Novos Voos - Take Two

quinta-feira, dezembro 09, 2004
Os sinos da minha Igreja

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"Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão..."


Lembro-me perfeitamente de, há muitos anos atrás, ainda gaiato, ouvir o João Villaret dizer este poema de António Lopes Ribeiro (vai só a 1ª quadra, que é extenso, mas podem-no sempre ler na íntegra aqui).
Não sei se pela forma como o João dizia, se pela essência do poema, aquilo fascinou-me, era quase como se voasse para a pequena aldeia de onde vieram as minhas raízes, tudo aquilo que ele dizia me era familiar. E exacto. A verdade é que cada vez que o escutava, via-me ali, no adro da igreja a assistir à procissão, e a divertir-me com toda aquela envolvência especial.
Eram os cheiros do rosmaninho e do alecrim que me assomavam ao nariz, o barulho dos foguetes que espantavam a canzoada, o desfilar aos olhos da minha imaginação da banda aprumada ao amanhecer e amarrotada, descomposta à tardinha, o padre, suado, sempre zangado, o sacristão, atrás, mais solícito que um cão. As inefáveis e inevitáveis beatas que constituíam o adulador séquito do cónego, as meninas que não podiam faltar, as mais novas de peúgos brancos, as outras, apresentando os vestidos feitos propositadamente para a ocasião e com vista a servir de isco a eventual namorado, sim que aquilo tudo tinha muito pouco de religioso.

Porque é que me lembrei disto agora? Porque hoje passei no largo da Estrela, onde luz uma das mais belas igrejas que conheço, a Basílica, e à sua frente lá estavam alinhados os seus magníficos sinos, acabados de chegar do restauro e com tudo já a postos para ocuparem o lugar que é o seu.
Nunca os tinha visto tão de perto. O seu tamanho impressiona e não resisti a apear-me, vê-los ainda mais de perto e tirar-lhes umas fotografias.

Na verdade, tinha-lhes sentido a falta, do seu badalar intenso que desperta todas as imediações para exéquias a que ninguém assiste a não ser quando em cãmara ardente jaz alguém conhecido e em que a comparência é recompensada com uns segundos na TV ou uma foto desfocada num jornal qualquer.

Agora como na altura, o adro da igreja é uma feira de vaidades. A aldeia é que é maior.

Mas tinha saudades dos sinos da minha Igreja.

Escrito por: VdeAlmeida, em 12/09/2004 07:07:00 da tarde | Permalink | |


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