Novos Voos - Take Two

quinta-feira, janeiro 05, 2006
Patchwork
Penetraremos no palmar
A água será clara o leite doce
O calor será leve o linho branco e fresco
O silêncio estará nu – o canto
Da flauta será nítido no liso
da penumbra
Lavaremos nossas mãos de desencontro e poeira
(Sophia de Mell Breyner, in O Nome das Coisas)

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E olhando o nascente sol de Inverno
dança-me a vista aguardando a Primavera
como se a vida fosse toda ela espera

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O que tens, o que temos,
que se passa connosco?
Ai, o nosso amor é uma corda dura
que nos amarra, ferindo-nos,
e, se tentarmos
livrar-nos da ferida,
separar-nos,
dá outro nó e condena-nos
a viver sangrando, a queimar-nos juntos. [...]
(Pablo Neruda, in Os Versos do Capitão)

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Haverá ainda um tempo para o amor?
Não se esgota todo ele numa estação
e se dissolve, desabrido na vertigem
do desejo, da luxúria e da paixão?

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O seu companheiro de vigia, via-o percorrer com a lupa os sinais arrumados no livro.
- É verdade que sabes ler?
- Alguma coisa.
- E que é que estás a ler?
- Um romance. Mas cala-te. Se falas, a chama mexe-se e mexem-se as letras.
O outro afastou-se para não estorvar, mas era tal a atenção que o velho prestava ao livro que não suportou ficar-se à margem.
- De que é que trata?
- Do amor.
Perante a resposta do velho, o outro aproximou-se com renovado interesse.
- Não me lixes. Com fêmeas ricas, das que fervem?
O velho fechou o livro num repente fazendo tremer a chama do candeeiro.
- Não. Trata-se do outro amor. Do que dói.
(Luís Sepúlveda in, O Velho que lia romances de amor)
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Se o amor fosse porventura conjugável
com o azul do céu...
mas não, há sempre o coração
inconveniente, tonto, incontrolável
que na sua soberba independência
bate á revelia de qualquer conveniência

Ten New Songs


Leonard Cohen – A thousand kisses deep
Escrito por: VdeAlmeida, em 1/05/2006 09:49:00 da manhã | Permalink | |


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