Novos Voos - Take Two

quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Eu e a minha sombra
00000 Lucky_Luke


É inquestionável que este meu sítio é pouco intimo. Não sei se será a palavra adequada, mas o que quero dizer é que, daquilo que aqui escrevo, pouco transparecerá daquilo que sou. Isto é, procurei sempre manter alguma distanciação pessoal daquilo que aqui deixo, embora tal não resulte de uma posição premeditadamente defensiva, e sim de uma opção de estilo. Sempre fugi de confessionários, não ia agora eu próprio criar um.
Naturalmente que há sempre coisas que resvalam (ou se revelam), quem me lê há muito - e agora serão muito poucos, até porque as longas ausências não perdoam - sabe, por exemplo, que gosto de música e cinema, que não consigo passar muito tempo sem sair por aí em peregrinações mais ou menos ansiosas por estabelecer novas fronteiras, e mais uma série de coisas. Mas tudo isso foi deixado cair com naturalidade, decorrendo de uma convivência normal. Mesmo no que respeita ás minhas convicções mais íntimas, quem for atento saberá discorrer sobre algumas das minhas opções: é verdade que nunca anunciei simpatias políticas, mas em alguns posts ficou perfeitamente explícito para que zona do espectro recai a minha preferência, embora nesse aspecto, a minha atitude seja muito pouco estática.
É, pelo menos para quem me conhece, normal que não conseguisse dissociar totalmente o meu “eu” pessoal e diário, do meu “eu” que se assume neste espaço (creio que tal será mesmo impossível para a generalidade de quem se expõe num “sítio“ público). Poderia dizer esses dois “eus” serão como o Lucky Luke e a sua sombra, que têm os seus pontos de colagem, mas não são totalmente coincidentes - o Gosciny dizia até da figura por ele criada que seria “o cowboy mais rápido que a própria sombra”.
Contudo, há uns meses atrás comecei a sentir alguma fadiga, quem sabe por me sentir “seguido” dia após dia, por uma sombra que tomava quase como que por dever a tarefa diária de se sentar frente à “folha branca”, e soltar ali o que lhe apetecia. A certa altura, era como só estivesse a fazer prova de vida e senti-me cúmplice de uma situação com a qual não concordava.
Daí que resolvi espaçar a intervenção - é verdade, a preguiça natural, também ajudou muito - e assim, nos últimos tempos, as ausências têm sido prolongadas, não por uma questão de falta de tempo, mas por opção pessoal. Sem remorsos. Só não dei o golpe de misericórdia na minha sombra como fez o Lucky Luke. Nem nunca tal esteve nos meus planos. Tratou-se mais de uma licença sabática que agora, espero, chega ao fim.
Até porque me voltou a vontade de escrever umas coisas.

Nota - Menciono aqui o Lucky Luke porque é um personagem com o qual me identifico de alguma maneira, e principalmente, que admiro porque consegue livrar-se dos vícios (ou hábitos) de um momento para o outro, como ficou claro no caso do tabaco. É óbvio, que não nutro a mesma simpatia por outras figuras da BD. Pelo menos nunca apanhei nenhuma bebedeira tão grande que me fizesse apresentar em público com as cuecas vestidas por fora das calças.

Etiquetas: ,

Escrito por: VdeAlmeida, em 2/08/2007 02:40:00 da tarde | Permalink | |


0 Comments:


Estou no Blog.com.pt