Nunca consigo entender
Porque há-de o homem sofrer
Desta maldade suprema
Que é medir cada segundo
Que ainda tem para viver
Tanto que nós nos queixamos
Que o tempo nos foge
Entre os dedos
Que para rir, para amar
precisamos
De tempo, tempo e mais tempo
E para viver e sonhar
É sempre pouco o que temos.
Não nos basta a todos já
que o dia à noite suceda
em imparável sucessão
Dando-nos assim a noção
Fatal e inevitável
Que quanto mais os dias correm
Menos tempo a nós nos sobra
Para o que é indispensável
Para que haveremos então
De o querer encerrar
Numa caixinha metálica
Para o analisarmos, medirmos
Até à ínfima fracção?