O corpo da mulher, suprema obra da Criação, tem sido cantado e louvado por poetas, por todos os poetas, diria eu, porque será sempre o mote e o mais inspirador mistério da alma masculina.
Dou só o exemplo de Affonso de Sant’Anna que escreveu:
Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.
Ou, realçando o mistério, mesmo que muito conciso:
O mistério começa do joelho para cima.
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina.
Para que não fiquem só as palavras do poeta, ficam também algumas minhas
O teu corpo,
Quase íman do meu
Perfeição de deusa
Isso vejo eu
Basta olhá-lo, e quase invejá-lo
Para o querer nos braços
Senti-lo só meu.
Teu corpo perfeito
Vejo-o à contraluz,
De pé à janela
Ou ao meu lado no leito
Langoroso, deitado
E sinto-o na pele
Febril, transpirado
E é sempre assim
Uma tentação
Um desejo imenso
Que se apossa de mim
Por isso eu sonho
Com intensidade
Que a nossa noite
Não tenha mais fim
(fotos de Joris Van Daele)