Escrevia Clarice Lispector : “Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.”
E como”explica” Neruda:
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo..
[...]
Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
[...]
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.
E até há canções pop – como esta dos Love Affair – que cantam o amor para sempre.
Há porém quem se interrogue sobre as virtudes do amor, procurando precaver-se contra os danos que ele pode causar, fechando portas e janelas, como se acautelasse a entrada de um ladrão. Ou de um veneno. Ignorando o que Clarice diz: Não mata!
Aplicam formas de viver alheias a ele. Mas vivem? Ou sobrevivem?
Ponderando, não será possível sossegarmos em cima do muro, sem termos que decidir para que lado saltar?
Ou essa será sempre uma situação provisória?
Ou, o melhor é mesmo decidirmo-nos, e como diz O’Neil:
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?
Foto de Brian Doben