é um fresco impressionante de à volta de 3 horas, e situa-se na Itália de meados do séc. XIX, na altura do "Risorgimento", movimento político que combatia os austríacos (Habsburg) e prentedia a unificação da Itália, o que veio a suceder com a coroação de Vittorio Emanuelle.
Figuras centrais, o Príncipe Fabrízio Salina(monumental interpretação de Burt Lancaster), representante máximo de uma aristocracia prepotente e em queda, à medida que as tropas de Garibaldi ganham terreno na Sicília, onde se desenrola o trama. Em oposição, assiste-se à ascenção de Don Calogero(Paolo Stopa), novo-rico à custa da especulação imobiliária e que é eleito novo Mayor da cidade.
O sobrinho de Salina, Tancredi (Alain Delon), oportunista falido que se alista nas tropas de Garibaldi(a frase mencionada no início é sua) regressa a casa como um herói e aspira à mão da bela filha de Calogero, Angélica (Cláudia Cardinali).
Salina despreza Calogero, mas entende que a união é a única forma do seu sobrinho se salvar da bancarrota.
O príncipe assiste amargurado à substituição da sua classe pela emergente burguesia, no poder, e acaba por declinar um lugar no Senado.
A última parte do filme, é passada no talvez mais fabuloso baile (do noivado) filmado até hoje. São 40 minutos incomparáveis. Nunca se terá filmado a dança com tanta volúpia.
A cena mais importante e significativa sobre o que se encerra no pensamento expresso por O Leopardo, é quando Salina se afasta do centro do baile e contempla um quadro de Greuze que trata da morte de um velho, rodeado de gerações mais novas. Salinas reflecte então sobre o fim inexorável do seu tempo, e da sua classe social.

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A beleza estética deste filme é espantosa, e a sua genialidade situa-se também no facto de o realizador conseguir atribuir uma contemporaneidade excepcional a um acontecimento tão longínquo, situado mais que um século atrás.

A ler:
Ainda conseguiu voltar à superfície e pôr outra vez a cabeça fora de água.
Então deram-lhe mais uma bordoada com a pá do remo, sólida e certeira, bem no alto da cabeça.
Ao mergulhar definitivamente, engolindo água e sentindo-se ir para o fundo, teve um último pensamento lúcido:
"Que felizes devem ser os anfíbios"
-Mário-Henriques Leiria, in Novos Contos do Gin-Tonic

A ouvir:
É só olhar ali para o lado e...ouvir

Escrito por: VdeAlmeida, em 4/09/2005 10:20:00 da tarde | Permalink | |


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