Hoje, quando te olhei da minha janela, como faço todos os dias logo pela manhã, estavas diferente. Estás sempre diferente, a cada dia, a cada hora, a cada momento mudas, mas és sempre o meu Tejo, o rio com que cresci.
Todos os dias me beijas longamente os olhos,
Rio meu, que me corres em todos os sentidos
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Esta névoa sobre a cidade, o rio,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo para perder,
esta névoa onde comeca a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau.
(Eugénio de Andrade)
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"E aqui estou eu,
ausente diante desta mesa-
e ali fora o Tejo.
Entrei sem lhe dar um só olhar.
Passei e não me lembrei de voltar a cabeça,
e saudá-lo deste canto da praça:
"Olá, Tejo! Aqui estou eu outra vez!"
Não, não olhei.
Só depois que a sombra de Álvaro de Campos se sentou a meu lado
me lembrei que estavas aí, Tejo"
(Adolfo Casais Monteiro)