Ao reler uma Antologia Poética de Natália Correia, deparei-me com um poema, mordaz, que a poetisa dirigiu a um deputado que me excuso de referir o nome - ela o faz - , originado por tomadas de posição diversas em relação ao aborto . Penso que terá sido a primeira vez que essa problemática terá sido debatida na Assembleia.
Agora, passados 22 anos, é curioso verificar que ainda há quem mantenha as mesmas posições retrógradas sobre o assunto, e que ainda haja mulheres presentes a tribunal por terem cometido a "infâmia".
" O acto sexual é para fazer filhos" (sic), disse o tal deputado
Aqui fica então a resposta de Natália à hipócrita declaração
"Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino
preciso e imaculado
fazer menino ou menina;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado"
Pintura de Tamara de Lempicka daqui