Novos Voos - Take Two

terça-feira, junho 21, 2005
Mais uma página de Diário

A Elisa está outra vez em maus lençóis. Agora está em litígio com a Câmara. Aqui há dias, meteu a cabeça fora da janela, e toca de desatar a cantar a ária final da Madame Buterfly. Logo às primeiras notas, estalou o globo e a lâmpada do candeeiro público que fica mesmo debaixo da janela dela. A seguir, aconteceu o mesmo aos dois que ficam mais afastados e este bocado da rua ficou todo às escuras. Não sei quem foi, mas alguém a denunciou na CML porque já lhe apareceram lá em casa os fiscais a exigir-lhe o dinheiro dos globos e das lâmpadas.
Está visto que vivo numa rua de bufos e invejosos.
Mas para compensar algumas coisas menos positivas, já recebi o subsídio e de férias, e já deu para comprar uns binóculos ultra-sofisticados, que os meus eram um bocado foleiros, e à noite nem conseguia ver o Tejo. Com estes, que são usados pelo exército americano, vejo tudo e mais alguma coisa. Até através das paredes! Assim, mesmo que construam aqui uma torre à minha frente, vou poder sempre ver o rio, embora por vezes me distraia a ver os rituais de acasalamento dos meus vizinhos, especialmente da Otília e do Vidal (a propósito, já há muito tempo que ele não vai parar ao hospital. Acho que nunca mais voltou a atirar-se de cima do guarda-fato)
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Este súbito calor, que tardou mas chegou em força, é que está a ter algumas consequências estranhas aqui pelo pessoal conhecido. Foi, como já contei, a Clementina que se pirou com o tipo das máquinas de limpar a vapor, deixando o Arnaldo desesperado, e agora foi o Venâncio que trespassou o café 33, porque uma rapariga ucraniana, a Latvia Seminova, que ele tinha arranjado para o ajudar no café o convenceu que ainda haviam de ser muito felizes os dois apesar de ela só ter 22 anos e ele mais de 70. Mas pronto, agora namoram e ele disse que iam os dois montar “una bodega de tapas e raciones” com a massa do trespasse e algum que ele tinha no banco, em Benidorm . Eu sei que a rapariga é trabalhadora, porque saía sempre do café à pressa porque ainda tinha que ir trabalhar não sei para onde à noite, mas está-me a cheirar a esturro aquela história, e não o vejo com pedalada para a ucraniana, de que exponho a respectiva foto, para apreciação.
E o pior é que trespassou o café a um indiano chamado Mohandas que não podia começar pior, primeiro porque acabou com a lista de fiados e tá-se mesmo a ver que vai perder mais de metade da freguesia, segundo porque correu o Albano à vassourada só porque o rapaz lhe disse:
-Dá aí uma mine, oh! monhé!
Ele não sabe como é o pessoal daqui, gostam de tratar toda a gente por igual e não há ninguém que não tenha um petit-nom. Agora, tem ali um inimigo. Já não lhe bastava ter acabado com os fiados, de que o Albano era o mais fiel cliente.
Bem, mas o que eu vos queria dizer é que ando muito reticente em voltar a comer ou beber qualquer coisa no café do Mohandas. Eu conto porquê.
Ele manteve a tradição de ter algumas travessas com bolos e salgados, especialmente pastéis de feijão, pataniscas e empadas, em cima do balcão. No tempo do Venâncio as pessoas serviam-se à vontade, mas o Mohandas, da primeira vez que alguém ia tirar um pastel, fez cara feia e disse:
-Não tira. Pede a Mohandas, e Mohandas dá com o pinça.
E serviu a visada com a pinça que tem sempre ali à mão.
Desde aí, começaram a gabar-lhe a higiene, até porque, ainda por cima, ele anda sempre de luvas calçadas, e realmente aquilo de cada um deitar os garfos ao que estava exposto, não era muito limpo. Mas o tipo ontem apareceu-me com um cordel atado ao pescoço, que lhe descia pela frente e desaparecia pelas calças. As pessoas estranharam aquilo, que eu notei pela cara delas, mas ninguém disse nada. Mas eu estava em pulgas para saber o que aquilo era. E quando só lá estava eu e a Otília, esta, que é uma cusca do caraças, adiantou-se-me e perguntou:
-Oh! sr. Mohandas, para que é o cordel?
Ele ficou um bocado embatucado, mas lá conseguiu dizer
-É quando Mohandas quer fazer urinar, abre barguilha, e cordel está preso a órgão de Mohandas, é só puxar para fora, não precisa tocar em órgão.
A Otília ia caindo para o chão. Engasgou-se, mas ainda conseguiu dizer:
-Bolas! Isso é o cúmulo da higiene.
E saiu muito vermelha.
Mas eu fiquei com a pulga atrás da orelha, e perguntei-lhe:
-Então, e depois como é que volta a meter o órgão para dentro?
-Ora, com o pinça, claro!
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Bem, já fui comprar uns excelentes calções de banho de marca ao Continente, amarelos com umas ramagens verdes muito discretas, que me custaram 7,5€ e uma toalha do melhor turco, com a Pamela Anderson como aparecia nas Marés Vivas, mas sem fato de banho vermelho, e que me custou 5,45€. Enfim, está tudo pela hora da morte e ainda tenho que comprar umas chanatas daquelas tipo havaianas, o que quer dizer que a praia este ano me vai custar os olhos da cara.
Mas ao menos vou fazer um vistaço. Oxalá a Elisa não fique ciumenta!

Escrito por: VdeAlmeida, em 6/21/2005 01:42:00 da tarde | Permalink | |


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