A Esplêndida está de volta!
Mestre Woody encontrou a sua Diva definitiva.
O recente referendo trouxe consigo, não só a importância intrínseca que lhe era concedida pelo tema, mas também pela preocupação provocada por nele se terem mantido níveis elevados de abstenção, pouco menos acentuados que os anteriores.
Tenho prestado a devida atenção e já vi aduzidas inúmeras razões para que tal se tivesse verificado: porque para algumas franjas da população a importância do assunto não valesse a deslocação e a consequente maçada em filas, supostamente à frente ou atrás de alguma revolucionária sufragista, ainda por cima quando há sempre, em caso de "azar", o pretexto de ir uns dias a Londres, aproveitando-se para umas compras no Harrod's, outros porque terão ficado indecisos entre obedecer á razão ou ao padre da aldeia, outros ainda, principalmente homens, porque acharam que aquilo era "coisa de gaijas", e ainda outros como o meu amigo Adalberto que achava que todas as hipóteses deveriam ter sido contempladas e que portanto, faltava o quadrado para o “talvez” - dizia ele que no Totobola também não há só o 1 e o 2 .
Também, e este é importante, foi referido várias vezes que o instituto do referendo não se tinha ainda enraizado nos hábitos da população (é curioso e será ignorância minha, mas nunca lhe tinha ouvido chamar “instituto”, deve ser moda, como as “boutiques”, sim que aqui ao pé de mim já há a “Boutique do Café”, “Boutique do Pão”, “Boutique Doce” e até a Glória anda a pensar chamar ao lugar que tem na praça da Ribeira “Boutique da Sarda e do Chicharro”, e só espero que o sr. Adão que tem uma loja na rua do Arsenal não se lembre de mudar o nome da casa centenária para “Boutique do Bacalhau e do Pexelim”).
Ora a verdade é que se têm efectuado referendos em algumas vilas ou aldeias a propósito de assuntos locais, e os mesmos têm tido a participação massiva das populações, como por exemplo, aquele que definia se se podia ou não construir um ringue de patinagem (salvo erro) ao pé do Centro Paroquial (a propósito, a resposta foi um “Não” rotundo) O que quer dizer que o móbil do referendo tem muita importância. A verdade, como fica demonstrado no exemplo acima, é que a questão do aborto é risível quando colocada face a uma problemática que envolva o ambiente salutar e bento de um Centro Paroquial.
Outra questão é a do hábito. Como há poucos referendos, a gente desabitua-se.
É assim primordial, que os responsáveis tenham noção do que realmente é crucial para a população e que vulgarizem o “instituto do referendo”, de forma a torná-lo um hábito tão comezinho como arrotar ou coçar as partes em locais públicos.
E até já tenho ideia de alguns que poderiam concitar o interesse da esmagadora maioria da população. Por exemplo, não conheço lar - a não ser o meu - onde não haja uma guerra surda devido ao problema da tampa da sanita. Conheço até processos de divórcio despoletados por esta questão. Tampa para cima ou para baixo? Ora aí está uma questão que aposto interessaria a 10 milhões de portugueses.
Outro motivo susceptível de lançar aceso debate na sociedade é o da estética e utilidade do comprimento das unhas dos dedos mindinhos dos homens.
Outro ainda, e este crucial, o que diz respeito á questão de lavar ou não as mãos após a utilização das instalações sanitárias. O Amílcar, por exemplo, afirma que não tem nada que lavar as mãos, porque o pai o ensinou a urinar sem as salpicar. Ao contrário, o sr. Patele, paquistanês que tomou conta da leitaria da rua aqui acima, mal o fez, tomou logo a iniciativa de proibir a clientela de deitar a mão aos bolos e aos salgados porque “Patele não sabes onde andar essas mão”, portanto, toda a gente tem que esperar que seja ele a servir com a pinça dos bolos. Quem ficou com pouca vontade de voltar a desobedecer foi a Peida Gadocha, que levou uma tal mocada com a pinça nos dedos quando se preparava para deitar a fateixa a um croquete, que saíu de lá direita ao centro de saúde cá do bairro. (Só foi aborrecido quando se descobriu que o sr. Patele se servia da pinça para voltar a meter o Apolinário para dentro das cuecas depois de urinar, para não ter que lavar as mãos).
Portanto, eis aqui alguns temas para referendo, que por certo mobilizarão os portugueses:
- Tampa da sanita para Cima: Sim?___ Não?___
- É a unha do dedo mindinho comprida, esteticamente aceitável: Sim?___ Não?___ ;E será de ignorar a sua inegável utilidade: Sim?___ Não?___
- Deverá ser obrigatório lavar sempre as mãos após o cumprimento de uma necessidade fisiológica: Sim?___ Não?___
(Aqui, seria de questionar os defensores radicais do sim, de como proceder no caso da mesma ter sido efectuada na rua, contra uma parede ou um candeeiro, ou no campo, ao ar livre)
Aqui deixo alguns tópicos de reflexão, que, de tão prementes, espero encontrem eco junto das autoridades competentes.
Nota: - Aceitam-se outras sugestões.
É inquestionável que este meu sítio é pouco intimo. Não sei se será a palavra adequada, mas o que quero dizer é que, daquilo que aqui escrevo, pouco transparecerá daquilo que sou. Isto é, procurei sempre manter alguma distanciação pessoal daquilo que aqui deixo, embora tal não resulte de uma posição premeditadamente defensiva, e sim de uma opção de estilo. Sempre fugi de confessionários, não ia agora eu próprio criar um.
Naturalmente que há sempre coisas que resvalam (ou se revelam), quem me lê há muito - e agora serão muito poucos, até porque as longas ausências não perdoam - sabe, por exemplo, que gosto de música e cinema, que não consigo passar muito tempo sem sair por aí em peregrinações mais ou menos ansiosas por estabelecer novas fronteiras, e mais uma série de coisas. Mas tudo isso foi deixado cair com naturalidade, decorrendo de uma convivência normal. Mesmo no que respeita ás minhas convicções mais íntimas, quem for atento saberá discorrer sobre algumas das minhas opções: é verdade que nunca anunciei simpatias políticas, mas em alguns posts ficou perfeitamente explícito para que zona do espectro recai a minha preferência, embora nesse aspecto, a minha atitude seja muito pouco estática.
É, pelo menos para quem me conhece, normal que não conseguisse dissociar totalmente o meu “eu” pessoal e diário, do meu “eu” que se assume neste espaço (creio que tal será mesmo impossível para a generalidade de quem se expõe num “sítio“ público). Poderia dizer esses dois “eus” serão como o Lucky Luke e a sua sombra, que têm os seus pontos de colagem, mas não são totalmente coincidentes - o Gosciny dizia até da figura por ele criada que seria “o cowboy mais rápido que a própria sombra”.
Contudo, há uns meses atrás comecei a sentir alguma fadiga, quem sabe por me sentir “seguido” dia após dia, por uma sombra que tomava quase como que por dever a tarefa diária de se sentar frente à “folha branca”, e soltar ali o que lhe apetecia. A certa altura, era como só estivesse a fazer prova de vida e senti-me cúmplice de uma situação com a qual não concordava.
Daí que resolvi espaçar a intervenção - é verdade, a preguiça natural, também ajudou muito - e assim, nos últimos tempos, as ausências têm sido prolongadas, não por uma questão de falta de tempo, mas por opção pessoal. Sem remorsos. Só não dei o golpe de misericórdia na minha sombra como fez o Lucky Luke. Nem nunca tal esteve nos meus planos. Tratou-se mais de uma licença sabática que agora, espero, chega ao fim.
Até porque me voltou a vontade de escrever umas coisas.
Nota - Menciono aqui o Lucky Luke porque é um personagem com o qual me identifico de alguma maneira, e principalmente, que admiro porque consegue livrar-se dos vícios (ou hábitos) de um momento para o outro, como ficou claro no caso do tabaco. É óbvio, que não nutro a mesma simpatia por outras figuras da BD. Pelo menos nunca apanhei nenhuma bebedeira tão grande que me fizesse apresentar em público com as cuecas vestidas por fora das calças.
Etiquetas: Férias, Lucky Luke