Que fazer então com as palavras
Que me percorrem o corpo à desfilada
Que fluem pelas artérias, indomáveis
Tomando delas conta, absolutas
Infiltrando-se em recantos insondáveis
E me saltam dos dedos, em golfadas
Que se soltam cá de dentro como vagas
Intensas, fogosas, incontroladas?
Que pena não poder amordaçá-las
Guardá-las numa caixa bem fechada,
Como tanta vez faço aos sentimentos
Que reprimo mesmo que me mate a alma
Insensivelmente surdo ao coração
Que explode e se estilhaça em mil fragmentos
(deixá-lo estilhaçar que não é meu,
já quase não lhe dou pelos lamentos
E nem conta mais para a minha história)
Ou varrê-las com um golpe vigoroso
Para um interstício esquecido da memória.
from Egypt