Oije voltei cá todo sastefeito porcagora já teinho um amigo meu, o Ojevaldo que me currije os testos prutanto já escuzam de me andar a mandar meiles a dizer que eu só dou errus e que não precebem nada do que eu vus conto. Mas não çademirem que passe algum pruque ele vê mal e nestas coisas sempre passa qualquer coisa.
O Ojevaldo primo do meu pai que tem uma drugaria e tinha um cágado xamado Cágado e era a mascote da loija e tem bicus de papagaio e anda um bocado curvado lá pela loija mas foi prucausa deles que ele se casou à pouco tempo com a Jaquina que agora é minha prima. É que a Jaquina tem um quintal que dá para as trazeiras onde pelanta couves, alfasses e tumates mas os páçaros, como os tumates dela cumeçam logo a tomar cor e são sempre munto vermeilhos, comemlhus todos. Mas a vizinha dela também os pelanta e estão sempre bunitos cumócaraças. Então a Jaquina preguntoulhe como é que ela fazia e ela contoulhe que tinha comprado umas bolas de chumbo na drogaria e depois as tinha pintado de encarnado que pareçiam mesmo tumates e os tinha posto nus canteiros e então os páçaros tinham lá ido picar e maguaram o bico e nunca mais voltaram. E então a Jaquina tambeim quis ver se conseguia ter uns tumates de jeito e foi à drugaria e perguntou ao Ojevaldo que estava todo dubrado atrás do balcão se ele tinha tumates de chumbo e ele respondeu que não, que eram bicos de papagaio.
Mas á coincidências, como diz a Margarida Rebelo Curreia, e aquilo foi o cumeço do namoro e depois do cazamento e paresse que são munto felizes o que eu axo esquizito pruque ele tem 78 anos e ela 29, a ele já lhe caiu o cabelo quase todo e a ela ainda lhe continua a creçer o bigode. E nem preçebo como ela o consegue indireitar na cama. Agora o que eu axo mesmo estranho é que desde que se cazaram no mês paçado todos os dias têm purblemas de iletriçidade pruque o Jarónimo que é iletricista vai lá todas as tardes logo que o Ojevaldo vai para a loja depois du almoço.
A minha mãe é que diz que aquilo é um cazo de amor munto bonito mas já dizia a mesma coisa de quando o Guedes andava cua Etelvina e depois viusse quando ela fugiu com o gaijo dos Correios.
Eu emcima diçe que o Ojevaldo tinha um cágado pruque já não tem. Era munta grande e munta feio, como andava sempre a arrastarçe pelo xão andava çempre munto sujo e o Ojevaldo não o lavava. E eu há dias tive pena do bixo peguei nele e meti-o numa baçia cheia de água com lichivia para ver se ele ficava branquinho e comecei a esfregar com palha dasso e o cágado começou a deitar bolhas pela boca e fexou ozolhos e nunca maizozabriu. Aicho que o cágado era alérgico à água, mas pelo sim pelo não que já é costume culparem-me de tudo, amandei-u pela pia senão ainda diziam que tinha çido eu o culpado por ele ter batido a bota. Agora o Ojevaldo anda çempre de cu para o ar à procura do cágado. Só espero que a pia não intupa, senão lá fico eu umas poucas de semanas sem ver os beibeleides pruque çó eu é que lá entro e eles não vão acreditar quando eu lhes diçer que secalhar o Cágado tinha tido vontade de çe çervir da pia. Beim, mas vem aí o Carnaval e eu já disse que me quero mascarar de Zorro para usar uma ispada (que já cá teinho) e uma máscara preta, que eu já ando de olho no Black que é o cão do Silva da padaria, para me servir de cavalo e o Beto para fazer de Tonto e o Barnardo, que é um puto gordo que mora aqui ao lado, para fazer de çargento, mas ele não quer, mas eu não tenho mais ninguém para fazer de çargento prutantos ele vai ter que çaguentar á bronca e levar umas espadeiradas senão nunca mais o deicho ficar çózinho com a minha prima Amélia a brincar aos médicus e às donas de casa
O meu pai é que não anda munto convençido. Mas ele é munto esquizito e faz um bixo de sete cabeças de tudo. Vejam lá que ele não uza roupa interior e noutro dia ele estava a vestir as calças de ganga da Leves quando eu peguei no ferro ilétrico com que a minha avó friza o cabelo que fica sempre que parece a madame Pompadur que eu não sei quem é mas é o que o meu pai diz e estava ligado, e ia-u meter no aquário porque vi que a água estava fria demais para os peiches que andavam todos de olhos arregalados e ele viu e curreu para mim não sei pruquê mas ao mesmo tempo puchou o fecho éclér das calças com forsa e intalouçe. Não çei o que é que ele intalou mas amandou um berro e disse um grande palavrão que até acurdou o vizinho do treceiro andar que é polícia e trabalha pur turnos e que curreu pelas escadas em cuecas de caçetete na mão mas que se esqueceu de pôr o capaxinho e agora toda a gente sabe que aquela cabeleira farta que até parecia a minha tia Guilhermina que até tem pelos nas orelhas e eu não gosto nada que ela me beije pruque fico todo lambusado e com a pele da cara toda xeia de impinges, afinal não era dele e agora já ninguém lhe tem respeito nu prédio e ele não fala com o meu pai que anda há duas semanas de perna aberta que até parece que se sentou numa cadeira de pregos. A minha mãe até lhe comprou uma almofada em forma de “O” que ele trás çempre com ele. E eu nunca mais vi os beibeleides. Como se eu tivesse tido culpa de ele se ter intalado. Só se foi os peiches terem ficado esturricados, mas foi sem querer que eu só queria aquecer a água, axo que o ferro de frizar é que istava avariado.
Mas está deçidido: vou mesmo de Zorro. Até já tenho espada. Ando ançioso por esperimentar o novo atissador da lareira que o meu pai comprou na peida do Barnardo
Carlinhos