Ando extremamente preocupado.
E não é caso para menos: sonhei que tinha voltado a trabalhar. A bem dizer, foi mais um pesadelo.
Claro que se pode sempre dizer que não passa disso mesmo, de um pesadelo. Mas para mim funciona quase sempre como aviso de qualquer coisa pouco agradável. Por exemplo, aqui há uns anos sonhei que o Benfica ia começar novamente a ganhar. Corolário (esta palavra é extremamente curiosa e de uma musicalidade invulgar, e dada a extrema criatividade de que os nossos amigos brasileiros dão prova quando escolhem nome para os filhos, só me posso admirar por nunca se terem lembrado de a utilizar para o efeito): poucos dias depois o Fernando Santos foi escolhido para treinador do Sporting. Isto é, é verdade que o Benfica continuou sem ganhar, mas o Sporting também deixou de o fazer, após ter ganho 2 campeonatos em 3 anos.
E poderia ir por aí fora a dar exemplos. Como daquela vez em que sonhei que voltava a ter aulas de português com o professor Lopes no liceu, e que ele, enchendo-me de perdigotos, me ordenava que recitasse em voz alta, declinações em latim. Como é óbvio, o tempo não voltou para trás, mas no Natal, a minha tia Alice, que anda sempre vestida de cor-de-rosa e usa uns penduricalhos nas orelhas e betume-pedra na cara – parece a reencarnação da Barbara Cartland, mas com mais rugas – me ofereceu uma colecção de livros de Max du Veuzit, acrescentando que se tratava de uma raridade que tinha herdado da tia Clotilde, e acrescentou que eu tinha que os ler. E a tia Alice, quando os sobrinhos não lhe satisfazem os caprichos, acena com o testamento. Portanto, durante 3 meses, cada vez que ia a casa dela levava um Veuzit debaixo do braço. O último foi o John, Chauffer Russo.
Portanto, e como o pesadelo foi mesmo de peso e muito abrangente, tudo indica que qualquer coisa inesperada e pouco desejada, está para aí a chegar, e como a porrada pode vir de qualquer lado, já comecei a conjecturar:
- O Cruz descobre que fui eu quem lhe enviou o pacote postal com o remédio para os gases.
- Este ano, o festival do Sudoeste, coincide com as minhas férias no local.
- O José Veiga vai-se embora do Benfica.
- No meu próximo jantar nas Docas, o Alberto João Jardim fica numa mesa ao lado da minha.
- A Elisa não me vai pagar o dinheiro que me pediu emprestado para fazer a badanoplastia (não sei se é assim que se chama, mas como acaba em plastia e se destina a tirar as badanas, suponho que sim).
- Vai ficar uma tipa com um penteado ripado, género Pita d’ Alarcão e Cunha, à minha frente quando eu for ver o Código da Vinci.
- O José Cid vai ser convidado para vir cantar nos Santos Populares, aqui na Madragoa.
E pronto, isto já parece aquele filme, “Uma série de desgraças”, e se bem que possa não ser assim tão mau, eu prefiro esperar sempre o pior.
Foto: Rodney Smith
NOTA: Dado que tive um precalço com o template, tive que voltar ao anterior, pelo menos para não estranharem muito o aspecto, enquanto tento recuperar o novo.
Eu volto logo
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