Há uns dias, alguém que me é muito chegado disse-me que ia com o marido ao cinema, e eu, como a curiosidade habitual perguntei-lhe o que iam ver. “Hannibal - A Origem do Mal”. E eu pensei cá para comigo:”Blheca!!! Ora aí está um que eu não ia ver nem que me pagassem”.
Sabendo-se que Anthony Hopkins é um dos actores que mais admiro, a reacção até poderia parecer estranha, tanto mais que o primeiro filme em que ele vestiu a pele de H. Lecter, “O Silêncio dos Inocentes” é um dos meus preferidos da década de 90. Só que…tive o azar de ver o segundo da série “Hannibal“, e sinceramente, se a cena da execução do personagem encarnado por Giancarlo Gianini, pela crueza, me revolveu um bocado o estômago, aquela parte em que o Hopkins frita um pedaço do cérebro do Ray Liotta e lho dá a provar enquanto o mantém em anestesia parcial, foi demais, e aí desliguei o leitor de DVD (ainda hoje bendigo a decisão de não o ter ido ver ao cinema). E desde então, aquela cena vem-me à cabeça uma vez por outra, o que já é suficiente para se tornar inquietante. Tem nele origem uma recente apreensão minha em relação às anestesias. E digo isto porque tendo, anteriormente ao fatídico visionamento, sido submetido a duas e gerais, sempre fui para elas sem preocupações de maior, naquele espírito aberto de “Não há-de ser nada” ou “Que se lixe, se o sono for eterno, é da maneira que se me acabam as insónias”.
Ora se daqui para a frente algum médico me propuser uma intervenção que careça anestesia, a receptividade ao alvitre já não será a mesma de antigamente, já para não falar que desde essa altura penso sempre duas vezes quando recebo convites para jantar, porque pondero sempre na possibilidade de fazer eu próprio, parte da ementa.
Mas nem é essa a minha principal preocupação. Andei a consultar literatura avulsa sobre o tema e a questão é alarmante. Além dos “buracos” que uma anestesia cava no cérebro - o meu, com duas e uma delas prolongada, deve parecer um queijo Gruyére Cave Aged - há notícias de alteração de personalidade e aí reside o busílis da questão.
Por exemplo:
- já imaginaram o que era eu aparecer “esticado” e de sobrancelhas arranjadas como o António Calvário?
- já imaginaram o que era eu aparecer com um penteado igual ao do Engº Sousa Veloso, género boina, puxado da nuca para a frente?
- já imaginaram o que era eu tornar-me fã da Floribela?
- já imaginarm o que era eu tornar-me militante do PSD, ir a um jantar convívio e calhar-me ficar na mesma mesa do Alberto João da Madeira?
- já imaginaram o que era eu, passar depois a independente e ir a um jantar de desagravo ao Valentim Loureiro e ao Isaltino de Morais e tocar-me logo ficar ao lado deles na mesa de honra? (pelo sim, pelo não, nesta situação, não assinava nada que qualquer um deles me pusesse à frente)
- já imaginaram o que era eu sujeitar-me a ver a TVI, precisamente na altura em que a Manuela Moura Guedes imitava a Jessica Rabbit?
- já imaginaram o que era eu começar a fazer parte do núcleo de amizades do Castelo Branco e da Mummy Grafstein?
- já imaginaram o que seria aparecer de repente á vizinhança bronzeado como o Paulo Portas com o aspecto de usar Font de Tein “Accord Parfait” da L’Oreal?
Sim, há efeitos colaterais bem piores que o facto de ser inusitadamente comido.
Quanto às anestesias gerais. Tenho 4 em cima , tu queres ver que já tenho danos permanentes e ainda não dei por isso? (se calhar o alheamento da realidade é um deles :) )
Quanto aos teus efeitos. Como é que sabias que a MMG se vestiu de Jesssica heim? :)
Beijinhos amigo, bom fim de semana