Novos Voos - Take Two

terça-feira, novembro 09, 2004
Querido Diário - XVIII
Hoje venho-vos trazer novidades. E boas. Decidi que vou passar uns dias ás Termas com a Elisa e até já a convidei. Acho que ela só estava mesmo à espera do convite, porque ainda eu não tinha acabado de falar ela já estava a dizer: SIM!!!! E a Dona Ermelinda toda satisfeita, claro. Foi no café 33, e chamei a Elisa de lado para lhe fazer o convite, mas a velha veio logo atrás, parece o emplastro. Bem, a mulher é simpatica, mas excusava de perguntar:
-Então? Já comprou a aliança?
Bolas! começo a ver que não consigo trincar aquilo sem assumir um compromisso mais sério! E se ela me agrada! Aquilo é um monumento! Ainda ontem não tinha subido os 2 degraus do café, e já o Venãncio dizia:
-Aì vêm as Gémeas! - Claro que ele referia-se aos peitos da Elisa, que entram em qualquer lado, sempre bem à frente da dona. Não aprecio estas liberdades brejeiras do Venãncio, mormente quando visam a minha canária!
Ainda a propósito da Elisa, vai ter uma audição no São Carlos. Acho que foi o professor Abílio que meteu uma cunha. Eheheh! Não é por nada, mas eu cá acho que aquilo sõ mesmo com uma grande cunha. Só espero que os tipos tenham aquilo tudo no seguro, porque se a minha avesinha estiver em dia sim, lá se vão uma quantidade de vidros, e os cristais daqueles lustres enormes que eles lá têm dependurados, têm as horas contadas.

Não sei se já vos falei no Adérito. É o dono de uma tasca aqui na rua de cima. É mesmo uma tasca daquelas à antiga, com pipos de vinho, e serradura espalhada pelo chão, mesas compridas e bancos corridos. Só já não vende carvão como antigamente, ainda o dono era o Pombo, quando até tinha um corvo preso por uma correntinha na pata, aos saltos no passeio, e que de vez ferrava o bico nalgum freguês. (Nem queiram saber como ficou a Simões um dia, em que tinha bebido umas cervejas a mais e mal se tinha nas pernas, se lembrou de urinar na rua, junto ao umbral da porta que dava para a carvoaria).
De resto, lá tem no balcão de mármore grosso, os pratinhos com os carapaus de escabeche e com os pastelinhos de bacalhau, para ensopar o tintol que ele serve, que é carrascão como o caraças. Já para não falar do bagaço, que é de fazer ressuscitar um morto. Ou se calhar deve ser mais correcto dizer que é capaz de matar um vivo.

O Adérito tem como alcunha o Mão de Ferro. É que ele, no sítio da mão direita tem um côto em metal, que por sinal já tem partido uns narizes e posto uns olhos negros, que zaragatas é coisa que ali não falta, principalmente quando o tratam pela alcunha. Mas a história da mão do Adérito é curiosa. Ele trabalhava num Circo, era um daqueles gajos que faz de tudo um pouco. Ora uma vez o domador de leões adoeceu na altura do Natal, e ele ofereceu-se para o substituir, que já o tinha ajudado várias vezes. E lá foi. Mas excedeu-se, e em vez de se limitar a fazer os números habituais, quis armar-se em valente e meteu a mão na boca de um dos leões. E diz ele que esteve até á última hesitante em meter a cabeça. Imagino que teria sido uma soirée de Natal muito enriquecedora para as crianças.
A sua infelicidade, contudo, acabou por lhe trazer algumas compensações, porque o dono do circo teve que lhe pagar uma indeminização gorda e foi com ela que ele comprou a tasca ao Pombo, que também era um tipo impecável, mas que se cansou do negócio. É que o Pombo é corcunda, e toda a malta lhe chamava marreco. Ele não gostava muito, mas engolia, porque ali toda a gente tem alcunha, e a dele até quase nem é porque ele é mesmo marreco. Mas ele ficava danado quando a malta lhe dizia:
-Eh! pá! Está-me a apetecer dar uma volta de camelo. Oh! marreco, estás disponível?- Bem, há pessoas com muito pouco poder de encaixe!
E a gota de água para o Pombo, deu-se quando apareceu lá um gajo muito piancho que se encostou ao balcão (se não, caía), à espera que o Pombo o atendesse. Como ouvia toda a gente chamar-lhe marreco, virou-se para o Pombo e disse-lhe:
- Oh! marreco, mete aí um copo de três tinto!
Bem, o Pombo ficou lixado! O gajo não o conhecia de lado nenhum e já lhe estava a chamar marreco?
- Oh! amigo. Eu não me chamo marreco. Sou Pombo, ouviu?
- Pombo? Eheheheh! É a primeira vez que vejo um Pombo com o papo nas costas.
Pronto, foi nesse dia que se decidiu a passar a tasca ao Adérito, que já andava de volta dele há uns tempos.

Pois foi na tasca do Adérito que o Aníbal me abordou no sentido de ser seu sócio financiador num novo projecto empresarial.
O Aníbal continua a engendrar as coisas mais espantosas para não fazer nada. O que ele quer é montar um negócio que dê uma quantidade de trabalho inversamente proporcional ao lucro. Uma vez veio-me com a história de que o Simões lhe tinha proposto sociedade numa máquina de endireitar bananas. Acho que o Simões tinha lido um anúncio àquilo numa revista do Burkina-Fasso. Acho que era tanga.
Agora diz que vai montar uma recauchutagem de preservativos!
Realmente, eu estranhei quando há dias passei pelo prédio dele e lhe olhei para a janela. Tinha a corda da roupa toda cheia de preservativos pendurados como se estivessem a secar. Eram de cores e tamanhos diferentes e até me ia dando uma coisa!
Ora, eu tenho muitas dúvidas sobre este negócio, e estou com muitas dúvidas em meter dinheiro meu naquilo. É que não estou a ver ninguém a usar preservativos em segunda mão, muito menos, recauchutadas.
Depois, nem imagino como seriam as campanhas publicitárias, nem que "grandes nomes", como diz o Aníbal, se envolveriam em tal projecto. Quando dei conta deste meu receio ao Aníbal, disse-me ele:
-Pois há pelo menos uma grande figura do jet-set que tenho a certeza que vai alinhar nos anúncios para a tv! Tenho a certeza
-Sim? Quem?
-A Lili Caneças! Ela conhece bem as virtudes da recauchutagem!

Ainda me estou a recompor do choque! Uma senhora tão fina, a envolver-se numa coisa destas!


Escrito por: VdeAlmeida, em 11/09/2004 05:55:00 da tarde | Permalink | |


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