Novos Voos - Take Two

quarta-feira, setembro 29, 2004
Querido Diário - XV

Lá terá que ser, não é? seus cuscos que querem saber a minha vida toda. Queria ver se tivessem binóculos!!
Bem, antes de mais, deixem-me confessar que sou abstémio. Não que tal seja grande qualidade, digo-o porque tem importância no desenrolar do que vos vou contar.

Decidi levar a Elisa a um restaurante brasileiro chamado "Mi deixe trincá sua picanha" que ao serão tem música ao vivo. Verifiquei que as coisas não iam correr bem quando me apercebi que a Elisa, emborcou 3 caipirinhas antes de começarmos a jantar.
Nem imaginam, depois a acompanhar a feijoada e a picanha bebeu mais uma garrafa de vinho verde Alvarinho (senti uma arritmia quando vi o preço). Precisamente na altura em que metia um copo de água à boca, a Elisa descalçou-se e meteu-me o pé pelas calças acima. Espirrei a água pela boca, pelo nariz e fiquei com um mau estar que nem vos conto. O empregado lá limpou tudo, mas com má cara, que a Elisa já tinha ido três vezes à casa de banho compôr a pintura, e por causa das caipirinhas já não ia muito a direito, esbarrou por duas vezes com ele, que deixou cair duas travessas de picanha. E havia clientes a queixarem-se com o cheiro que ela deixava pelo caminho. Bolas, também já era embirração, ela nem cheirava assim tanto.

Mas o grande problema foi quando um baiano começou a tocar viola. Ela levantou-se de imediato e foi direito a ele. Eu, prevendo o desastre iminente ainda tentei impedir, mas não fui a tempo. Ela pediu ao rapaz para tocar uma "palhinha" e desatou a atacar o "Un bel di vedremo", da Madame Buterfly, em ritmo de samba. Fui um sururu monumental, e um tipo que ia a passar com uma caipirinha na mão, apanhou um cagaço tal, que entornou a bebida por cima de mim. Imaginem se eu levava o Armani! Fiquei com um pivete a álcool indecente.
Não vos vou maçar com o que se passou a seguir, mas comparado com aquilo, qualquer filme do Chuck Norris é uma comédia romântica. Cheguei a temer que fôssemos os dois linchados.

Mas, depois de pagar e apresentar desculpas, lá conseguimos sair, a Elisa não percebia o que se passava, coitada, não tem muito a noção da potência da voz que tem. Meti-a no carro e lá fomos para casa, muito mais cêdo do que previra. O pior foi para ela subir a escada. Ela bem tentava, mas as caipirinhas misturadas com o Alvarinho, não a deixavam subir. E eu atrás a servir de alavanca.A certa altura, quando ela descaiu dois degraus, fiz um esforço tão grande a empurrá-la, que desloquei uma omoplata. E foram umas dores do caraças, só vos digo. Mas como eu me queria era ver-me livre daquilo o mais depressa possível, (sim, que da maneira que ela estava, se tentasse mais alguma coisa, ainda me adormecia a meio), até parece que na altura nem senti a dor. Chegámos ao 3º andar, encostei-a à parede e procurei-lhe as chaves na mala, porque ela já estava meio adormecida. Meti-as na fechadura, mas aquilo não havia meio de abrir. Para abreviar, quando consegui e entrei na casa dela, senti uma pancada na cabeça, e não me lembro de mais nada.

Só no outro dia, no hospital, a Elisa, que estava com uma cara muito envergonhada à minha cabeceira quando acordei, me contou. A sacana da tia dela, quando ouviu o reboliço nas escadas, pensou que eram ladrões que sabiam que ela estava sózinha e a iam assaltar. Vai daí, quando entrei, deu-me com o martelo dos bifes na cabeça e foi essa a causa do meu desmaio. Quando viu o que tinha feito, lá chamou uma ambulância que me levou para o hospital. Ainda levei 5 pontos!
Entretanto a Elisa, tinha-me levado uma caixa de Mon-Chéries, não sei onde ela arranjou aquilo porque não os vendem no Verão, mas na altura nem quis saber, que aquilo é um vício e eu estava cheio de fome. Comi 8 de seguida. Não fiquei foi com um cheiro muito católico. E entretanto chegou o médico que me deitou uns olhos, que vou-vos contar:
- Você ontem chegou cá com uma grossura de todo o tamanho, todo amolgado, e tem a pouca vergonha de já estar borracho outra vez? E chamou a enfermeira para saber quem me tinha "passado" a bebida logo de manhã.
Pois, o tipo, por causa do cheiro da caipirinha que me tinham deixado cair em cima, pensava que as mazelas eram devidas a quedas que eu teria dado, sob os efeitos da bebida. A questão dos Mon-Chéries é que foi mais delicada de explicar.
Bem, o médico lá me deu alta, mas passou-me logo a receita para 12 sessões de fisioteraia por causa da omoplata, e recomendou-me moderação na bebida. E assim fui eu para casa, num estado muito jeitoso e com fama de piancho.

A Elisa foi muito simpática, mas eu durante uns tempos, quero é distância, que a tipa é como uma praga tão grande como o escaravelho da batata ou a peste suína africana. Cada vez que estou com ela, acontece-me alguma. Pode nem ser culpa dela, mas acho mesmo que me dá azar e eu nem sou supersticioso!
Portanto, disse-lhe que era melhor estarmos afastados uns dias, e dei-lhe como desculpa o que a tia me tinha feito. Ela não queria, chamou-me nomes fôfos, mas lá acabou por aceitar, de lágrimas nos olhos quando lhe perguntei se me queria ver estropiado de vez. Acho que esta breve separação só nos vai fazer bem. Tenho os binóculos, para a ir vendo de longe nos seus exercícios de gorjeio em fio dental e wonderbra.

*****


Mas não sou só eu que ando de baixa. Ontem, vi o Simões de muletas e já tinha visto a Etelvina com os olhos todos negros e com os dois braços engessados. Fiquei admirado, já não via o Simões desde o episódio da Ralph Lauren falsificada, mas como passou na brasa, nem tive tempo para lhe perguntar o que lhe tinha acontecido. Nunca tinha visto um gajo de muletas a andar tão depressa.
Mas tive logo a resposta. O Leonardo que levou o barrete da Ralph e marido da Etelvina, estava ao pé de mim e disse:
- Já viste o Simões?
- Já. Anda de muletas.
- Pois. Fui eu que lhe dei um enxerto, a ele e á vaca da Etelvina. Na 6ª feira estava muito cansado, de maneiras que fui mais cêdo para casa e fiquei admirado por a Etelvina estar vestida com o baby-doll cor de rosa que ela só usa em dias de festa, e deitada na cama, assim como quem quer festa, percebes? Mas eu não estava para ali virado, e deixei-me cair na cama vestido e tudo. Mas a cama está velha e como sabes, peso 120 kg. De maneiras que aquilo partiu-se e lá de baixo veio uma voz : AI!! E vai daí eu perguntei: Que é isto??? Quem está aí? e a voz respondeu-me: É o penico!!. Vê lá, era o sacana do Simões a ver se me emdrobinava outra vez. Julgava que eu me esquecia que nós lá em casa já não pomos o penico debaixo da cama há mais de seis meses.

*****


Aqui há uns tempos, ainda morava na casa antiga, contei-vos das preocupações da Clotilde, que é minha vizinha, lembram-se? Eu recordo-vos. Encontrei-a no Largo do Rato e que se vinha com umas grandes olheiras e ar muito apreensivo
- Então? Que se passa? Pareces preocupada.
- Nem me fales! Acho que o Renato arranjou uma gaija! (O Renato é o marido da Clotilde e são meus amigos há anos)
- O quê? Mas que disparate é esse?
- Acho mesmo. Comecei a desconfiar há uns tempos. Ele que foi sempre de cumprir horários, começou de repente a fazer muita hora extraordinária, mas nem se reflectiam no ordenado, nem nada. Dizia que era obrigado, que é a pressão. Mas desconfiei mais, quando começou a faltar a certas coisas. Percebes, não percebes?
- Pois! E então?
- Então, ontem como me disse que fazia extras, fui para uma esquina ao pé do emprego dele, e à hora da saída saíu mesmo! Fui atrás dele sem ser notada, e encontrou-se com uma gaija e foram os dois para uma pensão ali no Arco do Cego. Fui atrás e consegui subornar a dona da pensão com duas notas de 20€, a troco das quais me disse que quarto tinham alugado. Ainda bem que a pensão era de 4ª categoria, porque tinha daquelas fechaduras antigas e eu pude espreitar tudo. Vê lá, os gaijos começaram a despir-se, ela foi mais rápida, e ele às tantas tirou aquele cuecão dele (A propósito, não percebo como vocês conseguem usar boxers, ficarem com aquilo tudo ao pendurão, o Renato diz que os slips lhe apertam demasiado a fruta). Mas como ia dizendo, ele tirou as boxers, e atirou-as pelo ar como costuma fazer em casa. Queres acreditar no azar? Não é que a porra das cuecas ficaram penduradas na maçaneta da porta e não me deixaram ver mais nada?
- E então?
- Então? Então? Agora aqui ando eu nesta incerteza!

Pois já há novidade sobre o assunto. Mas isso fica para a próxima vez.

Escrito por: VdeAlmeida, em 9/29/2004 10:20:00 da tarde | Permalink | |


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