Na vida, tenho algumas convicções e poucas certezas. Destas, uma das que mantenho há muito tempo, é a de que Peter O’Toole é o maior actor que até hoje vi no cinema. Esta é uma certeza difícil, principalmente para quem tem uma memória cinematográfica vasta. E quando se não esquece de Tracy ou Brando, Gary Cooper ou Laurence Olivier, Nicholson em Voando sobre um ninho de cucos e Chinatown, ou de De Niro em Touro Enraivecido, e tantos outros actos de representação inolvidáveis, convenhamos que tem que ser uma fé inabalável.
E vem ela desde a tarde em que me sucedeu algo insólito. Já vi algumas dezenas ou centenas de filmes empolgantes, mas só na tarde em que assisti a Beckett não me levantei no fim do filme. Permaneci na cadeira aturdido, mas mais, com uma enorme vontade de ficar para a sessão seguinte, que infelizmente já se encontrava esgotada. Não considero o filme, apesar das, suponho, 12 nomeações para o Óscar, melhor que alguns outros da época, como o “cruel diálogo” titulado O Leão no Inverno. Mas se neste, a actuação de O’Toole num “tête-à-tête” louco com Katherine Hepburn é soberba, a sua performance em Beckett, no papel do Rei Henrique II é absolutamente esmagadora e Richard Burton (Beckett), então no auge da fama (merecida) e que encarna a personagem de Beckett, é completamente subalternizado por O‘Toole, apesar de, terem sido ambos nomeados para o Óscar de melhor actor, nesse ano de 1965 ganho por Rex Harrison, em My Fair Lady (da lista desse ano de ouro fazia também parte Peter Sellers, em Dr. Strangelove e Anthony Quinn, no seu papel definitivo de Zorba).
Ora quando um actor não ganha o Óscar depois de uma representação daquelas, é certo que nunca mais o ganhará. Já tinha sido assim em Lawrence da Arábia (apesar do Óscar atribuído ao filme), voltou a ser no O Leão no Inverno, apesar do Óscar ganho por Katherine Hepburn. E assim foi mais uma mão cheia de vezes até aos dias de hoje.
Este ano estava mais uma vez nomeado pelo seu desempenho em Vénus. O filme segundo as críticas (ainda não vi), é fraquinho, mas O’Toole estando novamente em grande forma, foi mais uma vez preterido.
Mas que diabo, já alguém acreditará na isenção daquele colégio de senhores que distribui os prémios? Muitos dirão que um Óscar não tem assim tanta importância, nem será a aspiração suprema de um actor a sério, mas mesmo assim…
Confesso: tenho pena que ele em 2003 não se tenha recusado a receber o Óscar Honorário, porque o que ele fez no cinema merecia muito mais que um prémio de consolação.
King Henry II - Não receies, Bispo. Não procuro absolvição. na consciência, tenho algo mais grave que um pecado: um erro!
Nomeações para o Óscar de melhor actor:
- Lawrence of Arábia - 1963
- Beckett - 1965
- O Leão no Inverno - 1969
- Godbye Mr. Chips - 1970
- A Classe Dominante - 1973
- The Stunt Man - 1981
- My Favourite Year - 1983
- Venus - 2007
Nota: - Estranhamente, pelo menos para um filme que tendo tido 12 nomeações para os Óscares não deveria ser considerado uma obra menor ou ignorado, nunca o vi editado em VHS ou DVD.
Rui Luís Lima