Novos Voos - Take Two

terça-feira, agosto 31, 2004
Poema da Esperança

rainbow_metamorphosis.jpg


Recuso redimir-me
pela dor
Digo não a esgotar-me
no lamento
A vida está para lá
do que se foi
E o amor é muito mais
que sofrimento
Que chorem
os poetas sofredores
Eu não o sou
nem o pretendo ser
Quero abrir a janela
deslumbrado
E sentir o aroma
da esperança
Que desponta
em cada novo amanhecer
Quero perder o olhar
no horizonte
Em aromas de mar
e de ilusão
Agarrar-me seguro
a uma gaivota
E voar nas asas
da paixão

Foto daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/31/2004 03:11:00 da tarde | Permalink | | ( 1)Comentários
segunda-feira, agosto 30, 2004
Querido Diário - X

Hoje era dia de aqui pôr um poemito, que eu cá sou muito orientado e isto do diário estava alternar (esta palavra tem conotações foleiras mas ainda é a mais adequada) para não se tornar maçador. Mas como têm insistido para saberem do resto do jantar, cambada de cuscos, lá terei que me descoser com o resto.
Bem, se for a ver, depois do que já escrevi sobre mim, de vocês todos já saberem as minhas petites imprefections, devo ter perdido o resto de credibilidade que ainda me restava. Adeus, poeta de fato de treino verde alface com vivos laranja eléctrico.
Mas vamos ao que interessa.

Quando chegámos ao restaurante pedi logo um copo de água para tomar um Panadol para ver se me via livre das dores de cabeça, e o Aristides começou a anotar o pedido da Elisa.
Fui um cavalheiro e até ajeitei a cadeira para ela se sentar, gesto que ela apreciou e agradeceu com um sorriso até ao decote. Assim ao perto, e a luz decente, ela era na verdade um pedaço de mulher e toda a gente se virava para olhar, embora nem fosse preciso grande esforço, uma vez que ela se impunha pela exuberância.
A conversa foi deliciosa, se exceptuarmos o episódio dos dois raparigos, e ela lá me foi contando das suas ambições de ir estudar para os Estados Unidos com uma bolsa de estudo da Gulbenkian. Pensei cá para comigo que ela só teria a bolsa quando as propostas fossem analisadas por um colégio de surdos, mas não me manifestei em voz alta.Só a olhei directo no peito e lhe disse que ela tinha um magnífico aparelho vocal.

Mas não devia ter falado. Quando o jantar estava à beira da sobremesa, aparece o músico de serviço, sem o tal violino, mas armado de acordeon, e disposto a tocar-nos umas valsas musettes como seria da praxe num restaurante francês. Foi aí que sucedeu algo imprevisto. O estupor, antes de começar a tocar, perguntou à Elisa se queria algo de especial e ela, aproveitando a embalagem da conversa, perguntou-lhe se ele conhecia a ária Mi Chiamano Mimi, da Boèheme, do Puccini, e cantarolou umas notas para exemplificar. Aí, fiquei logo em sobressalto. E o meu terror foi completo quando ouvi a resposta positiva. Mas não reagi a tempo. Ela levantou-se de imediato, aqueceu a voz de uma forma arrepiante e fez-lhe um sinal. O rapaz começou a tirar uns acordes ao mesmo tempo que ela enchia o peito e desatava a assassinar mais um clássico. De imediato, os clientes começaram a levantar-se, mas o Aristides foi de pensamento rápido e meteu um empregado à porta para não deixar sair ninguém sem pagar.
Aquilo foi um verdadeiro motim, além de que as "flûtes" de champanhe que estavam nas mesas, começaram a estalar cada vez que ela chegava aos agúdos, prejuízo que o Aristides se apressou a acrescentar-me à conta, já de si bem gorda. O restaurante, por essa altura, era palco de um espectáculo dantesco.
O pior porém, foi quando ela atingiu a altura mais dramática da peça, em que os agudos atingem o limite.
O vestidinho dela, abotoava junto ao peito com 3 botõezinhos. Ora na altura em que ela atingia o limite das suas cordas vocais o botão de cima, com a força daquele extraordinário megafone, foi projectado como uma bala. Imaginem para onde eu estava a olhar! Pois, exactamente! Levei com o botão numa vista, e pensei de imediato que estava cego. As dores já nem me permitiram ouvir o remanescente da récita, que também não durou muito mais tempo, porque a Elisa, na sua generosidade, e apercebendo-se da minha tragédia, calou-se, o que fez, como que por milagre, com que o restaurante voltasse à sua pacatez habitual.

A Elisa não se preocupou sequer com o facto de o botão ter deixado á vista o wonderbra grenat nº 44 e não me largou, tratou de mim com desvelo, devia estar a ver que ficava com o noivo estropiado, sim, que eu percebi que ela já me considerava propriedade sua. Com uns pachos de água morna a dor lá se foi desvanescendo um pouco e quando me senti com forças, fui até à casa de banho e fiquei petrificado quando me vi ao espelho. Parecia que tinha sido picado no sobrolho, por uma abelha gigante, estava tudo vermelhão e inchado no sítio atingido pelo projéctil.
Lá voltei á mesa na altura em que o Aristides se preparava para queimar os crêpes, que eu já nem provei, ao mesmo tempo que me lançava um olhar de viès, como se fosse eu o causador do cataclismo que lhe varrera o restaurante. Sempre pensei que ele nos convidasse gentilmente a abandonarmos o seu estabelecimento, mas eu devia saber que ele não ia desistir de se ressarcir devidamente do estrago.

Quando fui pagar a conta, disse-lhe que achava o preço exorbitante, e ele respondeu que ainda estava com sorte por não ser processado por perdas e danos.

Portanto, foi totalmente desmoralizado que saí do restaurante, com a minha gentil Elisa, aquele autêntico tufão humano, pelo braço. Era a memorável ferida na carteira, a ferroada na vista, e o amachucão na alma por me ver sair completamente vencido de um jantar de onde pensara sair como Napoleão de uma das suas vitoriosas campanhas. Nem o meu Armani brilhava.
Rumámos a casa, e na viagem de regresso, a Elisa encheu-me de mimos: mordiscou-me o lóbulo da orelha direita, acariciou-me a nuca de uma maneira que todos os pêlos se me eriçaram, ao mesmo tempo que eu tentava evitar sucessivas colisões. E chamou-me vários nomes carinhosos, de qu não retive nenhum. Foi assim que a minha moral se foi levantando pelo caminho.
Estacionei e levei-a até à porta onde esperava ao menos uma despedida carinhosa como reconhecimento pelas agruras por que passara. Aì, ela abriu a porta, puxou-me violentamente para as escadas e fechou-a atrás de si, ao mesmo tempo que eu tentava manter-me de pé.

Bem, mas isso é outra história. O jantar está despachado.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/30/2004 08:06:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Porque a Solidariedade não é só uma palavra
Poderia tecer grandes loas à necessidade de sermos solidários. Mas nesta, como noutras coisas, os gestos valem mais que todas as palavras bonitas.
A Purpura iniciou uma campanha de solidariedade de apoio à Filomena. Não vou repetir o que a Púrpura escreveu sobre o assunto. Visitem o seu blog. Está lá tudo
Aqui, limito-me a secundá-la e a, de alguma maneira, publicitar o caso desta maneira
Escrito por: VdeAlmeida, em 8/30/2004 08:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, agosto 27, 2004
Harpa

davidsand2.jpg


O seu corpo
ali tão perto
Com a pele
fresca de cetim
A pedir uma
carícia prolongada
Deixa escapar
uma fragrância
de um tom
simples e aberto
de jasmim
Que a torna
assim
mais desejada

À sua vista
Imagino o corpo
de uma harpa
A chamar-me
A pedir-me só a mim
para ser
com cuidado dedilhada
uma harpa leve
suave, especial
Em que o escapar
de um dedo,
uma nota falhada,
não mais terá perdão,
será fatal

É esta minha
eterna hesitação
Um temor excruciante
de falhar
Que me deixa neste
estado delirante
E me mata um pouco mais
a cada instante

Foto daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/27/2004 08:54:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, agosto 26, 2004
Querido Diário - VIII

Acreditem ou não, a Elisa aceitou o meu convite para jantar.
Encontrou-me na 2ª feira no café 33, dirigiu-se a mim muito direita e séria, de tal maneira que fiquei sem pinga de sangue, pensando que me ia dar uma sarabanda em público e uma nega que me exporia ao ridículo. Acho que estive quase a desmaiar, ou a ter um acesso de hipoglicemia. Mas de repente, e quando chegou junto a mim (claro que houve uma parte dela que chegou quase no dia anterior), abriu um sorriso alvo, com aqueles dentes a parecerem um teclado de piano sem as teclas pretas, e perguntou-me se o jantar podia ser na 4ª feira. Eu fiquei com a respiração um bocado suspensa, mas lá balbuciei que sim. E disse-lhe que a ia buscar às 7 e meia.

Entretanto, dei de caras com o tipo do 2º esquerdo, o marido da tipa que me apanha sempre descalço a olhar pelos binóculos, mas eu estava a falar com o Leonardo, que é um "armário" com quase 2 metros e 120 quilos, que vende rifas e cartões e tem uma empresa de segurança pessoal. De modo que, vendo aquela minha amizade, passou ao largo, mas sem nunca tirar os olhos de pitbull de mim. O certo é que senti uma
dor aguda no dedo grande do pé esquerdo, o que quer dizer que o sujeito, que eu sempre pensei ir ser na minha vida um personagem efémero e desinteressante, tem sobre mim, e mesmo ao longe, o efeito de um ataque agudo de gota.
Depois, custou-me caro, porque o Leonardo, aproveitou a fraqueza da minha posição e endrominou-me com 10 cartões para a lotaria de 2ª feira. Lá se foram 10 € que sei nunca irei recuperar, pois mesmo que me saia alguma coisa, perco sempre. O Leonardo raramente paga prémios. Nunca vi ninguém a reclamá-los, e não vou ser eu a começar.

O Albano, que também passou por nós mas nem parou, é que cada vez vai tendo menos a noção das conveniências. Anda sempre com a bíblia debaixo do braço, o que a faz já ter um aspecto um bocado seboso, e saca-a em qualquer lado para ler passagens que traz sublinhadas, aos vizinhos. Mas sempre de uma maneira tão agressiva que as pessoas quase são compelidas a ouvi-lo. Já foi proibido de fazer campanha no café 33, e agora, ressentido, diz que o dono, um pai de três rapazes e uma menina, é amigo íntimo do Abel, aquele que levou com o carro em cima. Se o senhor ouve a calúnia que corre sobre ele e quem a anda a espalhar, não me admira que o seu punho se una ao da Amélia para fazer umas carícias ao Albano.
Ah! a propósito da Amélia já imagino em parte,o porquê das irritações cutâneas dela às 6ªs feiras: constou-me que as Testemunhas só levantam o jejum sexual dos seus membros às 5ªs feiras. E digo em parte, porque isso não explica tudo, as irritações são sempre muito extensas, e para ter aquele aspecto, há para ali rituais de acasalamento muito estranhos. Bem, ele uma vez falou-me de uma habilidades que incluíam o uso de pincéis de barba e varinhas mágicas, mas eu nem quis acabar de ouvir, tão aberrante aquilo me pareceu.
Agora arrependo-me, porque talvez esse dado me permitisse concluir o puzzle. É o que faz não ser curioso.

Concluindo por hoje: ontem fui jantar com a minha deusa. E por hoje, só vos digo que as emoções começaram logo ao ir buscá-la. Atendeu-me a avó com um sorriso simpático, e por trás dela a minha ave canora. Quando a vi ia-me dando uma coisinha: trazia um vestido vermelho, muito justo e decotado e devia trazer um wonder-bra justíssimo que fazia com que aqueles dois hemisférios, que pareciam duas cabeças do Dunga, estivessem tão juntos um ao outro, que entre eles poder-se-ia enfiar o pau de um cartaz tão firmemente que se podia desfilar numa manifestação sem se correr o risco do cartaz cair.
Atirou-me:
-Vamos? e passou-me pela frente. Aí, quando a vi de costas, a emoção ainda foi maior. Só vos digo, que esta noite sonhei com pequenas melancias em sacos de plástico.

Mas o jantar conto depois, que agora ainda estou na ressaca e mal consigo escrever.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/26/2004 06:51:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Loucura

fotografin-berlin.jpg


Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei

(Sophia de Mello Breyner Andersen)

Será o amor capaz de qualquer loucura?
Ou seremos nós loucos, que tomamos o amor como alibi para as nossas loucuras?

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/26/2004 09:23:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, agosto 24, 2004
Querido Diário - VII


O Albano é um vizinho meu, um tipo baixote e entroncado, tipo taco de pia, que anda sempre com a barba por fazer (é curioso porque acho que isso tem alguma coisa a ver com as irritações cutâneas que a mulher dele, a Amélia, trás sempre bem visíveis no pescoço, peito e pernas, todas as 6ª feiras. Só não percebi ainda, o porquê de ser só nesses dias). Bem, mas o Albano é o tipo com mais horror a papéis e alérgico a trabalho que conheço. Para verem bem o estilo há uns meses teve que ir tratar de uma certidão de nascimento completa, por causa de umas coisas que o pai lhe deixara, e pediu-me para ir com ele para o ajudar, caso fosse necessário preencher papéis.
Quando chegámos ao registo civil disse ao funcionário ao que ia, a data de nascimento, o nome dos pais e o seu: Albano Silva. O outro foi à procura e disse-lhe:
- Está aqui, mas olhe que o seu nome completo é Albano dos Reis Silva.
- Como? Nunca soube disso. E sempre me assinei só Albano Silva. E no BI também é só o que consta.
- Acontece, amigo. Mas não há problema, podemos deixar assim ou podemos averbar o nome.
- Ok! respondeu o Albano. Até que nem é feio. e repetiu em voz alta: Albano dos Reis Silva! Fica bem! Vamos nessa.
- Então, é só o senhor preencher estes formulários, respondeu o funcionário, passando-lhe umas 3 folhas para a mão.
- O quê? Preencher mais papéis? Nem pense. Fica assim mesmo. Albano Silva. E se por causa do "Silva" me quiserem arranjar trabalho, fico mesmo só Albano!
O homem ficou pasmado. Via-se bem que não conhecia o Albano. Depois, lá tratámos da certidão sem mais precalços, mas à saída ainda me disse:
- Já viste aquela melga a querer arranjar-me trabalho?

*****

Pois o Albano agora converteu-se às Testemunhas(nunca lhe tinha detectado qualquer inclinação religiosa), e quer por força levar-me para o rebanho. Eu que nem sou de grandes curiosidades, andava a tentar saber quem o teria conseguido convencer a aderir, de certeza que um daqueles tipos que consegue vender frigoríficos aos esquimós no Alaska! Sim, porque aquilo dá trabalho e é preciso ter um paleio do caraças, embora isso seja coisa que não falta ao Albano.
A minha curiosidade foi recompensada há duas semanas: não foi tipo nenhum. É que a Josefa, que trabalha na padaria, pertence ao Nucleo Angariador e Beneficente, de Outros Sócios - Testemunhas da Madragoa, simplificando e conforme eles têm na placa da porta: NABOS - TM.
Ora o Aníbal tem-na debaixo de olho desde que ela veio para a zona. Até se levanta da mesa do dominó e vai espreitar à rua, quando ela passa, o que deixa os parceiros sempre em brasa. Bem, a Josefa é muito jeitosa, parece um violencelo, e deita uns olhares lascívos, mas aquilo ainda vai dar molho. A Amélia, que por acaso, é peixeira, tem muito mau feitio, e o Albano que o diga, que de vez em quando lá aparece com um olho deitado abaixo. Diz sempre que bateu na esquina do armário da cozinha, mas eu cá acho que é muita coincidência bater tanta vez e sempre no mesmo sítio e com a mesma parte da anatomia. Acho que aquilo traz a marca Amélia.

*****

Bem, mas ele lá me tenta, e eu na semana passada, aquando de mais um assédio, disse-lhe que sou agnóstico, e ele deve ter pensado que aquilo era alguma alergia, e perguntou-me se não tinha tratamento. Lá lhe expliquei de que se tratava e ele respondeu-me:
- Eh! pá, mas isso é pecado. No dia do juízo tás lixado.
- Não. Quando for confrontado pelo Criador, digo-Lhe que sou como o S. Tomé, que também só acreditou quando viu e ainda foi promovido a santo. Portanto, tás a ver, esta minha posição, ainda me pode ser vantajosa, ao contrário do que dizes.
O Aníbal deve ter nascido num dia em que o distribuidor de inteligência estava de folga, de maneira queficou a olhar para mim, como que a digerir aquele brilhante discurso e disse-me: "Amanhã voltamos a falar", e virou as costas. Devia ir com intenção de pedir instruções aos superiores. Disse-lhe de saída: "Cumprimentos à Amélia. E à Josefa também". Ficou muito pálido.
Até hoje, não voltou a insistir na conversão. Acho que afinal, o Aníbal, não é assim tão parvo.

*****

Estou a ver é que tenho que me livrar destes binóculos. Primeiro, e como já frisei, a qualidade deixa muito a desejar. Depois, porque desde que os uso, parece que ando a ser perseguido peloa azar.
O último aborrecimento que me causaram, ocorreu no passado sábado, pela manhã.
Estava eu todo feliz a sair do duche e a cantarolar uma chanson do Jacques Dutronc, quando me apercebi que o meu "rouxinol" estava a iniciar um dos seus exercícios vocais. Corri para a janela com a toalha à cintura e olhei através das persianas. Foi então que se deu a catástrofe: quando vi que a Elisa se dedicava aos seus exercícios vestida só com um bikini tipo fio-dental (devia estar a preparar-se para um dia na praia), como não tinha um ângulo que me permitisse vê-la, entrabri um pouco a janela, ao mesmo tempo que apressadamente deitava a mão aos binóculos que estavam, como de costume, numa mesinha que tenho ao pé da janela. Só que o movimento foi tão brusco, que a toalha caiu ao chão. Para o azar ser completo, a tipa do 2º esquerdo, a tal que tem um piaçaba por cima do beiço superior, também estava á janela, e olhou para mim precisamente nessa altura. Deu um berro como se fosse a primeira vez que visse um homem naqueles preparos, e foi para dentro. Deve ter ido fazer queixa ao marido, deve-lhe ter dito que eu devia ser um sátiro, um daqueles tipos que andam a abrir a gabardina no Parque Eduardo VII, porque ele apareceu logo a seguir, com uma cara que não augurava nada de bom, vermelho como um tomate. O que vale, é que, entretanto, eu já tinha fechado a janela. E agora há dois dias que não ponho um pé na rua, antes de olhar bem para todos os lados, não vá o diabo tecê-las. E à janela, tenho-a de persianas corridas, levemente entreabertas de modo a que se não veja cá para dentro.
Chiça! Já é a 2ª vez que aquela gaja me toca na rifa!
Só me faltava agora que a tipa contasse alguma coisa à Elisa, e ela não aceitasse o meu convite para um jantar a dois, que eu lhe mandei juntamente com um grande ramo de flores cheio de lacinhos cor de rosa como as mulheres gostam.
Estou a pensar levá-la a um restaurante francês chamada "Au tête de Vache", e pedir ao dono, o Aristides, que tirou um curso de "maître" em Freixo de Espada à Cinta, para que o evento se faça à luz de velas. Música especial, nem preciso de pedir, porque ele tem lá um rapaz com costela húngara, que toca no seu violino os últimos êxitos da música popular, em ritmo cigano.
Vamos ver se o meu sonho se concretiza!

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/24/2004 05:26:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, agosto 23, 2004
Página Encerrada

vk-arc10-conteserotic.jpg


Partiste e contigo foi também
Aquilo que alimentava um fogo intenso
Desolaste uma paisagem transbordante
E que hoje não passa dum deserto imenso

No fresco e sereno madrugar
Procuro pelo vazio com mão tensa
Um calor transpirado nos lençois
Que me faça recordar a tua presença.

Tacteio suavemente, devagar
Como se desse modo cuidadoso
Pudesse em realidade transformar
Este vazio quase espesso, doloroso.

Arrebata-me o sonho dos teus braços
Mas não te traz de volta, És ilusão
Nunca mais estarás comigo aqui
E sequer terei na minha a tua mão

Tua pele não cobrirei com beijos
Como fazía em noites de paixão
Não mais sucumbiremos de desejo
Suados, espalhados pelo chão

E contudo, suspiro aliviado
Por me soltar enfim do cativeiro
Em que há muito me tinhas, em torpor
Preso de um sentimento sufocante
Que nem sequer sabia se era amor

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/23/2004 03:10:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, agosto 20, 2004
Nuvem
       

clouds_3.jpg


Falas-me
com a voz fechada
na espiral de um búzio
trazes recados azuis
do mar que te quer sua
Murmuras
em timbres de bonança
as palavras
que só eu posso escutar,
e que guardarei
numa caixa de segredos,
nacarada,
Perfumada com o aroma
do amanhecer,
vermelho e salgadiço.
Sei que depois virá
a leve brisa
Que te irá levar
Numa nuvem de ilusão
O sonho é sempre efémero,
Quebradiço

Foto daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/20/2004 06:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, agosto 18, 2004
Querido Diário - VI

Afinal ando a ser traído pelos meus próprios olhos, e pior: pela porcaria dos binóculos, que além de não terem o zoom que eu esperava, pelos vistos distorcem as imagens. Estou danado!!!
Além de que tenho uns vizinhos que só me dão preocupações.
A verdade é que encontrei a "minha" soprano ontem de manhã no café 33 e caíu-me o queixo literalmente. A moça não tem nada de avantajado excepto o peito. Digamos que é uma mulher 36 a usar um wonder-bra 44, tão a ver? De resto, aquilo está tudo "en su sítio".
Tem uns olhos castanhos suaves e a dar com o busto, isto é, enormes, cabelos da mesma cor, levemente ondulados, uma boca vermelha como um morango a apetecer trincar, e uma cintura bem vincada, o que quer dizer que de ancas também não está mal servida.
Eu conto.
Estava eu a tomar o meu café da manhã, quando ela irrompeu pelo balcão, quase derrubando o suporte dos guardanapos de papel com...a parte mais avançada. Olhou para mim e inquiriu:
- Não é o vizinho do 3º andar em frente ao nosso?
Quase deitei o café que estava a beber, pelo nariz! Que cagaço! Pensei logo que ela me tinha topado com os binóculos. Quando me recompus, a medo respondi:
- Sou. Já a tinha visto. E ouvido. Muito prazer
- Ah!Eu sou a Elisa e então já notou que quero ser cantora lírica.

Pensei para comigo que o nome não podia ser mais desadequado. De lisa é que ela não tinha nada. Quanto ás aspirações...
- Sim, já dei por isso - não lhe dando conta do dó que tinha sentido pelo sol que ela errara de maneira tão dramática na noite anterior e do que pensava da sua tentativa de assassinato da obra do pobre Bellini.
- Sabe? o meu professor, o dr. Aníbal, acha que tenho grandes hipóteses de vir a ser uma grande soprano, e até já se ofereceu para me dar aulas em casa dele, se os vizinhos aqui se continuassem a manifestar de forma tão pouco civilizada como fizeram na noite passada.
Imaginei logo em que é que o safado do Aníbal estava a pensar. Lições particulares, pois.
- Nem imaginam os sacrifícios que faço pelo amor que tenho à minha arte, as dietas, os exercícios durante todo o dia!- Começava a entender
a razão daquela parte da fisionomia ter tomado aquelas proporções. Eram os exercícios, pobre moça. Arte, a quanto obrigas!
Aprestava-me eu para lhe dizer que estava muito agradecido ao destino por me ter dado como vizinha um tal talento, quando surgiu o Abel.
O Abel é um conhecido meu, simpático mas com umas maneiras um bocado afectadas. Há meses que o não via, e tinha-me constado que tinha tido um acidente de viação que o tinha deixado muito maltratado. Contaram-me que, indo ele no seu carro a passar sob uma ponte ou viaduto, não sei, lhe teria caído em cima, uma outra viatura que no preciso momento se despistara na estrada que lhe passava por cima.
Como sempre tinha achado o que me contavam um bocado bizarro, pedi licença à Elisa e indaguei-o:
- Já vi que estás recuperado. Agora conta lá, afinal que se passou contigo.
- Ai, filho, nem te conto - disse em voz suficientemente alta para ser ouvido em todo o estabelecimento, ao mesmo tempo que fazia um rodopio estranho com a mão direita, findo o qual a deixou pousar ao de leve no meu braço, e enquanto que soltava uma risada um pouco aflautada- Sabes? já me têm caído muitos homens em cima, mas enlatado foi o primeiro!

E riu-se muito, afastando-se muito direito até uma das mesas onde se sentou, cruzando as pernas de maneira um bocado estranha, dando-se mesmo ao trabalho de cuidadosamente puxar um pouco as pernas da calça para cima com as pontas dos dedos, para não as amachucar amachucar!
Bem, além de em poucas palavras me ter confirmado que a versão que me tinham contado era verdadeira, confirmou-me aquilo de que há muito suspeitava. Fiquei um bocado embatucado, mas fiquei bem pior quando o olhar faíscante da Elisa me fixou, como se eu tivesse responsabilidades na vida sexual do Abel. Depois, voltou-me as costas e saiu do café. Há pessoas muito preconceituosas.

Estes meus vizinhos só me metem nestes assados. Agora que tinha conseguido travar conhecimento com a minha bela vizinha, logo havia de ter aparecido o Abel mais o seu estúpido acidente.
Agora, nem sei como fazer para reatar relações com a minha ave canora
Há dias em que não se pode sair de casa.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/18/2004 09:32:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, agosto 17, 2004
Sal

0122.jpg


Diviso por entre
sombras e penumbras
O teu corpo
de nuvens e de mar
Alcanço-te, enlaço-te,
respiro-te
Dissolvo-me em ti
Em noites de luar
Sou só o sal
do suor desta paixão
Que se solve
entre soluços
e sargaços
E que se acaba
aos alvores
de novo dia
agonizante de prazer
entre os teus braços

Foto daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/17/2004 06:34:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, agosto 14, 2004
Querido Diário - V

Estou estarrecido! A Fada tinha razão!
Não estou estarrecido por a Fada ter razão, claro, que a tem muita vez. Mas por se terem confirmado os temores que tinham tomado conta de mim, quando ela afirmara que a opulência de carnes da minha nova vizinha do 3º andar em frente, eram capazes de se dever ao facto de ela ser soprano de óperas do Wagner.
Bom, Wagner não sei se canta. Mas pelo menos tenta cantar o Bellini.
Ontem à noite, estava eu á janela a ver se apanhava uma brisasinha que me aliviasse o calor, quando vejo entrar para o prédio um sujeito baixinho e anafado, de careca reluzente e fato escuro, abotoado e gravata bem chegada ao pescoço. Até me fez sentir mais calor. Como as minhas vizinhas do 3º tinham as janelas escancaradas, consegui ver que o homem entrou para lá, e como distingo a sala toda, vi-o sentar-se ao piano. Ah! e um pequeno pormenor, com os binóculos ainda consegui assistir melhor a tudo. E a experiência foi aterrorizante, acreditem.

Um aparte para dizer que aqui há dias tive um problema desagradável com os que moram por baixo delas, no 2º esquerdo. Eu conto. Quando foi do início das sessões de ginástica da minha saudosa vizinha que fugiu com o feliz professor de ginástica, um amigo meu que trabalha em qualquer coisa da polícia que nunca me explicou muito bem o que era, arranjou-me uns binóculos daqueles que têm infra-vermelhos para se ver de noite. Bem, isto disse ele, mas eu acho que aquilo não dá para ver tão bem como dizem. Claro que eu pedi-lhe aquela coisa, não com o intuito de bisbilhotar nada, mas como sou um bocado rigoros, queria ver se ela executava os exercícios exemplarmente.
Ora há dias, estava eu com os binóculos dirigidos para um casal de melros que andavam em alegre brincadeira no telhado do prédio deles, quando o sacana do puto do 2º esquerdo foi chamar o pai aos gritos, a dizer que eu estava a espreitar para casa deles. Ora aquilo era um perfeito disparate, porque não havia na casa deles nada que me interessasse e foi o que expliquei ao homem quando assomou à janela e me veio pedir satisfações. Mas o tipo disse que a mulher se estava a mudar no quarto e devia ser isso que eu estava a espreitar. Uma imbecilidade. O tipo parece que é cego, ainda não reparou que casou com uma réplica da madrasta da Branca de Neve depois da transfiguração. Bom, mas eu estava a ver que aquilo dava para o torto, bem lhe repeti que sou uma pessoa respeitável, mas ele insistia e decidi guardar os binóculos e agora só os uso com a janela fechada e por detrás dos cortinados, de modo que não me possam ver.

Mas voltando à vaca fria, o senhor emproado, mal entrou sentou-se ao piano, puxando ligeiramente as pernas da calça para cima, antes de encostar o rabo ao pequeno banco. Depois, com as mãos dois palmos acima do teclado, fez uns movimentos esquisitos com os dedos até que os pousou nas teclas, arrancando assim os primeiros sons melódicos ao mesmo tempo que a moçoila, pôs a mão direita sobre a esquerda e ambas sobre o coração e toca de desancar o Mi chiami, o Norma, do Vicenzo Bellini, que deve ter dado umas poucas de voltas na tumba, mal ela soltou as primeiras notas e rebentou com uma das lâmpadas do lustre da sala e até a minha janela vibrou. Apanhei um cagaço que ia deixando cair os binóculos e o meu gato, que estava a dormir no parapeito deu um salto, começou a bufar e ficou todo eriçado. Deve ter sido uma daquelas que inspirou o Hergé na criação da sua Castafiore.

Bem, o que valeu foi que a vizinha do 2º direito, que é uma velhota surda, pegou na vassoura e começou a bater no tecto com toda a força. Claro que se interrompeu a cantoria (???), mas a senhora de idade, que eu acho que é avó da aspirante a Monserrat Caballé veio à janela muito indignada com o acto da vizinha de baixo. Começou uma discussão entre as duas e eu recolhi-me antes que sobrasse para mim. E entretanto, o cavalheiro gorducho saiu porque deve ter chegado à conclusão, que a sua missão, por ontem, estava terminada. Acho que deve ser o professor de belo canto. Pelo que vi, bem pode limpar as mãos à parede pelo trabalho que anda a fazer

O pior é que pelo que me constou - sim que hoje não se falava de outra coisa no café 33 - aquilo vai ter continuação, que elas não vão desistir facilmente. Cá por mim, se ela gosta do Bellini, acho que se devia ficar pelas pizzas.

Pelo sim, pelo náo, já fui comprar uns tampões à farmácia, e enxotei o gato para as traseiras, antes que enloqueça e me comece a subir pelos cortinados.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/14/2004 09:24:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, agosto 13, 2004
Numa 6ª feira 13...Edgar Allan Poe

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Numa 6ª feira 13, deixo uma pequena homenagem a Edgar Allan Poe, talvez o primeiro grande mestre do conto de terror, de quem há muito sou um admirador confesso.
Mas Poe não foi só autor de contos. Foi também poeta, faceta que muitos lhe desconhecem. Deixo-vos um excerto do seu poema "O Corvo", um dos mais conhecidos e que acho magnífico:

[...]Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».
[...]


O poema completo, podem ler aqui, tradução do nosso Fernando Pessoa

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/13/2004 10:26:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, agosto 12, 2004
Praia

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"Dormi contigo toda a noite
Junto ao mar, na ilha
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.

Os nossos sonos uniram-se
talvez muito tarde
no alto ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento agita,
em baixo como vermelhas raízes que se tocam [...]"

Pablo Neruda, A Noite na Ilha

"[...] Esperamos em vão, isso sabemos,
Amaldiçoamos em vão este porto, estas
vagas e esta escuridão.
Só as nossas lágrimas, só os nossos sonhos
ainda amam o mar"

José Agostinho Baptista, Náufragos

Enredas-me assim, nesses teus braços
longas promessas de carícias e desejos
Atrais-me para o abismo dos sentidos
E eu que há tanto espero o teu chamado
Peco mais uma vez sem contrição
E desfaleço na rebentação, sorrindo
Perdido num vendaval incontrolável
de lascíva e impúdica paixão
Envolto na maré e em gemidos




Escrito por: VdeAlmeida, em 8/12/2004 10:49:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Colectivo
A Sara, a nossa Estrela Vertiginosa, convidou-me e a mais alguns seus amigos da blogoesfera para colaborar num post, Raízes, que é quase um mural colectivo, uma espécie de graffiti feito a várias mãos, no seu bonito espaço. Fiquei feliz e honrado com o convite, e colaborei com um prazer imenso.
Penso que valerá a pena darem uma espreitadela, porque acho que está a resultar de uma maneira surpreendente.
Como diz a Lique , magias da colaboração.
Escrito por: VdeAlmeida, em 8/12/2004 09:10:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, agosto 11, 2004
Promessa

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Nada mais escreverás
nas folhas em branco
do meu coração
Entre os teus dedos
cegos de indiferença
esmagaste, uma a uma,
todas as lágrimas
da minha emoção
As mãos nuas
do teu desamor
Cortaram cerces os pulsos
do meu carinho
E os teus olhos
sombrios e crús
espesinharam todas as flores
garridas da ilusão
Com que se me pintava a vida
Nada será como dantes,
não mais os teus risos líquidos
me farão estremecer
e sufocar de paixão
Prometo-te!
Nada mais escreverás
nas folhas em branco
do meu coração

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/11/2004 09:17:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, agosto 09, 2004
Palavras
As palavras
São como um cristal,
Algumas, um punhal,
um incêndio
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Eugénio de Andrade, Obra Poética

Ando de poucas palavras, é mais música, de modo que vos deixo com as palavras de outro. Este, um mestre com elas.
Tenham um dia carinhoso, cheio de palavras de cristal.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/09/2004 03:13:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, agosto 07, 2004
Pedaços de mim - Parte III (e última)

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Escrito por: VdeAlmeida, em 8/07/2004 01:03:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, agosto 06, 2004
Coisas...

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Só me apetece dançar e cantar o All That Jazz. Acho que estas noites quentes de Agosto me estão a influenciar os humores de um modo estranho.
Ontem por exemplo, apeteciam-me cachorros quentes e eu nem gosto de salsichas de lata.
Anteontem eram as pipocas, que são um dos meus ódiozitos de estimação.
Só falta apetecer-me comer marshmellows, passear no Intendente, ouvir o cd com o´s discursos do Santana Lopes, versão integral, voltar a fumar ou assistir ao próximo concerto do Toy, ou mesmo ao programa do Goucha na TVI.
Ou se calhar, não tem nada a ver com o Agosto, e o médico tem razão e eu tenho que recomeçar urgentemente os tratamentos

C'mon babe
Why don't we paint the town?
And all that jazz

I'm gonna rouge my knees
And roll my stockings down
And all that jazz

Start the car
I know a whoopee spot
Where the gin is cold
But the piano's hot

It's just a noisy hall
Where there's a nightly brawl
And all that jazz!

Slick you hair
And wear you buckle shoes
And all that jazz

I heat that father dip
Is gonna blow the blues
and all that jazz

Hold on, hon
We're gonna bunny hug
I bought some aspirin
Down at united drug

In case you shake apart
And want a brand new start
To do tC'mon babe
Why don't we paint the town?
And all that jazz

I'm gonna rouge my knees
And roll my stockings down
And all that jazz

In case you shake apart
And want a brand new start
To do that-
Jazz.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/06/2004 09:00:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, agosto 05, 2004
Efemeridade


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Passam hoje 42 anos sobre a morte de um dos maiores ícones do século XX, Marilyn Monroe.
Marilyn, bela como nenhuma outra, teve o mundo a seus pés. Com tudo para ser feliz, não teve sequer tempo para o ser. Dá-nos ela, com a sua morte no auge da sua beleza e fama, a noção da nossa efemeridade, tão semelhante à das orquídeas, explendidamente descritas por Luís Sepulveda em "As Rosas de Atacama":

A noite da selva envolve tudo com o seu silêncio especial, feito de milhares de rumores. É mecanismo prodigioso da vida, que contrai os seus músculos para facilitar o parto da Vénus nocturna, uma orquídea pequena como um botão de camisa, de viva cor violeta, que abre as pétalas com as primeiras luzes do amanhecer e morre poucos minutos depois, porque a diminuta eternidade da sua beleza não resiste à luz de Manú, que muda constantemente, segundo os humores do céu, da água e do vento.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/05/2004 09:02:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, agosto 04, 2004
Querido Diário - III

Descobri! Uma das coisas pesadas está agora a ser içada: um piano de cauda.
Será que se vem ali instalar uma orquestra? Cheira-me que os vizinhos não vão apreciar a companhia. Um tipo teve que se mudar do 2º andar depois de dois "vigilantes" locais, mandatados sabe-se lá por quem para manter a tranquilidade e os bons costumes, terem feito correr um abaixo-assinado pedindo o seu imediato saneamento de tão tranquilo bairro, só porque arrotava ruidosamente depois das refeições. Bom fazia outras coisas, mas não vou agora entrar em pormenores.
O que sei, é que se os instrumentos não se destinam somente a fins decorativos, os novos inquilinos vão-se meter numa camisa de onze varas.

Entretanto, estava eu a caminho do Café 33 para a minha bica matinal, quando passa por mim o Óscar e nem água vai. Já tinha passado por mim há uns bons dois metros, quando disparei, quase a gritar:
- Bom dia. Ao menos fala, caraças!
- Oh! pá, não te vi. Desculpa lá mas sem óculos sou pior que uma toupeira.
- Esqueceste-te deles?
Nesta altura ele hesitou, corou um bocado, e por fim lá deixou escapar:
- Não. Partiram-se.
- Mas isso é caso para ficares assim nervoso? Mas partiram-se como? Sózinhos? Ou partiste-os?
- Não fui eu. Foi a Ludovina
E corou mais. A Ludovina é a mulher dele.
- Apanhou-te nalguma e deu-te uma tareia, não?
A Vina é conhecida pelo mau feitio.
- Não, pá. Ela não me bate, que é isso? A situação é embaraçosa, acho melhor não contar.
- Vá desembucha!- disse-lhe já a ver que ia dali sair coelho gordo.
- Bem...estávamos a fazer amor, percebes?
- O quê? Bem, percebo. Mas não fazia ideia que usasses óculos nessa ocasião. A coisa deve ter sido mesmo extraordinária. Para ela te partir os óculos...
- Bom, tenho mesmo que os usar, se não, não vejo mesmo nada "ao pé". E eu gosto de ver o que estou a fazer, entendes?
- Sim, entendo. E?...
- E quando estávamos no auge, no clímax ela fecha as pernas de repente e parte-me os óculos. Já percebeste?

Se soubesse não tinha insistido com ele. Ainda me estou a recompor do abalo!

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/04/2004 08:43:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, agosto 03, 2004
Querido Diário - II

O terceiro andar do prédio em frente ao meu, vai ser novamente habitado. Parou hoje à porta um enorme camião de mudanças e começaram a descarregar.
Há mais de três anos que estava para alugar e ninguém lhe pegava. Acho que os potenciais interessados acabavam por saber da história dos antigos moradores e desistiam.
Realmente, os antecedentes não eram alegres, e aquilo quase cheirava a casa assombrada.
Estou cheio de curiosidade em saber de que estilo são os novos inquilinos. Até porque, o mobiliário promete. Não só instalaram uma roldana no alto do prédio, o que dá desde logo a ideia de que trazem coisas grandes e pesadas, como já vi passar um contra-baixo. o que quer dizer que vamos ter música.

O Marcelino teve uma discussão com um padre por causa de um lugar de estacionamente. Logo ele que já tinha relações pouco amistosas com a igreja por causa de um outro religioso que se recusou casá-lo "só porque me declarei ateu" (sic)
Agora, mal me viu, veio ao meu encontro com uns livros e um pequeno caderno na mão, e disse-me que já que queriam guerra, iam ter guerra. Acrescentou que estivera a dar uma vista de olhos pelos Versículos Satânicos de Salman Rushdie e que ficara a ser seu admirador, pelo que lhe ia seguir os passos e escrever um manifesto contra a Igreja católica, e até já tinha título para ela:
- Como nunca tive jeito para a poesia, a minha obra vai ser em prosa e chamar-se-á "Textículos Satânicos".
Fiquei pasmado, mas quando acordei do torpor, disse-lhe que se calhar aquele título não era muito aconselhável.
Não entendeu as minhas reservas, e eu preferi não me alongar em explicações.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/03/2004 08:25:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, agosto 02, 2004
Recomeço

Recomeço a partir de muito pouco,
nesta praia onde a areia, húmida e
sombria,
erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos.
Recomeço a partir de uma única palavra,
de um ínfimo sinal que vi gravado nos
muros da tua cidade em ruínas.
Aí, nessa cal desaparecida,
vi, um dia, um pássaro imóvel,
quase vivo,
com os olhos trespassados pelas agulhas do tempo,
inclinar-se e cair sobre as pedras mudas,
e esse pássaro eras tu,
ferida de morte,
afastando as lágrimas em vão.

(José Agostinho Baptista)

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/02/2004 05:59:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, agosto 01, 2004
Querido Diário - I

A minha namorada morreu. Despedaçou-se-me o coração e jurei ser fiel à sua memória. De início, não foi difícil; estava tão aflito que nem sequer conseguia imaginar-me a beijar outra pessoa. Mas passado algum tempo, outra rapariga começou a demonstrar certo interesse. Resisti à abordagem.
- És muito bela - dizia-lhe - mas ainda é muito cêdo. Desculpa.
Não desistia. Não parava de me tocar carinhosamente e de bater as pestanas com rimel. Acabei por ceder e caí-lhe nos braços. O homem pediu-nos que saíssemos. Explicou que o nosso roçagar, os nossos sorvos e as risadinhas incomodavam as outras pessoas do velório
.

Dan Rhodes, em A Namorada Portuguesa e outras 100 Histórias

Querido Diário, hoje deixo-te esta história do Dan, porque lhe achei muitas semelhanças com o que se passou comigo há largos anos atrás.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/01/2004 10:37:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
De volta


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Estou portanto de volta, como terão verificado os amigos e amigas que me concedem o previlégio de me visitar com regularidade. Volto com a sensação dee nunca vos ter deixado, tais as manifestações de carinho que me foram por aqui deixando nos meus escritos anteriores.
Como verão também, o sítio levou um pequeno arranjo, não tudo o que queria, mas a ignorância é maior que a vontade de mudar. Com as mudanças, os precalços habituais. Assim, altura houve em que fiquei sem links dos meus blogs favoritos, e depois, foi-me difícil recuperá-los. Tentei, mas é natural que
faltem alguns. Aos que notarem que faltam na coluna da esquerda, agradeço a chamada de atenção, que os reporei de imediato.

Outra nota, para vos dizer que decidi fazer uma pequena alteração na "linha editorial". Assim, a partir de agora, e sem qualquer periocidade previamente estabelecida, postarei aqui algumas folhas do meu "Querido Diário". Nada de muito transcendente, tudo muito ligeiro, que a época não está para pensamentos muito profundos.

A todos um excelente mês de Agosto.

Escrito por: VdeAlmeida, em 8/01/2004 05:22:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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