Novos Voos - Take Two

quarta-feira, junho 09, 2004
História sem Moral
Julio foi condenado a 15 anos de prisão por um crime, diz, que não cometeu. O cariz de tal crime não será enunciado, por desprezível
Os primeiros 5 anos foram passados na sua cela individual, pequena, com uma minuscula janela gradeada, onde mal cabia o enxergão onde dormia, com uma saída diária de meia hora para um pátio, onde passeava e trocava esporádicas palavras com os companheiros de reclusão. Fora a altura das refeições, o tempo passava lentamente, e isso para ele, que sempre fora homem de mil e uma distracções era o que mais o torturava.
Até que um dia um clarão intenso de luz veio iluminar a sua vida. Descobriu que tinha uma companheira de cela. A princípio mal deu por ela, mas quando conseguiu, à custa de algum sacrifício pessoal, arranjar uma lupa, confirmou a sua feliz suspeita: havia uma pulga que o acompanhava na reclusão.
A partir desse dia foi como se iniciasse uma nova vida. Passou a dedicar à sua companheira toda a sua atenção e o pequeno animal correspondia. Começou a ensinar-lhe pequenas habilidades, até que, com alguma paciència lhe conseguiu arranjar uns pequeníssimos sapatos de sapateado e lhe foi ensinando uns passos de dança. Aos pouco foi-lhe fazendo um mínusculo chapéu, uma ainda mais minuscula bengala e um asas-de-grilo a condizer. Aos poucos a coreografia foi-se tornando mais complicada, até que, ao fim de vários anos, o pequeno ser já era protagonista de um número muito bem conseguido, de grande qualidade artística.
Faltava então a Júlio um ano para sair em liberdade. Esse tempo foi passado em grande impaciência pelo homem, desejoso de mostrar ao mundo a sua obra. A pulga, dormia descansada na caixa de fósforos que o dono lhe tinha arranjado como casa e apurava-se nos ensaios.

No dia da libertação, Julio exultou. Pegou numa pequena mala com as poucas coisas que possuía, meteu a caixa de fósforos com o seu animal amestrado numa algibeira, e saíu rápido da prisão, mal se despedindo dos companheiros, a quem nunca desvendara aquilo em que se empenhara nos ultimos dez anos da sua vida. Correu para o café mais próximo e sentou-se ao balcão.

Chamou então a atenção de um individuo que ocupava o lugar ao lado e disse-lhe, ao mesmo tempo que abria a caixa de fósforos deixando sair a sua pulga, a qual imediatamente adquiriu uma postura erecta, indicativa de que o espectáculo se iria iniciar:

- Amigo, já reparou? Olhe aqui esta pulga!

O outro apurou a vista e exclamou:

- Olha! Pois é!

E foi então que apoiou a unha sobre o pobre animal e...TCHACK!
Escrito por: VdeAlmeida, em 6/09/2004 09:32:00 da manhã | Permalink | |


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