Nestes dias de Natal, não só no dia 25, mas na época por que o cheiro se estende – não é verdade que acima de todas as épocas, o Natal tem cheiro? – sentimos mais a ausência que a presença.
A presença dos que amamos, contamos com ela como certa. A ausência dos amámos e nos deixaram, nunca se consegue suprir, fica connosco uma dor fina e cortante como o frio que agora se faz sentir.
Restam-nos os retratos, alguns já com a cor esbatida, outras, mesmo a sépia, de tão antigas. Por vezes passamos os olhos por eles, mas evitamos fazê-lo muitas vezes, para que não se avive a saudade.
Mas quando temos coragem, é como se espreitássemos por uma janela para o nosso passado e eles riem connosco, conversam, por vezes aquelas conversas das quais ao fim de 5 minutos não nos lembramos, mas que recordamos passados muitos anos. Ou quedam resguardados no silêncio da contemplação, no afago dos olhares. Chegam-nos os cheiros antigos, os furtivos esticares de braço na tentação de chegar ao doce fumegante que uma delas pôs à janela a arrefecer, os sabores, do café com leite fumegante, ou dos coscorões e do arroz doce com canela.
Sobram os lugares à mesa. Que nunca são preenchidos e que naquela noite, sentimos mais vazios. E há o frio que se acentua pela casa. Que nunca aquece do modo caloroso que aquecia dantes. Por mais que se aticem as achas da lareira.
Banda Sonora:
Foto de Hervé Sentucq