Novos Voos - Take Two

terça-feira, novembro 30, 2004
Musicas2

arrigoni.jpg


Aí vai então a actualização de hoje na lista das músicas, sempre pela ordem em que constam aí da minha coluna da direita. Espero que os contemplados/as não se zanguem muito comigo!
Diário de uma pobre menina rica (Benedita) - Tip-toe through the tulips - Tiny Tim
Confessionário do Frei (Frei) - Like a virgin - Madonna
Farinha Amparo (Didas) - Sugar and Spice - Searchers
Luz&Sombra (Luz e Sombra) - Cigarettes and chocolate milk - Rufus Wainwrigh
Correr do Vento (Mushu) - Joy of a Toy - Kevin Ayers
ToPocilgas (Porquinho da Ìndia) - They're coming to take me away, ah!ah! - Napoleon the XIV
1000 Imagens (wildBlue) - Wild thing - Jimi Hendrix
A Questão Continuada (Augusto)- Another brick in the wall - Pink Floyd
Andar à Nora (Bel@ngel) - There must be an angel - Annie Lennox
Luar de Agosto (Cecília) - Blue Moon - Billie Holiday
Blog da Betty (Betty) - Waltzing along - James
Blog da Miuda (MMM) - The tower of learning - Rufus wainwright
Cada Caso (CC) - Porcelain - Moby
Diário da Conchita (Conchita) - Mad World - Gary Jules
DuvidasDubias (Duvidas) - Gin Soaked Boy - Divine Comedy
Eroticidades (Encandescente) - Dance me to the end of love - Leonard Cohen
Ervilha-Maravilha (Tita) - Weather with you - Crowded House
Eu e os meus Botões (Alves Fernandes) - Father and Son - Cat Stevens
Exacto (João Mãos de Tesoura) - Last good day of the year - Cousteau
Fernão Capelo Gaivota (Fernão) - Flight of the Gull - Neil Diamond
Ferohormonas (Penelope) - Wonderwall - Ryan Adams
Finurias e Teixeirinha (Finurias) - Big mouth strikes again - Smiths
Flor do Asfalto (Stella) - Born to be wild - Steppenwolf
Gasolim (Manuel) - Blue Suede Shoes - Elvis Presley
BloGotinha (Gotinha) - Chill Out - John Lee Hooker & Carlos Santana
Incomensurável (Eye of the tiger) - Bohemian like you - Dandy Warhols
Letras as Acaso (Zé) - Working in the coal mine - Lee Dorsey
Letras Com Garfos (Orlando) - Englishmen in New York - Sting
Lobices (Quim) - Runaway - Del Shannon
Mundo à Janela (Sara/AmigaTeatro) - Dancing in the dark - Diana Krall
Nada ao Acaso (Diana) - Learning to fly - Tom Petty
Neu(t)ras - Preto no Branco (D.) - Wuthering Heights - Kate Bush
Nimbypolis (Nilson) - Mr. Soul - Buffalo Springfield
O Canto do Melro (G.) - Wonderful World - Louis Armstrong
O Céu sobre Berlim (Frederico) - Cut's you up - Peter Murphy
O Mocho (Whiteball) - It's a Family affair - Sly and the Family Stone
Odiozinhos de estimaçáo e Amores de Perdição (Dinah) - Girl, you'll be a woman soon-Urge Overkill
Palavras Apenas (Anjo do sol) - Stars - Simply Red
Pecola (Pecola) - Beautiful day - U2
Pé de Meia (mfc) - Ears to the ground - Josh Rouse
Traga-me os Sais (SeFaxavor) - Bang, bang, my baby shoot me down - Cher
Um Mal Menor (Master Kodro) - Hey-Pixies
Virtualmente Manos (Fatima) - Everybody hurts - REM
Viver (Formiga, Chilita, Su) - Iris - Goo Goo Dolls


Pintura de Arrigoni

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/30/2004 04:38:00 da tarde | Permalink | | ( 3)Comentários
segunda-feira, novembro 29, 2004
Música1

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Conforme tinha prometido, aqui está a primeira parted a minha lista de músicas. Quem não gostar, é só dizer que eu mudo.
Amanhã, farei o possível por aqui deixar mais uma parte.
Entretanto, aproveito o ensejo e deixo aqui os parabéns a alguém que hoje tem um dia muito especial:
Parabéns, Inconformada!!! Além da música, ficam os meus votos de que festejes este dia durante muito anos e sempre feliz . Cheers!

100Tretas (AnaP)- God put a smile upon your face - Coldplay
À Rédea-Solta (Isabel)- Vincent - Don McLean
Amorizade/Linguagem das flores - (Jacky)- Jacky - Scott Walker
Aromas de Mar (Mar Revolto)- Where the wild roses grow - Nick Cave & Kykie Minogue
Azenhas do Mar (Azenhas) - Dreamer - Supertramp
Baby Lonia (MJM)- Amie - Damien Rice
Blogantes (Ana)- Imagine - John Lennon
Bosque da Robina (Robina) - Lady in Red - Chris de Burgh
Butterfly (Aran)- Last tango in Paris - Gotan Project
Catedral -(Ognid)- Wild horses - Rolling Stones
Cópula Vocabular -(Sybilla)- Still got the Blues - Gary Moore
Cumplicidades- (Maria)- The wind cries Mary - Jimi Henderix
DeepBlueC -(DeepBlueC)- Strawberry fields forever - Beatles
Dizer tudo como os malucos-(AQ)- La Cienega just smiled - Ryan Adams
Dona Casmurra-(Sara)- Fields of gold - Sting
Eelko Van Mulder (Alex)- Trans Europe Express - Kraftwerk
Equilíbrio Instável (Trinta)- On the beach - Chris Rea
Errante (Cecília)- Hollywood nights - Bob Seeger
Espelho Mágico (Mar)- Smooth - Santana
Estrela Vertiginosa (Sara)- Walk on the wild side - Lou Reed
Eus (Luisa)- Nights in white satin - Moodyblues
Fata Morgana (Fada)- Hallelujah - Jeff Buckley
Horas Negras (Sonia)- She's in fashion - Suede
Escrevo apenas (Inconformada)- Blue Valentines - Tom Waitts
(Indis)Pensáveis (Ana Afonso)- Cry me a river - Diana Krall
Inflexão (Riacho) - Heart of gold - Neil Young
In-Quietude (in-quietude) – Il est 5 heures, Paris s’eveille – Jacques Dutronc
La Marée Haute (Vague)- La Valse de Amélie - Yann Thiersen
Loucura e Nata (Luna)- Pink Moon - Nick Drake
Minha Alma (Marta)- Suite: Judy blue eyes - Crosby, Stills and Nash
Kafkiano (MissK)- Persephone - DeadCanDance
Mulher dos 50 aos 60 (Lique)- Just like a woman - Bob Dylan
No fio da navalha (Stillforty- Stormy weather - Etta James
Palavras de Algodão (Cris)- Koln Concert - Keith Jarrett
Partilhas- You've got a friend - James Taylor
Planando (Olho-do-Mocho)- In our Sleep - Laurie Anderson & Lou Reed
Poemas de trazer por casa (Libelua)- The long and winding road - Beatles
Poemas de trazer por casa (DonBadalo)- Titties and beer - Frank Zappa
Purpura Secreta (Purpura)- Yellow brick road - Elton Jonh
Xá de limão (Raspa)- Should I stay or should I go - Clash
Repensando (Sei Lá)- Unchained melody - Righteous Brothers
Sem Pénis, nem inveja-(Tati)- Wonderful tonight - Eric Clapton
Sho-Shana-(Helena)- Trois Gymnopedies - Erik satie
Sítio da Saudade-(Monalisa)- Mona Lisa - Grant Lee Philips
Sôfrega-(Ccc) - Lost Cause - Beck
Solaberto-(Fia)- Freak Out - Sister Sledge
Texere-(Tecum)- A wither shade of pale - Procol Harum
UmBigoMeu-(Inês)- Take this waltz - Leonard Cohen
1PoucoMaisdeAzul-(1poucomais)- The Sacrifice - Michael Nyman

Pintura de Dohena

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/29/2004 04:18:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, novembro 28, 2004
Dormência

douer.jpg


Deito-me e adormeço
sem sonhar
Por cima
só a lua e as estrelas,
Sussurrando à minha volta,
o marulhar
Sem angústias,sem esperanças
e sem medos
Só eu, o céu imenso
e o azul do mar.
Digo não
a tudo aquilo que perturbe
este silêncio
que ouço no meu corpo
e a bruma densa
que de mim emerge
e me envolve
como um manto de luar.
Não voo.
Quero o coração a repousar
Envolvo-o numa capa
de cetim bem negro
Encerro-o numa caixa
vermelha acolchoada
Fecho o cadeado
e deito a chave ao mar.
É assim que me quero,
sem sentir
Só eu e o universo
e o que há-de vir.

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/28/2004 06:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
Adenda ao post anterior
Quero esclarecer que se mantém em aberta a porta para que, quem não quiser ser mencionado e contemplado na lista que estou a preparar, se manifestar em contrário. Aqui ou privadamente, por mail. Ficarei ciente, e poderão ficar seguros que respeitarei religiosamente, a vontade expressa.
Entretanto, deixo-vos os votos de um resto de fim de semana muito feliz.

Vic
Escrito por: VdeAlmeida, em 11/28/2004 06:23:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, novembro 26, 2004
Uma Questão

benoudiz.jpg



Como vos tinha prometido, cá estou hoje.Seria o dia marcado para iniciar a surpresa que vos tinha prometido. Sim, que é uma coisa um bocado trabalhosa e vai-se alongar por alguns dias, por isso digo "iniciar"

Eu explico: não imagino sequer a minha vida sem música, o meu dia não é dia sem música. Adoro a pintura e a arquitectura. O cinema é uma parte muito importante da minha vida. Mas a música está acima. Faz-me quase a mesma falta que o ar.E tenho a tendência a associar as músicas de que mais gosto às pessoas que vou conhecendo.
A vocês, vou-vos conhecendo pelo que escrevem. Ao fim de umas visitas, digo assim: "Olha os putos do Batatas Fritas, têm cara de gostar da minha música toda. E a Vaca Louca e o seu Badalo, também! Mas como só os posso dentificar com uma canção, a Vaca Louca leva com o "Into my Arms", do Nick Cave, e o Badalo tem a "cara" do "Death by Chocolate", dos De-Phazz. Tão a ver como funciona?.
Pronto, é assim. Aproxima-se o Natal, e eu gostava de vos oferecer a cada um, uma das "minhas" músicas, mas para põr links para todos vocês é complicado, por isso digo, iria fazendo sair a listagem aos poucos, talvez distribuída por uma semana.E era para começar já hoje.

Porém reflecti e pus a mim próprio uma questão: pode haver quem não goste de se ver assim associado a uma música, não goste que eu o "retrate" com uma música, e eu tenho que respeitar isso, não poderia ser de outra maneira.

Portanto, deixo à vossa consideração até 2ª feira: se alguém se sentir invadido na sua privacidade por esta minha iniciativa, está à vontade por o manifestar. Só mencionarei quem se manifestar positivamente, ou, pura e simplesmente não se manifeste, o que considerarei como um "Quem cala, consente".

Está bem assim? Então eu espero até 2ª feira. E depois, começará a sair a lista pela ordem como consta ali do rol das minhas visitas.

Entretanto, e para que não digam que hoje é poucachinho, ficam aí as minhas zebras, que como vêm são a cores, para se ver bem que o meu mundo não é só a preto e branco.

E já agora, um poema de outro dos meus poetas

Neste espaço a si próprio condenado
Dum momento para o outro pode entrar
Um pássaro que levante o céu
E sustente o olhar
Com a tristeza acender a alegria

Com a miséria atear a felicidade
E no céu inocente da visão
Fazer pulsar um pássaro por vir
Fazer voar um novo coração
(Alexandre O'Neil)



Escrito por: VdeAlmeida, em 11/26/2004 06:29:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, novembro 25, 2004
Ausência

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Os Amigos e Amigas que habitualmente têm a gentileza de me lerem, e aqueles a quem costumo visitar, devem ter já estranhado a minha recente falta de assiduidade, facto não muito habitual em mim. Mas a vida tem destas coisas, há alturas em que outros valores nos chamam e nem sempre está nas nossas mãos podermos corresponder devidamente às gentilezas com que nos cumulam, e é isso que se tem passado comigo nestes últimos tempos.

Mas como não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe, espero, por estes dias, voltar à regularidade habitual, que as saudades já são que bastem. Aproveitei para fazer um "aggiornamento" nos links dos meus favoritos, mas como nas obras há sempre coisas que nos escapam, agradecia que se alguém vir que falta o seu link, me avise que o reporei.

E aproveito para vos dizer, que como compensação para esta minha falta, ando a preparar uma surpresa para todos e cada um de vós, que talvez amanhã dependendo da minha disponibilidade, deixarei aqui.

Por hoje, como "o melhor do mundo são as crianças", deixo-vos a foto de uma.
E como o Natal, que é, ou devia ser, a época de todas as crianças do mundo, se vai aproximando, deixo-vos com um poema de um dos meus poetas do coração

Ladainha dos póstumos natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se seja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós contigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo a Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Natal retome a cor do Infinito
(David Mourão Ferreira)

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/25/2004 07:07:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, novembro 23, 2004
Memórias

kepeslap_1024.jpg

Arranjo sempre qualquer desculpa que me evite a subida ao sotão, espécie de depósito de recordações, umas boas, outras muitas dolorosas e que só em casos extremos me disponho a enfrentar. Alguém se encarregava das arrumações e limpezas anuais. Quando me chegava a vez, arranjava uma desculpa, fraca quase sempre, para me excusar à tarefa.

Desta não tive maneira de me livrar.Com o semblante carregado subi os sete degraus que me seoaram dele. Abri a porta e logo o cheiro abafado, tão característico dos espaços há largo tempo fechados me invadiu as narinas. Na penumbra, pouco conseguia distinguir, pelo que me dirigi à janela e a abri completamente deixando entrar a luz e o ar fresco do entardecer. Corri o olhar. A um canto uma velha arca que abri. Dentro, dois ou três fatos, usados em Carnavais de há muitos anos, mais umas quantas roupas antiquadas. Ao lado um pequeno armário repleto de bugigangas fora de uso, na última gaveta, uma grande quantidade de fotografias, muitas do início do século passado, às quais o tempo esbatera a cor. Muitos dos fotografados, nunca os conhecera sequer. A história de cada um fôra-me contada vezes sem conta, com a minúcia e o respeito que se deve aos antepassados. Outras, foram por mim para lá atiradas na esperança vã de, com esse gesto, conseguir olvidar, ainda que de modo ténue, a fotografada.

Foi quando me virei que o meu olhar ficou preso no vestido. Dependurado cuidadosamente num velho cabide, e acondicionado de modo a que a traça não o atacasse, um casaco de veludo vermelho púrpura, a saia, do mesmo tecido, mas de um negro profundo. A visão mais nítida que tinha dela, era com aquele fato de saia-casaco vestido.

E não era só a sua figura invulgar, de beleza estranha, os longos cabelos de fogo e os olhos transparentes como rio de água clara, ou os lábios vermelhos, que a lingua suavemente atrevida, humedecia em movimentos quase imperceptíveis, uma provocação descuidada e involuntária. Era toda a sua presença. forte, que se impunha sem esforço. Era a alegria, o riso contagiante em forma de mulher jovem.Tinha um anseio, o de um dia vir a brilhar nos palcos. Cantava e declamava divinamente. A poesia bailava-lhe nos lábios e nunca conheci ninguém que a dissesse como ela. As canções tomavam nos seus lábios uma doçura e um calor inusitados. Dançar, só danças de salão, mas com a leveza com que se movimentava, dando a sensação que flutuava, acredito que a qualquer que lhe propusessem, corresponderia de forma superior. Em tudo ajudava a extraordinária elegância, a personalidade cativante.
À sua volta, quando se expandia em movimentos elegantes ou abria a sua voz em poesias e canções, tudo se iluminava, como que se dela se soltasse uma luz intensa, como se as estrelas deleitadas, se baixassem até ela e a iluminassem em preito de humildade face ao supremo da beleza.

Ao seu sonho opôs-se uma família demasiado tradicional, presa a convenções pequeno-burgueses inadequadas e retrógradas.
Mas desistir, dizia, nunca. Rebelde, procurou no casamento o meio de, ao mesmo tempo que se entregava nos braços do seu amor, tentar libertar-se das peias que lhe atalhavam o sonho.

A desilusão veio breve. O elo que a prendeu reduziu-lhe ainda mais a liberdade. Promessas não cumpridas, falsidades, tudo serviu para lhe cercear o que sonhara. Foi-se anulando, murchou na sua juventude, deixou-se ir. No seu lugar só ficou uma saudade nunca mitigada.Foi há tanto tempo. Foi ontem.

Sentei-me no velho cêsto de roupa revendo uma a uma as fotos ao mesmo tempo que passava as costas da mão pelo aveludado do vestido que fora dela. Passado uns minutos que não contei, sacudi a cabeça, espantei pensamentos. Pela janela, via já o céu incendiado pelo sol fugidio, que mergulhava no fio do horizonte. Fechei-a, e depois corri a persiana, deixando a penumbra afogar novamente o meu sótão. De seguida, saí puxando a porta para que não fizesse ruído, como que com receio de acordar tudo o que naquele pequeno espaço voltara a adormecer.
Por muito tempo, espero.

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/23/2004 06:36:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, novembro 22, 2004
Neste Outono...

chall11.jpg


Neste Outono
leve e pintado
de ocre, laranja
e de dourado
Em que o sol
me deixa triste
a meio da tarde
Aguardo a noite
imenso manto
pontilhado
por mil estrelas
que chegue célere
E que com ela
me cheguem
os teus traços
Porque é então
que voluntário
me estilhaço
nos teus braços
Como cristal
frágil, quebradiço
Esgotando em suspiros
e prazer
Esta ânsia que
pelo dia me
consome implacável
E que a tua ausência
aviva
tão intensamente
Que torna
cada escaninho
do meu corpo
fogueira intensa,
incontrolável

Pintura de Challet. Aqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/22/2004 07:42:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, novembro 19, 2004
Querido Diário - XIX
Hoje estou ainda um bocado combalido, e se me enganar e der algum erro de português, ou encontrarem alguma gralha, foi porque se me escorregou a canadiana e eu distraí-me do teclado.
A verdade é que a estadia nas termas não me correu nada como eu imaginava. Começou logo porque a coscuvilheira da tia da Elisa insistiu em ir e lá tive eu que me baldar a mais uma estadia. Mas o pior foi que a velha quis ficar no quarto de casal, e quando eu lhe disse que eu e a Elisa íamos ficar muito apertados na cama de corpo e meio do quarto single, ela ia-lhe dando uma coisinha, e disse que eu nem pensasse em desavergonhices com a Elisa antes da boda (sic) - e aqui faço uma ressalva para dizer que não me refiro ao canal de Tv e sim à expressão latina.
Eu confesso, antes até gostava da senhora, mas agora tornou-se um pesadelo.
Acho que foi depois de um episódio em que ela me perguntou quantos anos lhe dava e eu respondi que não lhe dava nenhum que ela já tinha muitos. A senhora já deve ser do tempo da Monarquia, até porque só uma pessoa que já não é senhora de todas as suas faculdades, mormente a audição, acha a Elisa um poço de talento, mas tem a mania que ainda há-de arranjar marido – acho mesmo que ainda esteve tentada em se bater ao piso aqui ao menino, mas eu cortei-lhe logo as vasas - e depois enche a cara de betume pedra, que eu quando lhe dou um beijinho, agora dou sempre de longe, como as senhoras que aparecem na Caras, porque uma vez fiquei com os beiços cheios de caliça. Faz aquilo para parecer mais nova, mas é pior porque fica parecida com uma múmia. Ah! e usa uns candelabros nas orelhas, tão grandes que acho que são os grandes culpados da senhora já ser um bocado marreca. Bem, mas ela depois desse dia nunca mais foi a mesma para mim.
Ora como eu contava, a ida às Termas não correu mesmo nada bem.

Ah! Mas antes de continuar, quero-vos falar do Andrade que é o merceeiro aqui da zona, porque a Fata falou nos merceeiros da zona dela, que são uns gajos impecáveis, mas não são mais que o Andrade, que ainda é da velha guarda.
Para já, não há nenhuma sopeira (por aqui ainda há algumas) que lá vá e não leve a sua apalpadela, o Andrade diz que gosta sempre de sentir a consistência da fruta, como faz quando a vai comprar ao MARL todas as madrugadas, juntamente com as couves e as alfaces que depois vende aqui ao dobro do preço. Uma vez comentei essa questão dos preços e ele respondeu-me que quem queria comércio tradicional, tinha que pagar o luxo. Claro que tem toda a razão.
Depois, o Andrade também faz uns biscates de electricista e outras coisitas pequenas, e também, e mais importante, ainda tem um daqueles livros de fiados à antiga. Até acho que há lá contas da idade do livro, e olhem que o livro, pelo aspecto, já devia existir quando eu nasci. O que sei é que à conta disso, o Andrade vai-se aproveitando. É assim, há algumas freguesas que lhe vão lá encomendar as coisas, ele toma nota e depois vai-lhes levar tudo a casa, às vezes até bilhas de gás, que ele também distribui. Eu cá não sou de intrigas, mas a algumas freguesas, e por coincidência aquelas que têm o rol de fiados maior, o gajo faz questão, não só de lhes fazer a entrega, como também de lhes arrumar a mercadoria e geralmente demora-se sempre mais de meia hora, que ele diz que é muito arrumadinho.
O pior foi em casa do Benevides. A Clarice, que é a mulher do Benevides, manda apontar no livro, mas para pagar é sempre "amanhã". Ora, eu acho que o Andrade, como fornece géneros, começou a querer cobrar também em géneros. Mas as coisas não correram como ele imaginou.

Quero fazer uma ressalva para vos dizer que isto pode não ser nada verdade, que pode ser só a minha imaginação.

Mas adiante, ele começou a ir entregar as coisas à casa da Clarice, que é mesmo em frente à mercearia. Ora convenhamos que isto não é muito normal, mesmo ela morando no 1º andar e dizer que lhe custa subi-las. Ora o que é certo, é que à 2ª que ele foi lá fazer a entrega, estava ele a meio da "arrumação dos géneros" e apareceu o Benevides, que por sorte (ou azar do Andrade), nesse dia chegou mais cêdo. Não sei o que se terá passado, mas foi um grande reboliço, e o Andrade saíu de lá disparado, atravessou a rua e barricou-se na mercearia porque o Benevides vinha atrás dele com um martelo de bater os bifes. Foi um espectáculo que só visto. Eu estava no café 33, que é na outra esquina, e só ouvi umas coisas soltas:

-Eh! pá! tás enganado, não era nada de mal. A tua mulher disse-me que estava com o algeiroz entupido, e eu estava a preparar-me para lho desentupir, agora que está bom tempo.
-Era, meu sacana? E para fazeres isso estavas com as calças arreadas pelos calcanhares?
-Eh! pá! Lá tás tu desconfiado.É que eu gosto da roupa folgada e ao esforçar-me um bocadito mais, soltou-se-me o cinto e escorregaram as calças.
-Ai, era? E a Clarice com o baby-doll cor de rosa, com dois berloques de cada lado que ela só usa nos dias de festa, era para quê? Para estar mais à vontade para te ajudar a meter o escuvilhão?

Só vos digo que aquilo durou até á noite, e por muitas explicações que desse, o Andrade ficou com os vidros da montra partidos e a Clarice com um olho negro. Mas foi remédio santo, de um dia para o outro, desapareceram os fiados da Clarice, da lista do Andrade.
E aquilo teve outras repercussões, o Andrade, que habitualmente é galhofeiro, andou uns dias mal-disposto. Um dia até foi mal-educado com o Venâncio, o dono do café 33.
Foi assim, ele entrou no café e disse para o Venãncio:

-Oh! Venãncio, não se importa que utilize a sua casa de banho? É que a feijoada que comi ao almoço na tasca do Adérito, não me caíu nada bem e o meu autoclismo está avariado.

O Venâncio gosta sempre de ter o W.C. limpinho, de maneira que, como já sabe como é a freguesia, fecha-o à chave, e guarda-a, só a dando aos fregueses de confiança. E para ele, o Andrade não é de confiança.
De maneira que o olhou desconfiado, mas lá condescendeu e entregou-lhe a chave. Ora o Andrade lá entrou, e poucos segundos depois parecia que havia trovoada. Bem, nem vos conto, aquilo pareciam os efeitos sonoros de um filme-catástrofe americano!
Ora o Venâncio é muito cioso do seu café e defensor do ambiente, e disse:

-Eh! Lá! Temos concerto, oh! Porco?
-Que é que foi? Se calhar aqui querias ópera, não?

Claro que aquilo foi o fim das relações entre os dois comerciantes, que o Venãncio gosta muito de respeito, e nunca ninguém o tinha tratado por tu, antes

Bem, com estas histórias do Andrade, perdi-me e não vos contei a estadia nas Termas. Fica para a próxima, que agora tenho que ir ao Posto de Enfermagem mudar os pensos, e a seguir à consulta de oftalmologia

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/19/2004 07:45:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, novembro 18, 2004
Sem jeito

bliny.jpg


Hoje vinha aqui com vontade
De cá deixar um poema
Mas não tinha sequer ideia
De qual é que seria o tema
Também não fazia questão
Que podia ser qualquer um
Desde que fosse decente
Só queria era que houvesse
Para tal inspiração
Só não o queria tristonho
Porque o dia está bonito
E nem sequer enfadonho
Que era para não vos maçar
Ainda me adormeciam
Em frente ao ecran a olhar
E depois lá vinha o chefe
Descobria-vos a careca
Que em vez de trabalharem
Andavam a navegar
Bem puxei pela cabeça
Esforçando-me para dela tirar
Qualquer coisita pequena
Que pudesse publicar
E pr'aqui fiquei às voltas
Até esta hora tardia
Sem uma ideia de jeito
Sem nada para aproveitar
Eu manipulo as palavras
Procuro articular frases
E nada se alinha a preceito
Mas que diabo de sorte
Não sai nada mesmo fraco
Porra que a inspiração
Está pela hora da morte

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/18/2004 01:10:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, novembro 16, 2004
Verde

m_botan15.jpg

Da janela da casa, águas furtadas empoleiradas numa colina, rés das Águas Livres, espreitava o casario abaixo, mas o olhar fugia-me invariavelmente para a mancha verde em frente, que me parecia tão perto que se julgava poder ultrapassar o espaço separador num pulo.Era um jardim, destino quase infalível das minhas tardes de 4ª feira. Nesses dias seguia pela mão do adulto, e o calcorrear das ruas até ele, era feito num frenesim impaciente, um desejo antecipado do chegar.
A visita era feita sempre com uma paixão renovada, o adulto, amante da botânica, ia debitando o nome das plantas e árvores, breves explicações da suas origens. Mas o meu prazer maior era mesmo o usufruir daquela calma, da frescura aprazível proporcionada pela continuada sombra, especialmente a partir da chegada da primavera, aquele ambiente mágico disfrutado em silêncio, quase religiosamente. Conhecia cada recanto, e quando chegava o cansaço, sentava-me num banco perto de um pequeno regato de águas frescas que rumorejava e saltava sobre as pequenas pedras que lhe atrapalhavam artificialmente o curso.
Olhava acima e a luminosidade diáfana coada pelas copas altas das árvores, enchia-me a vista. A densa folhagem soltava pássaros que pousavam livres na estreita alameda sem medo dos passantes.Depois, uma visita à velha casa localizada nos fundos do espaço, uma espécie de pequena mansão, invadida pela urze, onde um velhote que com o tempo se tornara amigo, ia completando o macabro mas fascinante puzzle que era a reconstituição de esqueletos de animais, quase sempre mamíferos de grande porte, e que se destinavam ao museu de História Natural da Faculdade anexa. De lá saído, a inevitável ida até ao Principe Real, onde debaixo do milenar, formidável cedro-do-Buçaco, sentado, satisfazia a gula com dois pastéis de nata, ainda mornos, acabados de comprar na Cister. No lusco-fusco do fim de tarde, o regresso a casa, acompanhado já pela saudade daquele lugar.
Aquela intimidade com a natureza em plena cidade grande, aquele esfusiante verde, o cheiro misto de aroma de flores com o da terra humida e o pólen que na Primavera se soltava e permanecia em suspensão como a névoa de um sonho, tudo me incitava a voltar sempreA perenidade do hábito colou-se a mim e nas semanas em que era impossivel cumprir o designio a ausência era sofrida, como se o dia tivesse sido amputado de uma parte importante.
A semana seguinte era passada com alguma ansiedade, sempre na esperança de a ter mais curta, para mais breve regressar àquele eden que eu tornara meu, privativo.
Depois, as solicitações da vida de adulto - como desdenho cada vez mais as pressas da gente crescida - foi-me fazendo perder hábitos, bons hábitos, os melhores.
Mas hoje, não sei porquê, lembrei-me do "meu" Jardim Botânico e do "meu" luxuriante cedro-do-Buçaco, mais dos pastés de nata da Cister. E amanhã, num pulo, salto do degrau da minha porta para o estribo de um "amarelo", desço no Largo do Rato e vou-me num pulo até àquele verde inigualável.

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/16/2004 09:59:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
domingo, novembro 14, 2004
Sonho Dourado

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Hoje vejo-te
no dourado do sol
sobre as montanhas
Em composições
bem definidas
de paixões ardentes
As horas curtas
que medeiam sombras
passam longas
Os acordes
que me acordam
os sentidos, indolentes
Mas eu quero
que mos saibas atentos,
bem despertos
Esperando um só ensejo
Para pronto acorrer
para os teus braços
convulsos de desejo.
E em lençóis
de âmbar e jasmim,
explodir contigo
em agonias e espasmos
de prazer
E no fim
Subir ao infinto no teu colo e renascer

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/14/2004 04:12:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sábado, novembro 13, 2004
Recados de fim de semana
Para ouvir
Em casa:

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E também na Aula Magna, hoje, dia 13/11/2004

RUFUS WAINWRIGHT


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Para ver
Em casa:

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Edição de 16 curtas metragens de Laurel & hardy, conhecidos na minha geração por Estica e Bucha. Uma delícia, um olhar divertido e nostálgico a uma ingenuidade muito distante
No cinema:

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Apesar da fraca crítica do Expresso

Para ler

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E sempre, toda a poesia da eterna Sophia:

Mar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.


Escrito por: VdeAlmeida, em 11/13/2004 06:26:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, novembro 11, 2004
És tu

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Indomável
como rio impetuoso
Que corre,rebelde
para nascente
É assim o teu corpo
fresco e leve
Que me toma por inteiro,
fabuloso
És cavalo alvo, selvagem,
indomável
Que se entrega solto
em minha mão
Sussuras que sou eu
dono e senhor
Mas és tu que acendes
os sentidos
E me inundas como lava,
o coração
És tu que nos cavalgas
o destino
Que me prendes os flancos
Entre as pernas
Abrasadas de volúpia
e de paixão
E me fazes entrar
pelo teu corpo
transformado pela noite
num vulcão

Pintura de C. Beaumont. Daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/11/2004 08:56:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, novembro 09, 2004
Querido Diário - XVIII
Hoje venho-vos trazer novidades. E boas. Decidi que vou passar uns dias ás Termas com a Elisa e até já a convidei. Acho que ela só estava mesmo à espera do convite, porque ainda eu não tinha acabado de falar ela já estava a dizer: SIM!!!! E a Dona Ermelinda toda satisfeita, claro. Foi no café 33, e chamei a Elisa de lado para lhe fazer o convite, mas a velha veio logo atrás, parece o emplastro. Bem, a mulher é simpatica, mas excusava de perguntar:
-Então? Já comprou a aliança?
Bolas! começo a ver que não consigo trincar aquilo sem assumir um compromisso mais sério! E se ela me agrada! Aquilo é um monumento! Ainda ontem não tinha subido os 2 degraus do café, e já o Venãncio dizia:
-Aì vêm as Gémeas! - Claro que ele referia-se aos peitos da Elisa, que entram em qualquer lado, sempre bem à frente da dona. Não aprecio estas liberdades brejeiras do Venãncio, mormente quando visam a minha canária!
Ainda a propósito da Elisa, vai ter uma audição no São Carlos. Acho que foi o professor Abílio que meteu uma cunha. Eheheh! Não é por nada, mas eu cá acho que aquilo sõ mesmo com uma grande cunha. Só espero que os tipos tenham aquilo tudo no seguro, porque se a minha avesinha estiver em dia sim, lá se vão uma quantidade de vidros, e os cristais daqueles lustres enormes que eles lá têm dependurados, têm as horas contadas.

Não sei se já vos falei no Adérito. É o dono de uma tasca aqui na rua de cima. É mesmo uma tasca daquelas à antiga, com pipos de vinho, e serradura espalhada pelo chão, mesas compridas e bancos corridos. Só já não vende carvão como antigamente, ainda o dono era o Pombo, quando até tinha um corvo preso por uma correntinha na pata, aos saltos no passeio, e que de vez ferrava o bico nalgum freguês. (Nem queiram saber como ficou a Simões um dia, em que tinha bebido umas cervejas a mais e mal se tinha nas pernas, se lembrou de urinar na rua, junto ao umbral da porta que dava para a carvoaria).
De resto, lá tem no balcão de mármore grosso, os pratinhos com os carapaus de escabeche e com os pastelinhos de bacalhau, para ensopar o tintol que ele serve, que é carrascão como o caraças. Já para não falar do bagaço, que é de fazer ressuscitar um morto. Ou se calhar deve ser mais correcto dizer que é capaz de matar um vivo.

O Adérito tem como alcunha o Mão de Ferro. É que ele, no sítio da mão direita tem um côto em metal, que por sinal já tem partido uns narizes e posto uns olhos negros, que zaragatas é coisa que ali não falta, principalmente quando o tratam pela alcunha. Mas a história da mão do Adérito é curiosa. Ele trabalhava num Circo, era um daqueles gajos que faz de tudo um pouco. Ora uma vez o domador de leões adoeceu na altura do Natal, e ele ofereceu-se para o substituir, que já o tinha ajudado várias vezes. E lá foi. Mas excedeu-se, e em vez de se limitar a fazer os números habituais, quis armar-se em valente e meteu a mão na boca de um dos leões. E diz ele que esteve até á última hesitante em meter a cabeça. Imagino que teria sido uma soirée de Natal muito enriquecedora para as crianças.
A sua infelicidade, contudo, acabou por lhe trazer algumas compensações, porque o dono do circo teve que lhe pagar uma indeminização gorda e foi com ela que ele comprou a tasca ao Pombo, que também era um tipo impecável, mas que se cansou do negócio. É que o Pombo é corcunda, e toda a malta lhe chamava marreco. Ele não gostava muito, mas engolia, porque ali toda a gente tem alcunha, e a dele até quase nem é porque ele é mesmo marreco. Mas ele ficava danado quando a malta lhe dizia:
-Eh! pá! Está-me a apetecer dar uma volta de camelo. Oh! marreco, estás disponível?- Bem, há pessoas com muito pouco poder de encaixe!
E a gota de água para o Pombo, deu-se quando apareceu lá um gajo muito piancho que se encostou ao balcão (se não, caía), à espera que o Pombo o atendesse. Como ouvia toda a gente chamar-lhe marreco, virou-se para o Pombo e disse-lhe:
- Oh! marreco, mete aí um copo de três tinto!
Bem, o Pombo ficou lixado! O gajo não o conhecia de lado nenhum e já lhe estava a chamar marreco?
- Oh! amigo. Eu não me chamo marreco. Sou Pombo, ouviu?
- Pombo? Eheheheh! É a primeira vez que vejo um Pombo com o papo nas costas.
Pronto, foi nesse dia que se decidiu a passar a tasca ao Adérito, que já andava de volta dele há uns tempos.

Pois foi na tasca do Adérito que o Aníbal me abordou no sentido de ser seu sócio financiador num novo projecto empresarial.
O Aníbal continua a engendrar as coisas mais espantosas para não fazer nada. O que ele quer é montar um negócio que dê uma quantidade de trabalho inversamente proporcional ao lucro. Uma vez veio-me com a história de que o Simões lhe tinha proposto sociedade numa máquina de endireitar bananas. Acho que o Simões tinha lido um anúncio àquilo numa revista do Burkina-Fasso. Acho que era tanga.
Agora diz que vai montar uma recauchutagem de preservativos!
Realmente, eu estranhei quando há dias passei pelo prédio dele e lhe olhei para a janela. Tinha a corda da roupa toda cheia de preservativos pendurados como se estivessem a secar. Eram de cores e tamanhos diferentes e até me ia dando uma coisa!
Ora, eu tenho muitas dúvidas sobre este negócio, e estou com muitas dúvidas em meter dinheiro meu naquilo. É que não estou a ver ninguém a usar preservativos em segunda mão, muito menos, recauchutadas.
Depois, nem imagino como seriam as campanhas publicitárias, nem que "grandes nomes", como diz o Aníbal, se envolveriam em tal projecto. Quando dei conta deste meu receio ao Aníbal, disse-me ele:
-Pois há pelo menos uma grande figura do jet-set que tenho a certeza que vai alinhar nos anúncios para a tv! Tenho a certeza
-Sim? Quem?
-A Lili Caneças! Ela conhece bem as virtudes da recauchutagem!

Ainda me estou a recompor do choque! Uma senhora tão fina, a envolver-se numa coisa destas!


Escrito por: VdeAlmeida, em 11/09/2004 05:55:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quinta-feira, novembro 04, 2004
Brilho

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Um dia vou-te
contar
Em versos
de pé quebrado
Desse teu brilho
no olhar
Que me faz
sentir amado
Vou-te contar
das estrelas
Que te iluminam
o rosto
Quando se abre
em sorrisos
Belo como luar
de Agosto
Vou-te dizer
do sereno,
palpitar do coração
Que sinto quando
me agarras,
suavemente na mão
E a guias pelo
teu corpo
Que me ofereces
sem pudor,
E que com paixão
e amor
Eu disfruto
sem pecado
Tudo te quero
contar
Em versos
de pé quebrado

Composição fotográfica do José Marafona

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/04/2004 07:52:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
quarta-feira, novembro 03, 2004
Aos que há 6 meses me visitam

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A todos os que aqui me "espreitam" diariamente, desde que este local nasceu faz hoje precisamente seis meses, eu venho agradecer.
Eu sei, devia deixar-vos talvez um poemita, um texto mais elaborado, mas prefiro deixar-vos estas minhas palavras simples, de reconhecimento pela vossa companhia, pela vossa constãncia, principalmente pelas vossas palavras de incentivo, pela verdadeira amizade que alguns me dedicam.
Amizades, algumas que já vinham de trás, do blog abandonado, ou mesmo de outras andanças, amizades fiéis que eu estimo do coração. Outras granjeadas já aqui, e que são aquilo que de melhor este cantinho me ofereceu.
Sei que alguns de vós me visitam silenciosamente, poucas vezes comentando. Também a esses eu agradeço, pelo apoio, mudo mas efectivo, significativo.

Este, foi um sonho que um dia sonhei. Pensei muita vez desistir, pensei-me sobretudo, sem capacidade para manter este cantinho diariamente. Foram vocês que me ajudaram a manter o meu sonho vivo, e só por vocês ele se mantem.

A todos, por isso, e como acho que merecem muito mais que umas simples palavras minhas, deixo-vos um texto de Jorge Luís Borges. Sobre o sonho...

Sou o único homem na Terra e talvez não haja nem Terra nem homem
Talvez um deus me engane
Talvez um deus me tenha condenado ao tempo, essa longa ilusão.
Sonho a Lua e sonho os meus olhos que a vêem.
Sonhei a noite e a manhã do primeiro dia.
Sonhei Cartago e as legiões que devastaram Cartago.
Sonhei Lucânia.
Sonhei a Colina de Gólgota e os tormentos de Roma.
Sonhei a geometria.
Sonhei o ponto, a linha, o plano e o volume.
Sonhei o amarelo, o vermelho e o azul.
Sonhei os mapa-mundi e os reinos e a morte ao amanhecer.
Sonhei a dor inconcebível.
Sonhei a dúvida e a certeza.
Sonhei o dia de ontem.
Mas talvez não tenha havido ontem, talvez eu não tenha nascido.
Eu sonho, quem sabe, ter sonhado

Eu, o Yardbird, gostaria de acrescentar:

Eu sonho que nunca deixarei de ter capacidade para sonhar

Vic

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/03/2004 08:21:00 da manhã | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, novembro 02, 2004
Escrevo-te bilhetes de amor

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Escrevo-te bilhetes de amor
Nuns falo-te da alegria de estar
Noutros da ausência, da dor
E tanto do nosso desejo
Do fogo intenso da paixão
Que nos consome a razão
Escrevo-te bilhetes de amor
Meto-tos debaixo da porta
Encho-te a caixa de correio
Outros, entrego-te em mão
Escrevo na face e no verso
Sempre nós dois pelo meio
Escrevo-te bilhetes de amor
Uns vão com letra tremida
Tal a tensão em que estou
Outros são escritos à máquina
Para não lhes notares o tremor
Escrevo-te bilhetes de amor
Pena não os poder mandar
Em todas as três dimensões
Perfuma-los-ia com o teu cheiro
Juntar-lhes-ia uma flor

Foto daqui

Escrito por: VdeAlmeida, em 11/02/2004 01:40:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
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