Foi neste fim de tarde azul e lento
de mar sereno e sol na minha mão
que peço á gaivota alva e breve
que me conte do mundo, a perfeição
E à ave, de bailado tímido e arisco
entendo-lhe o gesto e a intenção
quando obediente e muda aos pés me poisa,
e de olhos parados fixos no horizonte,
me diz que a perfeição está naquele mar
no céu, no sol, e na lunar amante
no sorriso, no olhar, na mais pequena coisa
A perfeição
O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fracção de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exactidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exactidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
(Clarice Lispector)
Foto de Paulo Bizarro
Um abraço. Augusto