Novos Voos - Take Two

quarta-feira, março 22, 2006
Selos e Filatelia
Todos nós temos interesses na nossa vida que raramente trazemos a público, nomeadamente nestes nossos espaços. Por exemplo, sabem todos do meu interesse na música, na leitura, no cinema, na pintura, mas nunca vos tinha aqui focado esta minha mania que hoje vos apresento: os Selos. E afinal, eles têm muito a ver (ou tinham) com o hábito da escrita. Mas também, e de forma bem vincada, com a pintura
Acho que toda a minha vida está ligada a eles, embora deles me tenha afastado a espaços. Voltando sempre, contudo.
A história do selo, estando ligada à história mundial do último século e meio, tem tido uma evolução curiosa, passando de forma de pagamento da circulação de correio, a modo de comemorar uma ou outra efeméride, a, com a proliferação das formas mecânicas de franquia, uma expressão artística para satisfação dos milhões de filatelistas que gostam de apreciar aqueles pequenos pedaços de papel lustrosos e coloridos.


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Na verdade, já é mais comum a franquia mecânica que o selo. E contudo, cada vez mais emissões de selos se fazem anualmente, quer em Portugal, quer a nível mundial. Ao mesmo tempo que instituições, públicas ou privadas, procuram que as suas datas significativas sejam perpetuadas em selo, os gabinetes artísticos esmeram-se cada vez mais na qualidade artística dos pequenos rectângulos picotados.
De tal forma o selo ganhou importância, que, suponho, poucos serão os artistas plásticos que, quando convidados pelos correios para serem os autores de emissões, recusam o convite.
E assim sendo, o certo é que o filatelista já não é só o coleccionador de selos, mas o possuidor de uma quantidade invejável de pequenas obras de arte, muitas delas assinadas por figuras gradas das nossas artes plásticas.
E esse é um dos motivos pelos quais, o selo português é um dos mais cotados a nível internacional.
Nota 1 - Os selos das fotos, foram lançados pelos CTT, hoje, Dia Mundial da Água. Parece-me que a criatividade é patente.
Nota 2 – A filosofia do filatelista, ou de alguns filatelistas, foi evoluindo com os tempos. De alguma forma romântica, o filatelista dos primórdios, tinha a paixão pela história que cada selo contava. Pelos carimbos, sabia-lhe o percurso, o tempo decorrido.
Mas o carimbo também se tornou, de certa forma, carrasco desta forma de coleccionismo. As marcas de dia pouco cuidadas, as tintas de óleo de péssima qualidade, acabavam por danificar de tal forma os selos, que os tornavam uma borrada ilegível. Por isso, a grande maioria dos filatelistas na actualidade, prefere o selo não circulado, ou o selo obliterado com o carimbo comemorativo de 1º dia, que é sempre aplicado de forma cuidada e de modo a valorizar o selo.



David Byrne & Marisa Monte – Waters of March
Escrito por: VdeAlmeida, em 3/22/2006 01:02:00 da tarde | Permalink | | ( 3)Comentários
terça-feira, março 14, 2006
A primazia da ausência
Flor de cerejeira


O dia era de primavera plena, luminoso, como estes que ultimamente têm pintado de sol a cidade. Convidava ao desfrutar do ar livre e eu fazia-o, sentado à sombra de uma árvore centenária, à entrada do Jardim da Estrela, gozando a brisa leve que corria, um livro no qual mal me concentrava e a preguiça que me abraçava.
Alguém se aproximou, vi-o pela sombra que se ia projectando no prolongamento do meu olhar, que alertado pela presença, se foi elevando na curiosidade de descobrir o intruso. Era uma cigana, mirrada de velhice, com um olhar penetrante e inquieto, e um sorriso a escapar-lhe pelos dentes ralos, e que em tom de desafio se propôs contar-me o meu futuro.
Sempre me recusara a saber o que me aguardava, não que não sentisse curiosidade em saber se um dia teria direito a tudo o que ia sonhando, mas porque o receio de que as coisas fossem diversas para pior do que eu imaginava, se sobrepunha a qualquer interesse na antecipação. Por isso, o “Não” surgiu redondo.
A velhota contudo, insistiu. Insistiu muito. E o dia preguiçoso não convidava a muita resistência, e como nestas coisas já sei que acabo por ceder, para evitar prolongar a teima acabei por lhe estender a mão, que ela agarrou, virando a palma para si. Estava lisa, precisamente o oposto das costas da mão dela, juncada pelos relevos das articulações e das veias escuras, que a idade aliada à magreza, ajudava a acentuar.
Ficou muda, e supus que estivesse a criar suspense, como é hábito nestas coisas. Mas não, largou-me a mão parecendo-me genuinamente assustada. Lançou um “não tem linha de vida, nem de coração, nem nada”, e foi-se com ar estranho e cabisbaixo.
Olhei a palma da mão, para lhe confirmar a falta de algo, mas pareceu-me a mesma de sempre. E no entanto, a velha fizera-me notar a ausência.
Já não voltei ao livro, e fiquei a pensar se aquilo teria a ver com as vezes que sonhava que não era eu,ausente de mim, como que vivendo uma vida paralela, observando tudo à distância. Por vezes, até acordado permanecia naqueles estados de alheamento, como nas vezes em que o ascético Vieira, meu estimado professor de História, me surgia por detrás, vindo nunca soube donde, e me batia levemente com a noz dos dedos na nuca, mesmo ao lado da orelha, ao mesmo tempo que perguntava num murmúrio “Já cá não estamos outra vez?”. Apanhava-me sempre.
Notei então que em mim, paradoxalmente, a ausência estava quase sempre presente.
Mas o que verdadeiramente me inquietava era o facto de nunca conseguir reassumir os pensamentos que ocorriam nesses lapsos de tempo, embora, por exemplo, tanto a floresta da Tasmânia como os jardins de Kyoto me fossem familiares, mesmo nunca lá tendo estado.
Como também não consegui concluir se as ausências de linhas na palma da mão poderiam ser responsáveis por esta aparente indiferença com que ultimamente trato os meus espaços, ausentando-me deles, tornando assim, mais uma vez, a ausência, uma presença assídua, deixando-a ter aqui, a primazia.
De qualquer forma, não acredito que não tenha pelo menos linha de vida.

Nine Horses

Nine Horses – Wonderful World
Escrito por: VdeAlmeida, em 3/14/2006 05:30:00 da tarde | Permalink | | ( 0)Comentários
terça-feira, março 07, 2006
On the Road Again
CannedHeat1


Canned Heat - On the road again

Mensagem subliminar...
Escrito por: VdeAlmeida, em 3/07/2006 02:17:00 da tarde | Permalink | | ( 2)Comentários
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