Espreito-te
quase às escondidas
como se fosse um voyeur
dispo-te com o olhar
e este olhar dissimulado
é sempre um olhar renovado
O adivinhar-te de um gesto,
o movimento ondulante
de garça ou de pantera
cuidadoso, lento até
sempre elegante, quase fera
emboscada e bem atenta
à vitima que sucumbirá
de bom grado, sem protesto
E há essa curva insinuante
que te marca o dorso, o ventre
que me atrai, abelha e flor
e que nem por um só instante
me deixa o olhar distante
e que me insinua no corpo
as várias dimensões do amor
tal como me desperta a paixão
com ímpeto, sem pudor
Ironizando diria que carecia um colírio
que me toldasse a visão
e ao mesmo tempo, na leva
me afastasse o delírio