Não há mais cartas de amor
Não mais as vais receber
Assim, vais ficar certa que
Não há mais nada a dizer
Que tudo já foi dito
Que já não me inspiras.
Que as tentativas
saem todas frustradas
Que é tudo em vão
Que as minhas musas
já não existem
Matei-as todas
e enterrei-as
com uma destreza
inhabitual
Num canto escuro
da minha imaginação
Nada, não há mais nada
É o vazio absoluto
E mesmo assim,
Ao arrepio da pesada decisão
Ainda pego nesta carta
Para te mandar
Estas linhas a dizer-te
Que o céu está liso
Mas eu tenho a alma de luto
E agora, com tudo
medido e decidido
Afinal a conclusão
a que chego
É a de que sou um
Mentiroso compulsivo
De que sou
Uma mistificação
"Apaixonamo-nos. Desatamos a escrever cartas insensatas que, dificilmente, têm uma resposta. Escrevemo-nos para dizer, um ao outro, que jamais será possível voltar - juntos e em silêncio - ao lugar da noite onde nos destruímos e tentámos refazer a vida "
Al Berto
Foto daqui