Novos Voos - Take Two

sexta-feira, dezembro 30, 2005
Gozem o silêncio...uma tarde no Parque
Parque2005 005

Neste nosso Inverno tão atípico, que mais parece uma primavera antecipada, é bom aproveitar o sol radioso que por vezes se faz sentir, e partir à procura dos recantos, que de...
Parque2005 007

…tantas vezes percorridos, quase esquecemos que existem, verdadeiros oasis, exuberantes de verdes…
Parque2005 008

…de recantos refrescantes. Foi assim que uma destas tardes passei pelo Parque, local tão aprazível e ao mesmo tempo tão mal afamado, por uns quantos que fazem dele local de encontros clandestinos.
Parque2005 009

Mas o jardim continua um local que nos convida a apreciar e comungar com a Natureza. E este sol, faz-nos sentir saudades antecipadas do Verão
Parque2005 013

O Verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras
(José Tolentino de Mendonça)

Parque2005 015

A Estufa Fria, como o Jardim Botânico, deveriam constar como paragens obrigatórias em todos os guias turísticos. È quase a floresta tropical no meio da selva de cimento, e onde podemos gozar de um silêncio quase absoluto...
Parque2005 018

... só quebrado pelo trinado de um ou outro pássaro que consegue franquear as pequenas portas, ou pelo cristalino sussurro da água que corre das pequenas bicas que pontuam o local.
Portanto...
Depeche Mode - Violator


Depeche Mode – Enjoy the Silence
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/30/2005 04:05:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
quarta-feira, dezembro 28, 2005
E lá se casou o Elton John, ou o ano em revista
Hoje decidi fazer uma espécie de balanço (pequeno, para não cair), do ano que passou, tanto a nível nacional ou mundial, como no plano particular, e que começou muito mal, quando nos foi dada a verdadeira dimensão da tragédia causada pelo tsunami
Desde logo, há a assinalar que, tendo morrido um Papa que marcou um quarto de século, logo foi substituído por outro praticamente da mesma idade, talvez garantir uma renovação na continuidade. Aliás, parece que é moda, uma vez que a renovação dos políticos que por cá se reclama há muito, é notória na campanha para PR, em que dos 5 candidatos que fizeram a pré-campanha, um é um ancião declarado, e outros dois estão a franquear a porta, e são precisamente estes 3, os que têm possibilidades de ganhar. O que nos garante desde já, que o nosso futuro PR deverá ser um homem cheio energia.
Voltando ao “novo” Papa, este mostrou bem como quer que a sua igreja evolua, e decretou que seria vedada a possibilidade de ser padre, aos homossexuais. Só não entendi o alcance da medida, porque supunha que os sacerdotes deveriam ser castos, o que desde logo tornaria qualquer opção sexual supérflua.
E uma vez que falei em mortes e em política, este foi o ano em que a carreira política de Santana Lopes e Paulo Portas entrou em estado de coma. E a do António Maria Carrilho não andará longe.
E como não há duas sem três, faleceu o Papa dos comunistas portugueses, Álvaro Cunhal, que no seu funeral, apesar dos muitos inimigos e detractores, conseguiu uma das maiores manifestações públicas de sempre, nas ruas de Lisboa.
Ainda sobre Cunhal. O Pacheco Pereira manifestou aqui há tempos a sua estranheza pelo motivo do selo que os CTT decidiram emitir em sua homenagem ser, como ele diz, “Cunhal e as Criancinhas”, adiantando mesmo que se trataria de “um típico mecanismo de propaganda”, e que “Cunhal nunca mostrou uma especial benevolência paterno-infantil, nem as relações com as crianças foram nele mais do que rígidas e forçadas”. Ora JPP, que eu considero e tenho como atento, nem reparou na beleza plástica da composição, uma vez que o Bloco filatélico em que o selo se insere, inclui uma bela pintura do político/escritor/artista plástico.

cunhal bloco2

Mas principalmente e quanto às criancinhas, JPP conhece bem aquela fama dos comunistas que vem de longe. Quem sabe se a fotografia não lhe terá sido tirada quando se preparava para tomar o seu pequeno-almoço, e afinal, mais que uma jogada propagandística, não se trata de confirmar que o que se dizia nos tempos da velha senhora afinal sempre era verdade?
De trágica dimensão, o quase varrimento do mapa pelo Katrina de uma das cidades mais musicais do mundo, New Orleans, berço de muitos jazzes e blues. Uma perda. Reparável?
Outros assuntos:
-A ameaça da gripe das aves tornou-se latente, e o nosso jet-set anda apavorado e teme pelas suas galinhas. Se a gripe cá chega, ver-se-á dizimado e sem as figuras que fazem as páginas das revistas cor-de-rosa.
- Em contrapartida, foi ponderada a possibilidade de José Castelo-Branco concorrer à presidenciais, e apesar da extensa lista de assinaturas na petição que lhe exigia o sacrifício, José preferiu permanecer ao lado da sua lady na altura em que ela mais dele precisava, uma vez que se perfilou no horizonte a possibilidade de, com o dinheiro sacrificadamente ganho na TVI, lhe conseguir reanimar o cérebro que permanece em estado vegetal há uns anos, conforme relata a informada Imprensa brasileira.
-O Benfica conseguiu ser campeão ao fim de onze anos. E espero sinceramente que os meus amigos e amigas benfiquistas voltem a ter motivos para festejar daqui a outros 11 anos. Do fundo do coração. A propósito, morreu também o Best, um homem que lhes deu alguns desgostos.
Casou-se o Elton John.
Nada que me espantasse, já tinha idade, até demais, mas não sei porquê, sempre me convenci que acabaria por casar com o Bernie Taupin. Pelos vistos, o Bernie já o conhecia demasiado bem.
O Elton estava tão anafado, que parecia mais a madrinha que a noiva.
Como uma noiva assim, o noivo tinha pouca razão para estar “gay”.
Pela mesma altura, no estado de Vermont, EUA, era declarado o primeiro divórcio de um casal homossexual, no caso, duas mulheres. Aqui ao menos, não há lugar ao lamento pelas crianças que sofrem pela separação dos pais.
********
- Por aqui, o facto de maior relevância foi o da Etelvina, a mulher do Edgar, ter querido fazer uma recauchutagem com a herança que a tia Zulmira lhe deixou. Mas como o dinheiro não era muito, foi a um médico fatela e os botoxes descaíram-lhe, e agora anda com uns papos enormes nos olhos. Eu bem lhe disse que deveria ter preferido a técnica do parafuso.

Nota: - Fico à espera que me assinalem outros factos relevantes do ano, que eu no próximo, conto mais alguns factos que fizeram o ano aqui na vizinhança


Banda Sonora:
James Taylor


James Taylor - Fire and Rain
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/28/2005 01:10:00 da tarde | Permalink | | ( 5)Comentários
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Um tempo de nostalgia
Janela


Nestes dias de Natal, não só no dia 25, mas na época por que o cheiro se estende – não é verdade que acima de todas as épocas, o Natal tem cheiro? – sentimos mais a ausência que a presença.
A presença dos que amamos, contamos com ela como certa. A ausência dos amámos e nos deixaram, nunca se consegue suprir, fica connosco uma dor fina e cortante como o frio que agora se faz sentir.
Restam-nos os retratos, alguns já com a cor esbatida, outras, mesmo a sépia, de tão antigas. Por vezes passamos os olhos por eles, mas evitamos fazê-lo muitas vezes, para que não se avive a saudade.
Mas quando temos coragem, é como se espreitássemos por uma janela para o nosso passado e eles riem connosco, conversam, por vezes aquelas conversas das quais ao fim de 5 minutos não nos lembramos, mas que recordamos passados muitos anos. Ou quedam resguardados no silêncio da contemplação, no afago dos olhares. Chegam-nos os cheiros antigos, os furtivos esticares de braço na tentação de chegar ao doce fumegante que uma delas pôs à janela a arrefecer, os sabores, do café com leite fumegante, ou dos coscorões e do arroz doce com canela.
Sobram os lugares à mesa. Que nunca são preenchidos e que naquela noite, sentimos mais vazios. E há o frio que se acentua pela casa. Que nunca aquece do modo caloroso que aquecia dantes. Por mais que se aticem as achas da lareira.
Banda Sonora:

Depeche Mode - Violator


Depeche Mode - Personal Jesus

Foto de Hervé Sentucq

Escrito por: VdeAlmeida, em 12/26/2005 11:17:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Um agradecimento com o destaque que se impõe
Azevinho


Impunha-se que, dada a manifesta falta de tempo para agradecer a todos os que me deixaram mensagens de carinho e apoio, no post anterior, e ainda menos para vos visitar a todos como mereciam, deixar aqui, destacada, uma palavra de gratidão que vem do fundo do coração, e dizer-vos que neste Natal vos tenho a todos/as comigo.
Digo-vos também que, decidi que a partir de agora a linha do blog irá ser ligeiramente alterada. Continuará a ter umas prosas e uns versitos, dependendo da inspiração (portanto, não esperem muito) mas quer acrescentar mais alguma coisa. Umas vezes uns reparos sobre o quotidiano, outras, umas fotos (pretendo tornar mais assídua a presença das fotos que vou tirando, bem como divulgar fotos de amantes da fotografia, especialmente se pertencerem à nossa comunidade bloguista).
Assim tenha o tempo que agora me tem faltado.
O meu reafirmar dos votos de que todos vocês tenham um Natal cheio de felicidade.

Em fundo, a minha canção de Natal preferida

tom_waits


Christmas Card from a Hooker in Minneapolis

Escrito por: VdeAlmeida, em 12/23/2005 08:44:00 da tarde | Permalink | | ( 5)Comentários
quarta-feira, dezembro 21, 2005
Poesia
criança 2 Peter Skjold Petersen

Por vezes, tento a poesia
busco primeiro a temática,
e depois a precaução
para conseguir encaixar bem
na estreita morfologia
das palavras, o que sinto,
respeitando sempre a gramática
da língua que é minha mãe.
Cuido da articulação,
da semântica e da sintaxe
e por vezes, socorro-me mesmo
das leis da geometria
Teço versos, urdo rimas
até uso a matemática
Mas nunca irei conseguir
pôr alguma vez em palavras
toda aquela poesia
do olhar feliz da criança,
que ao passar por mim,
sorria


Para os meus queridos amigos e amigas que durante todo o ano me dispensam um bocadinho do seu tempo, deixo aqui os meus votos de um Natal imensamente feliz, cheio de sorrisos e carinhos, com os vossos queridos, e que o ano de 2006 vos traga tudo o que mais desejam, especialmente saúde e amor.
Um voto especial, para que o mundo encontre a paz que todos desejamos

Arranjo sobre foto de Peter Skjold Petersen
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/21/2005 08:32:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Sossego
Tríptico Vlad gansovski

Puxam-me, uns dedos esguios,
em movimento ansioso,
os quadris
E naqueles movimentos febris
é como se descobrisse
um outro mundo,
sem desvios,
e me revelasse aquele elevado
estado de alma
despudoradamente virtuoso
(porque é virtude não resistir
à chama dos sentidos e sucumbir
na pira da paixão
sem sombra sequer de hesitação)
antes de me soltar do corpo e adormecer
naquela sossego,
naquela estranha calma


Foto de Vlad Gansovski
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/19/2005 04:00:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
sexta-feira, dezembro 16, 2005
Coisas minhas - II
Gostos

Está a fazer um mês que aqui deixei uma lista de coisas que detesto. Ponderei, e pensei que devia actualizar a lista, mas depois vinha aí alguém a dizer que eu não gosto de nada e sou muito esquisito, como aquela senhora gorda dos Tupperware que veio cá fazer uma reunião, só porque não lhe comprei nada. E ainda foi dizer para o talho que eu tinha o penico atrás da porta. Ignorante, que nem consegue distinguir um penico de um vaso Ming.
Pois bem, decidi alterar a coisa, e deixar aqui algumas coisas de que gosto:
- da poesia do Neruda e da Sophia
- de Mon-Chéries
- de escrever com canetas de tinta permanente (especialmente com a minha MontBlanc)
- dos Beatles
- dos filmes do Estica & Bucha
- de Paris
- de sapatos ingleses
- do Blake&Mortimer
- de tomar banho de água quente
- de Cacela Velha
- dos miradouros e jardins de Lisboa
- dos Monthy Python
- de violetas e amores-perfeitos
- do Asterix
- dos Doors
- de almoçar aos sábados no El Corte Inglês
- de Duvel
- dos filmes do Luc Besson
- da Place du Tetre
- de ir para o Algarve
- dos olhos da Lee Remick
- de viajar de carro
- de ruivas como a Heather Christensen
- do Cinema Paraíso e de Tornatore
- de fotografia
- do Stanley Kubrick
- de dias de sol
- do Spirou
- de Van Gogh e Renoir
- do Seinfeld
- de esplanadas
- da boca da Sophie Marceau
- do sudoeste de França
- de blues, especialmente John Lee Hooker e Buddy Guy
- do wonder-bra size C+
- do Nanni Moretti
- de arquitectura
- da escrita do Luís Sepúlveda
- do Jeff Buckley e do Damien Rice
- de Rita Hayworth e da Marilyn Monroe
- de leitão assado à moda da Bairrada
- do Jean Reno e do Steve McQueen
- de carros confortáveis e com boa música
- dos filmes do 007 e da série Indiana Jones
- da Mónica Bellucci
- de lençóis frescos
- de não ter nada para fazer
- dos filmes do Hitchcock
- de campos de lavanda
- de Frank Zappa
- do cheiro a lavado
- do riso feliz das crianças (e em especial das minhas)
- de ir de propósito visitar quem eu gosto noutras cidades
- dos Meus (Família e Amigos)

- Continuo sem gostar de favas

Bem, podia acrescentar muitas mais coisas, mas deixo em aberto para as vossas propostas. É só darem palpites. Depois, digo qual é o prémio se acertarem.
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/16/2005 01:42:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Maternidade
Maternidade4

Olha atentamente as mães de todo o mundo
No gesto para o filho e no olhar
descobrirás o amor maior e mais profundo
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/15/2005 08:21:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Homens - Os Sex-Symbols de cada época
Hoje, decide-me por deixar aqui um “mimo” para as minhas visitantes, uma galeria dos sex-symbols através dos tempos...

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.... até à actualidade.......



Nota: - Daqui a pouco ainda volto!

Escrito por: VdeAlmeida, em 12/14/2005 01:18:00 da tarde | Permalink | | ( 3)Comentários
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Corpos
Pernas Tony Bowran

De enlaces e de traços
de transpasses
e de abraços
de osmose
de pernas e braços
De pele húmida e
quente
sedosa e reluzente,
de ensejo,
do desejo
que opulento transborda
na noite
que em cetim se forma
De dois corpos
sem fronteiras
da desinquieta mão
que vai procurando
caminhos
Assim se sucumbe
à paixão
febril, sedenta
despida
e aqueles que a ela se entregam
encontram aí a razão
suficiente
para a vida
Como nós,
aqui caídos
esgotados, pelo chão


foto de: Tony Bowran

Nota de rodapé: este blog está à votação aqui (não sei bem qual a finalidade, mas pronto). Sintam-se á vontade para lá irem (ou não)
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/12/2005 04:14:00 da tarde | Permalink | | ( 4)Comentários
sábado, dezembro 10, 2005
Indecisão
Indecisão

Escrevia Clarice Lispector : “Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.”
E como”explica” Neruda:
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
.
[...]
Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
[...]
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

E até há canções pop – como esta dos Love Affair – que cantam o amor para sempre.


Há porém quem se interrogue sobre as virtudes do amor, procurando precaver-se contra os danos que ele pode causar, fechando portas e janelas, como se acautelasse a entrada de um ladrão. Ou de um veneno. Ignorando o que Clarice diz: Não mata!
Aplicam formas de viver alheias a ele. Mas vivem? Ou sobrevivem?
Ponderando, não será possível sossegarmos em cima do muro, sem termos que decidir para que lado saltar?
Ou essa será sempre uma situação provisória?
Ou, o melhor é mesmo decidirmo-nos, e como diz O’Neil:

O amor é amor . e depois?
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?

Foto de Brian Doben
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/10/2005 05:22:00 da tarde | Permalink | | ( 1)Comentários
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Revisitando as Amoreiras

Desço as escadas vagarosamente e sento-me na esplanada, gozando este sol de Inverno que nos afaga a alma e a pele. Conforme me invade o corpo o conforto quente do café, de que saboreio sabor e cheiro, desvio os olhos e lá ao fundo o Tejo que se deita imperturbável, parece dourado. O rio, a meus olhos, é sempre tranquilo mesmo quando o envolve aquela bruma densa, que é prenúncio de tempestade e o torna de um cinzento quase chumbo e de uma densidade oleosa.
Estes extemporâneos raios de sol são um convite ao passeio e hoje, aqui sentado nestas mesas que me são tão familiares, decido-me a voltar a sítios onde há muito tempo não me deixava perder, e que também eles conheci como as minhas mãos, tantas vezes os percorri
Desço a avenida espaçosa, passo ao largo do velho Jardim Cinema, e mal afloro ao Rato, desvio-me para a esquerda, subindo a rua que vai dar ao que foi o primeiro dos grandes Centros Comerciais, mas paro a meio.
Aqui, neste jardim de cores brilhantes e muitos dourados, corri na juventude, sonhei na adolescência, e medito agora, quando a vida corre lenta, sem muitos sobressaltos.

Amoreiras1

Medito sobre os meus devaneios românticos de quando a idade era mais leve e a inconsciência parecia tudo desculpar. E deixo-me perder no meio destas árvores que me viram tantas vezes e que cá permanecerão quando eu não passar mais.
Não me enredo em nostalgias deprimentes, mas gosto de percorrer caminhos que já foram meus. Sento-me num banco e parece que me vejo, ainda de calções, a jogar ao lenço ou em plenários de “capitães da areia” (talvez no nosso caso, de betão fosse mais apropriado), que umas vezes terminavam em risos outras em discussão acesa a ameaçar transformar-se em rixa.
Amoreiras

Por estes caminhos desenharam-se namoricos, urdiram-se estratégias para aliviar os caixotes de fruta que o sr. Eduardo, o merceeiro da zona punha fora da porta para a chamar a clientela. Depois eram as corridas, e o homem nunca se zangava connosco, afinal o filho também fazia por vezes parte da trupe, mas mandava um dos seus marçanos, os rapazinhos que ele ia buscar à província para trabalharem na loja, e que até lá dormiam, nos fundos dos armazéns, deitados numa enxerga sebenta.
Por detrás das altas arcadas do Aqueduto, o eléctrico que subia a rua quase sempre com um de nós na “pendura”, e o “pica-bilhetes” danado por nos dar com o alicate nos dedos.
Amoreiras3

É uma das zonas da cidade que melhor conheço embora esteja muito diferente (dois pátios, há uns anos apertadas casas de gente humilde, na maior parte operários, é agora um condomínio de luxo). Conhecia as padarias pelo cheiro do pão, sabia onde havia de comprar a melhor manteiga a quilo e o café com mistura de chicória. e a que horas a Dione tinha pastéis de nata acabados de fazer.
Deixo o jardim para trás, com as saudades a fazerem estragos. Perdi-me tanto em pensamentos que ainda não foi desta que visitei o Museu da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/09/2005 08:37:00 da tarde | Permalink | | ( 4)Comentários
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Penumbra
Como fio de navalha
o olhar quente,
envolto em desejo,
e avidamente
procurando no escuro
a tepidez suave
de um corpo palpitante
que sucumba
ao estreitar de enlaces,
na penumbra
Depois, da boca rubra,
o suspiro ardente
do peito, paixão incontida,
incontrolável
húmidos os lençóis,
deste suor
que deixa a pele tremente,
ardente a carne.
e o torpor que nos invade
num repente.

É o sol que já sobe no horizonte
e o nosso amor selvagem que anda a monte
(Yardbird)

Nora 2Nora 1


Edd’Ora Addio… - Mia Soave!...
(Aos meus Amigos d’Orpheu)
- Mia Soave…-Ave!!...-Almeia?!...
- Mariposa Azul!...Transe!...
Que d’Alado Lidar, Canse…
- Porta em Paz…- Transpasse Ideia!...

- Do Ocaso pela Epopeia...
Dorto...Stringe...O Corpo Elance...
Vai À Campa... – Il C’or descanse...
- Mia Soave... – Ave!... – Almeia!...

- Não dói Por Ti Meu Peito...
- Vão Choro no Orar Cicio...
- Em Profano... – Edd’ora...Eleito!...

- Balsame – a Campa – o Rocio
Que Cai sobre o Último Leito!...
- Mi’Soave!... Edd’ora Addio!...
Ângelo de Lima


Pintura de Nora
Escrito por: VdeAlmeida, em 12/05/2005 12:01:00 da manhã | Permalink | | ( 4)Comentários
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