””A minha vida dava um filme”, é uma espécie de frase feita, que muitos utilizam – nalguns casos com alguma dose de megalomania – e que, no meu caso, seria notoriamente um exagero, uma vez que, até hoje, e fora um ou outro facto mais notável para mim, mas pouco relevante na organização do universo, a minha vida tem sido linear, simples e pouco digna de registo.
No entanto, os filmes, tal como a música e os livros, têm sido sempre uma parte integrante e muito importante nela. E tanto, e tantos são eles, que tenho sempre alguma dificuldade em nomear algum. Terão reparado, que, por exemplo, em relação à rubrica Música à 3ª, tenho referenciado discos com alguma distância no tempo. Essa tendência tem sido deliberada, uma vez que, sabendo que os bloggers aderentes são maioritariamente mais novos que eu, seria interessante dar-lhes a conhecer obras, que a não ser aasim, talvez delas não tivessem conhecimento. O mesmo no que diz respeito aos filmes, embora no caso vertente, me pareça que serão poucos os que ignoram a obra que hoje aqui trago.
A Laranja Mecânica é provavelmente o filme maior de um cineasta exemplar, cuja obra sempre atingiu níveis estratosféricos. É um filme inquietante, visionário, que serve de alerta para os perigos de controle do indivíduo por parte dos poderes instituídos. É um filme actual, porque a tentação policiaria dos governos, é sempre actual, e a inventiva censória, não tem limites. Qualquer excesso é usado para justificar meios radicais de controlo de uma violência que, individualmente, será sempre menos perigosa que a de um estado organizado. É a censura levada ao extremo, neste caso, totalmente castrante dos impulsos e índole do indivíduo.
O filme é também servido por uma banda sonora surpreendente, que ajuda à atmosfera inquietante da fita, imaginada por Wendy Carlos (ex-Walter Carlos), e maioritariamente baseada na obra de Beethoven, constituindo, na minha opinião, uma das melhores bandas sonoras de sempre. A ouvir, independentemente do visionamento do filme, que deve ser feito com todos os sentidos alerta.
A Clockwork Orange