Novos Voos - Take Two

segunda-feira, julho 04, 2005
Actrizes de corpo inteiro

Tirei uma parte deste fim-de-semana, ou do que restou dele, depois de uma curta e rápida viagem, consequente reinstalação e habituação aos velhos hábitos, para pôr em dia alguns dos filmes que tinha por ver (é o resultado da tal pipoco-fobia)
Se tinha perspectivas animadoras de um deles, Million Dollar Baby (não me defraudou, quer o argumento, quer os desempenhos de uma fabulosa Hillary Swank, de um cada vez mais apurado Clint Eastwood, ou do sempiterno Morgan Freeman, são do melhor que tenho visto), do outro,The Aviator, tinha dúvidas sobre se seria do meu agrado, uma vez que, se Martin Scorcese é uma garantia de qualidade, já o Leonardo nunca foi santo da minha devoção.

The Aviator


Até agora. Porque tenho que dar a mão à palmatória e admitir que o rapaz tem um desempenho a todos os títulos notável, muito bem secundado pela Cate Blanchett, que nos dá uma impressiva Katherine Hepburn, de tal forma que alturas houve no filme que pensei estar a ouvir a original.
Mas o que me deixou surpreendido foi a “Ava Gardner” de uma Kate Beckinsale sóbria, mas cada vez mais a dar uma dimensão maior aos seus desempenhos. Na verdade, da sua geração será, não só das mais sedutoras faces, como também uma das melhores actrizes. E dei comigo a reflectir sobre as exigências que cada vez são maiores para as mulheres que se dedicam ao cinema, o que, na sua luta pela emancipação e igualdade (que há muito deviam ser realidade), acaba por ser de certo modo gratificante.
Onde quero chegar? Sou um amante do cinema desde sempre, e conheço uma parte muito significativa da filmografia desde o cinema mudo. E se nos primórdios e até certa altura o principal, muitas vezes até, só o necessário, era ter um corpo de forte apelo sexual e um palminho de cara, agora isso só não basta. No tempo da Ava Gardner

ava-gardner-003

agora protagonizada pela Kate, contavam-se pelos dedos as boas actrizes: Bette Davis, Katherine Hepburn, Ingrid Bergman, Gloria Swanson, em Hollywood. Pela Europa, Anna Magnani. E pouco mais. Curiosamente, nenhuma delas, excepção feita à Bergman, primava pela beleza. Talvez também Kim Novak ou a minha preferida, Lee Remick, fossem nomes a considerar, e aí, já as duas vertentes se conjugariam e bem.
Nos anos 40 a 70, as grandes divas, de Lauren Bacall a Ava, de Rita Hayworth a Marilyn, de Brigitte a Loren, nenhuma atingia níveis de excelência na representação. De Ava, elogiava-se a beleza exótica, a Rita as curvas estonteantes. A Marylin e a Brigitte, a sexualidade de cada pose, a Lauren, os olhos fascinantes. Loren e Jane Russel, apresentavam bustos exuberantes. E estes eram os argumentos esgrimidos pelas candidatas ao estrelato. A poucas se elogiava o talento.
Ontem eram deusas do écran. Hoje, estariam certamente condenadas a carreiras medíocres, equivalentes à de uma Pamela Anderson.
Hoje os padrões são outros, e é assim que actrizes como Hillary Swank, Kate Beckinsale ou a homófona Cate Blanchet, Audrey Tatou ou Ludivine Seigner, Angelina Jolie ou Scarlett Johansen, têm muito mais para oferecer que só um rosto ou um corpo. Apesar de também eles não serem despiciendos.

Está ultrapassado enfim o tempo, em que as mulheres só gozavam o estatuto de actrizes completas depois de ultrapassarem a meia idade.

Escrito por: VdeAlmeida, em 7/04/2005 07:59:00 da tarde | Permalink | |


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